Quando enfim o sol se põe, e com ele vem mais uma segunda. Ao acordar percebo que permanece também a tristeza nos olhos de meus pais.O clima ainda estava tenso, e sabia que continuaria assim por uns dias.
Tentei manter rotina matinal, me levantei, arrumei o quarto e fui até a casa de Carla.
Precisava de uma amiga.Chegando lá, não seguro a emoção e desabafo aos prantos dizendo tudo oque estou sentindo, e tudo oque acontecera naquele triste final de semana.
Carla não sabia que meu pai costumava beber, nunca havia lhe contado antes.
Quando lhe disse, logo se espantou.
Carla: Amiga mas porque nunca me disse nada?
Eu: Ah amiga, eu tenho vergonha. Vejo seu pai sempre tão contente em casa com sua mãe, tenho vergonha desse lado horrível de meu pai.
Logo tenta me consolar.
Carla: Ah amiga, pode falar comigo sobre tudo. Estou aqui para você e você por mim.
Sabia que era verdade, Carla sempre esteve aqui por mim.
Então percebo que não estou tão "aqui" para ela. Não lhe contava tudo, e precisava mudar isso.
Precisava confiar mais, assim como ela confiava em mim.Eu: Amiga agora vamos falar de coisa boa?
Carla:Já sei, Cristian?
Eu: Não (risos)
Sabe quem me ligou ontem?Carla tenta adivinhar e fica pensativa, mas sei que seria impossível então conto rapidamente.
Eu: Rebeca!
Carla não entende como Rebeca pode ser uma boa notícia, e logo bate o ciúme.
Carla: Não entendi amiga, vai trocar de melhor amiga agora?
Eu: Não amiga, Rebeca me ligou porque Henrique a pediu.
Vejo nos olhos de Carla a surpresa.
Carla: Amigaaaa você falou alguma coisa com ela?
Me pergunta preocupada, colocando a mão na cabeça.
Eu: Não amiga, faz tempo que não a vejo. Acredito que ele falou com ela por causa daquele dia em frente à escola.
Carla parece surpresa e feliz.
Carla: Não acredito amiga, você gostou dele e ele de você?
Isso é demais!Tento acalmar sua euforia.
Eu: Calma amiga, ele só pediu meu telefone.
Talvez não é nada. Ele é bem mais velho.Carla não parava de tentar me fazer pensar na possibilidade de ter algo à mais com Henrique.
Carla: Amiga, ele não pediu seu telefone para saber das horas novamente, né?
Carla era insistente quando queria algo.
Eu: Amiga eu não dei meu telefone por causa do meu pai, mas peguei o dele.
Carla: Então podemos ligar agora?
Olhando para o telefone.
Eu com muito medo não deixo.
Eu: Não amiga, preciso pensar no que vou dizer. Eu não tenho idéia de como começar um diálogo com ele.
Carla não desistia, e eu, sempre tentando de todas as formas sair do assunto.
Eu: Amiga vamos lá?
Almoçar?
Estudar?Falo virando os olhos com ar de sarcasmo.
Carla: Vou lá ver oque vamos comer, não saí daí!
Diz virando as costas e dando pulinhos.
Eu: Mas....
Vejo que já está na minha hora e saio sem me despedir, sabendo que logo estaríamos juntas para irmos à escola.
Ao entrar em casa sinto que o clima entre meus pais ainda estava péssimo.
Sigo até a cozinha para ver minha mãe que está preparando o nosso almoço.
Eu: Ei mãe, a cara tá boa.
Digo me referindo ao strogonoff que sem dúvida estava perfeito.
Me sirvo e espero meus pais se sentarem à mesa comigo.
Meu pai estava no quarto, e ao sair, percebo que está arrumado.
Minha mãe também percebe e o questiona.Mãe: Onde você vai Augusto?
Pai: Vou ali na casa de um amigo.
Responde descendo as escadas sem olhar para trás.
Minha mãe parece não acreditar, a tristeza se abate novamente e sabemos que ele não ia à casa de um amigo, sabíamos que ele iria beber novamente.
Estava começando cada dia mais cedo.
No domingo ele foi ao bar após às 17:00hs e hoje na hora do almoço.
Percebo que o dia será longo, e não vou à escola.Ligo para Carla e digo que estou com problemas, e não irei à escola.
Ficamos ali paradas, minha mãe e eu com o coração na mão.
Passamos o dia todo com pesar, parecia um velório em minha casa.
Não sabíamos oque fazer.
Nossas dúvidas infelizmente se confirmaram após às 22:00hs.Estávamos minha mãe e eu sentadas vendo novela, quando escutamos o portão batendo várias vezes.
Abro a porta e vejo meu pai encostado no portão, com dificuldade para abri-lo.Vou até a porta e o ajudo.
-Meu Deus, que cena mais triste, ele estava totalmente bêbado. Estava fedendo, cheio de marcas no rosto, de certo caíra na rua enquanto estava vindo.
Enquanto andávamos suas pernas estavam indo em direções diferentes, não conseguia se apoiar sozinho.
Dessa vez ele exagerou.Subimos, e minha mãe já estava de cabeça baixa, com as mãos na cabeça esperando o pior.
Percebo que ela já estava em seu limite e tento ajudar.
Eu: Mãe, deixa que eu me viro com ele.
O levo até o banheiro e ligo o chuveiro no frio.
O sento no chão e o deixo lá por uns instantes.
Vou até o quarto e pego umas roupas.Com lágrimas nos olhos, fico parada na porta, olhando aquele ser, quase desmaiado naquele chuveiro.
Percebia que estava perdendo meu pai a cada dia para o vício.
O ajudo a se vestir e o levo para cama.
-Ele estava bem agressivo, me deu dois tapas na cara enquanto estava o vestindo, mas não desisto.
Fico deitada com ele até ele dormir.Ao sair do quarto, minha mãe vem ao meu encontro e sem falar nada me abraça. Sabíamos que estávamos perdidas.
Meus irmãos chegam juntos em casa, e também entram em clima de velório.Aquela triste situação se repetiu por toda semana.
Não via a hora de chegar o fim de semana.
Seria meu aniversário de 15 anos, mesmo sem motivos para comemorar eu não deixaria de estar feliz em meu dia.Enfim o sábado chega.
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O INÍCIO DA METAMORFOSE 🦋💜
RomansaPRIMEIRO LIVRO. A história de Ana precisa ser contada. Em meio a um relacionamento abusivo ela se encontra sem saída e precisa de ajuda. Será que Ana vai conseguir se livrar das amarras de um amor tóxico? Baseado em fatos reais.