CAPÍTULO 1

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EULALIA OBSERVAVA Noelle e via o quanto a criança chorava. Ela poderia ser apenas uma criança, ainda sim, Eulalia pensava que ela talvez sentia que perdera a mãe recentemente. O colo, o calor da afeição e sobretudo, a voz de Augustine. Eulalia tinha conhecimento de que os bebês tinham a audição muito aguçada nessa idade. Mesmo assim, ela tinha feito o possível para minimizar o sofrimento da menina, que tinha os olhos mais doces do mundo.

Com a cabeça repleta de preocupações, ela passou a chave na porta do seu apartamento, com a intenção de abri-la. Ela o logrou e adentrou sua casa, que era o lugar menos adequado para cuidar de uma criança. O mofo poderia prejudicar seriamente o pulmão de Noelle e ainda, o jeito que ela estava dormindo não era nada seguro.

A menina dormia sobre a cama de solteiro de Eulalia, enquanto ela dormia no sofá, uma vez que tinha medo de machucar o bebê com seus movimentos descoordenados à noite. Naquele momento, Noelle dormia tranquila em seu colo, com os olhinhos fechados e com a respiração tranquila.

Enquanto fechava a porta, Eulalia se lembrou de quando Augustine lhe contou sobre o pai de Noelle, que ele a abandonou no dia em Augustine o relatou que estava grávida. Alegando que iria viajar a negócios, o homem foi embora, deixando-a à mercê com uma gravidez de seis meses.

Por isso, Eulalia sonhava em constituir família com alguém que realmente lhe desse valor, e não com qualquer homem, que a desejasse apenas pelo seu corpo. Apesar de que algumas há semanas, ela havia entregue sua virgindade a um completo desconhecido, e ter deixado apenas um bilhete de despedida, retirando-se do quarto em seguida, enquanto o lindo homem dormia.

Ela ainda sentia os espasmos de duas semanas atrás, uma noite tão maravilhosa que ela jamais esqueceria. Afinal, aquela fora sua primeira noite e apesar de ter jogado a razão pelos ares, ela realmente havia gostado. Aliás, fora uma explosão de prazer sem precedentes.

No entanto, Eulalia sabia que já era hora de esquecer o que aconteceu no quarto daquela boate, momento em que agiu com total imprudência e irresponsabilidade. Tinha assuntos mais importantes para resolver, como por exemplo, sua busca por um emprego e um "namorado", nem que fosse falso, para convencer a assistente social de que era apta a criar Noelle como sua própria filha.

Aliás, Felicie Rousseau, a assistente social, avisou-a que era melhor o quanto antes Eulalia mostrar o seu suposto companheiro, uma vez que ele seria fundamental, aos olhos da mulher, para uma formação sólida familiar para Noelle.

Eulalia não era de mentir ou de enrolar as pessoas, no entanto, viu-se sem saída diante das perguntas que a assistente social fazia a ela, sobre seu passado e sobre seu emprego. Pelo menos uma coisa ela havia falado corretamente, que estava desempregada.

Quando andava nas ruas parisienses, era vista com maus olhos, como uma mãe solteira. As pessoas a encaravam e falavam coisas horríveis pelas suas costas. Contudo, não sabiam pela situação a qual ela passava, mas mesmo assim, achavam-se no direito de julgá-la.

Mesmo assim, chorando e tentando aguentar o peso de seus problemas, Eulalia estava levando sua vida. Não podia incomodar suas amigas, inclusive Clarissa, que estava grávida de cinco meses e que agora, vivia na felicidade com Trevor e o filho deles que estava a caminho.

Eulalia sentou-se e brincou com Noelle, dando a ela um ursinho de pelúcia marrom, com um lacinho rosa no pescoço, brinquedo o qual a criança gostava muito. Noelle se agitou e bateu as mãozinhas, e Eulalia conversou com ela, como se fosse o ursinho. Eulalia brincou com Noelle, riu com ela e depois, a pôs pra dormir, já que a criança aparentava sinais de cansaço.

Após colocar a pequena para dormir, ela se recostou na janela do apartamento e se pôs a pensar em soluções imediatas para seus problemas. No entanto, de repente, as lembranças escaldantes da noite que passou com aquele homem vieram de novo à sua cabeça.

Na total escuridão, eles tiraram as máscaras, entretanto, Eulalia não conseguia ver o rosto do homem, que pelos contornos da luz lunar que vinha da janela, era moreno e esculpido. O corpo dele então, ela recordava-se que era uma perdição.

As roupas rasgaram-se, a razão de ambos havia sido jogada pela janela. Naquele quarto, havia apenas desejo e muita luxúria, misturado ao cheiro de sexo, ao perfume masculino e ao suor dos amantes.

Com a pele arrepiada, ela voltou à realidade, porque sabia que aquilo já passara, era passado. Ela não sabia quem era aquele homem e sinceramente, Eulalia gostaria de saber, mas se descobrisse, poderia se decepcionar.

Eulalia voltou a raciocinar em soluções e rapidamente, algo veio à sua mente. Ela buscou rapidamente, na internet de seu celular, sites de agências de emprego e recrutadores a que poderia enviar seu currículo, que segundo o que ela pensava, não era muito forte. Eulalia não havia feito graduação em nada e desde que chegara à França, há três anos, dedicou-se à dança, embora tivesse trabalhado em alguns empregos.

Mesmo assim, com os quatro idiomas que falava, talvez ela pudesse arrumar algo que a pudesse sustentar por hora. Por hora, seria uma solução e mais tarde, ela veria o que poderia fazer. Ela selecionou vários sites e assim, salvou no bloco de notas no celular, que estava para lá de velho. Sentou-se na cadeira da cozinha e se concentrou em atualizar seu currículo, que estava com informações antigas.

Ela colocou suas experiências profissionais, seus idiomas e o grau que havia chegado dentro da escola de Ballet da Grand Opera de Paris. Ajustou as configurações, o tamanho da letra e a cor da fonte pelo aplicativo texto em seu celular. Revisou mais uma vez e pensando que estava tudo certo, abriu um novo e-mail e mandou aos endereços que os sites informavam.

À tarde, ela imprimiria cópias de currículo e levaria para várias empresas. O primeiro emprego que aparecesse, ela aceitaria, afinal, não estava em condições de reclamar ou bater o pé. Teria de aceitar o que viesse e buscar alternativas, para que ela e Noelle tivessem tranquilidade, nem que fosse por um tempo.

Novamente, ela recebeu uma ligação de Félicie Rousseau, o que a deixou apreensiva. Ela estava muito preocupada, uma vez que teria de arrumar um namorado, ou ao menos encontrar um, em menos de três meses, tempo que ela lhe dera para se organizar. Do contrário, o Conselho Tutelar, juntamente com a Justiça Francesa, ingressariam como uma ação contra Eulalia para tirar a criança de sua guarda e colocá-la em um abrigo ou orfanato, para adoção.

Noelle chorava e Eulalia percebeu que estava na hora de trocar a fralda da menina. Noelle gostava e sabia de sua companhia, e além disso, Eulalia realmente a considerava como filha, amando-a incondicionalmente. Ela aproveitou para dar banho nela, em uma banheira com água morna, à medida que Noelle se acalmava. Começando a sorrir, a criança batia com os bracinhos gordinhos contra a água e se divertia enquanto Eulalia cuidava dela.

Em seguida, Eulalia a vestiu com uma nova fralda e com uma roupinha rosa, que a deixava ainda mais linda. Passou um perfume cheiroso e a aninhou contra o peito, enquanto brincava com ela e dizia palavras amáveis. Eulalia temia pelo que podia acontecer, mais estava tentando arrumar uma solução, embora soubesse o quanto era difícil, principalmente por sua situação financeira atual.

O Direito de Amar - Série Apaixonados e Poderosos - Livro 5 (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora