PRÓLOGO

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EULALIA ALLARD RECEBEU uma ligação em seu celular, enquanto permanecia no estúdio de ballet improvisado, onde treinava em sua casa. Graças à sua dedicação e persistência, ela havia conseguido passar nos processos de eliminação da escola de Ballet da Grand Opera de Paris, considerada a melhor e mais difícil da França. Descansando os pés, ela sentou-se no sofá, que já vira dias melhores.

O estofado estava rasgado, velho e desbotado, da mesma maneira que os outros móveis de sua casa alugada. Para piorar, o assoalho de madeira estava torto, o que parecia ter sido mal finalizado. O teto, pintado de branco, estava preto, de tanto mofo.

E a tinta branca das paredes descascava em alguns pontos, deixando à mostra a tinta amarela por baixo. No entanto, era o que ela poderia pagar por ora. Enquanto não fosse conquistado seu título de bailarina profissional, ela não poderia ser protagonista em festivais e espetáculos de dança e por consequência, não tinha uma renda alta.

Naquele momento, ela poderia pagar apenas por aquilo. Eulalia morava em uma parte pobre de Paris, longe do glamour e suntuosidade dos pontos históricos e arrondissements centrais, que eram conhecidos por serem ricos e visitados pelos milhares de turistas todos os dias. O único emprego que a sustentava naquele momento era de babá de Noelle, uma linda criança de oito meses, a qual Augustine Giroux, sua patroa, criava sozinha e com muita dificuldade.

Assim como suas amigas Felippa, Sarah, Nìcolla e Clarissa, Eulalia gostava muito de crianças. No caso dela, Eulalia considerava Noelle como sua própria filha, uma vez que passava todas as manhãs com ela. Desde que a menina tinha três meses, Eulalia cuidava dela, com amor, carinho e atenção, e não apenas pelo dinheiro. A mãe dela, Augustine, já tinha uma certa idade e quando conseguiu engravidar, foi abandonada pelo então namorado, deixando-a sozinha com um bebê para criar.

Augustine trabalhava como recepcionista em uma loja de shopping, algo que não remunerava muito, mas pelo menos, permitia-a pagar um salário para Eulalia por cuidar de sua filha. Eulalia sonhava em um dia trabalhar como uma bailarina profissional, ensinando meninas e talvez, até fazendo projetos sociais de dança para crianças menos favorecidas.

Eram sonhos que ela tinha desde criança, quando foi tirada dos braços de sua mãe, que morrera em um acidente de ônibus, quando era muito pequena. Como resultado, foi parar no Orfanotrofio Mancini, que agora estava sob administração do Estado italiano, enquanto a coordenadora original, Elnora Mancini, foi presa pelos seus crimes, cometidos contra Clarissa Acconci.

No momento presente, Eulalia raciocinava nos projetos que tinha pela frente, como o espetáculo "O Lago dos Cisnes", onde dançaria como um dos cisnes na cena em que Odette, a protagonista, é enfeitiçada por Rothbart, uma ave de rapina na história. Não era um papel principal, mas a cada apresentação realizada pela Opera de Paris, Eulalia alcançava papéis melhores nos espetáculos.

Tirando as sapatilhas de ponta e esticando os pés já acostumados com a rotineira dor dos treinos, Eulalia ouviu seu telefone tocar. O aparelho antigo estava sobre a mesa velha de madeira, enquanto o rádio tocava uma música clássica de Mozart, um de seus compositores preferidos. Ela o alcançou e ao verificar se reconhecia o número de telefone, Eulalia constatou que era desconhecido.

- Allo. – Recepcionou Eulalia em francês, uma vez que ela era fluente nesse idioma. – Com quem eu falo?

- Bonjour, mademoiselle Allard. – Cumprimentou a pessoa do outro lado. – Meu nome é Aubertin, sou médico no hospital central. Sinto muito informá-la que recebemos a madame Giroux em nosso hospital, quando ela foi encontrada desacordada no shopping onde trabalha.

- Por favor, monsieur. Seja mais claro. O que aconteceu com a minha chefe? – Eulalia começou a ficar angustiada, uma vez que ela se preocupava com Augustine e com sua filha.

O Direito de Amar - Série Apaixonados e Poderosos - Livro 5 (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora