Com os olhos cheios de aflição, meu pai se afasta e desce as escadas.
Eu o sigo como se pudesse ajuda-lo.
Ao descer, nos deparamos com dois policiais amigos de meu pai.
Eles o vê e logo o cumprimentam calorosamente, isso de certo me tranquila.
Policial 1: Ei Augusto, como está?
Ficamos sabendo o que houve.
Pai: Pois é, eu sinto muito.
Não sei o que fazer. Sinto tanto por aquela família, aquela senhora.Meu pai diz e já começa a chorar novamente.
Policial 2: Calma, você precisa ir com a gente, mas não se preocupe, a senhora está bem. Não aconteceu nada demais e ela não prestou queixa.
Isso já é muito bom.
Pai: Vamos sim!
Vou pegar minhas coisas e os acompanho.Então minha mãe impulsionada pelo amor, o abraça e o beija e tenta consolar aquele que errou, mas que o arrependimento era palpável.
Mãe: Vá e faça o certo.
Estaremos aqui quando você voltar.Assim meu pai seguiu, com aquele olhar de arrependimento e tristeza.
Ficamos minha mãe e eu em casa torcendo para que tudo desse certo.
Ao chegar a madrugada meu pai ainda não havia chegado.
Minha mãe super preocupada, já não conseguia ficar em casa parada, muito menos eu.
Sem saber notícias por horas, tomamos coragem e seguimos até a delegacia.
Ao adentrar aquela fria e escura delegacia me deparo com meu pai sentado ao lado de vários bandidos.- Como assim?
Perguntei a minha mãe sem entender aquela cena.Fomos até o portão que nos separava e tentamos nos comunicar com ele. Mas meu pai não podia conversar.
Até que sai de uma das salas, um dos policiais amigo de meu pai, e o solta.Esperamos ansiosamente até que a porta se abre, e enfim meu pai é liberado.
Ele caminha em nossa direção aos prantos e nos abraça. Aquele abraço parecia um pedido de socorro.
O encaro nos olhos buscando uma resposta.
Eu: Pai, vai ficar tudo bem?
Pai: Vai sim minha pequena. Nós vamos para casa.
Ficamos mais uns instantes assim, e parecia que aquele casal que brigara tanto em casa, já não existia mais.
Eles estavam em total sintonia buscando a paz para o nosso lar.Meu pai, ainda precisava assinar os papéis para sua liberação, então segue para a sala do delegado e o faz.
O aguardamos de mãos dadas, minha mãe e eu.
Ao estar naquela delegacia, pude presenciar todo o tipo de situação. Pais com filhos delinquentes, esposas aguardando seus maridos serem presos por agressão à elas mesmas, e casos como nosso, família esperando a liberação de seus familiares.
Após alguns instantes, fomos liberados e toda a viagem até chegar em casa pude refletir.
Como nossa vida estava de cabeça para baixo novamente após esse terrível acidente, e tantas outras famílias também se encontravam na mesma situação que a nossa ou até pior.
Chegando em casa meu pai anda de um lado para o outro, ainda muito preocupado. Triste em vê-lo naquela situação tento fazer o que posso.
Eu: Pai, vamos ver um filme?
Vamos ler um livro juntos até pegar no sono?
Ele estava tão concentrado que não responde. Na verdade ele não ouve.
Minha mãe se senta ao meu lado e me abraça e começa a contar como será nossos próximos dias.
Mae: Ana, seu pai esta afastado do emprego. O acordo foi feito e ele ficará afastado por 6 meses.Assustada tento entende.
Eu: Mas mãe, ele não foi inocentado?
Mãe: Sim, mas ainda bebe, e precisa largar de vez esse vício.Minha mãe termina a frase e uma lágrima cai de seu rosto ao olhar para meu pai, que sai de casa sem dizer uma só palavra.
Eu o chamo da escada, sem resposta.
Ouço o forte barulho do portão se fechando.
Meu pai saiu e minha mãe se trancou em seu quarto, não sei se foi para orar ou para chorar ou quem sabe ambos.Horas depois, escuto novamente um forte barulho de portão, mas dessa vez acompanhada de passos na escada.
Eu que já dormia, não sei se é sonho ou realidade, mas ao sair do quarto eu tenho a resposta.
Era meu pai, de certo estava vindo de um bar, pois o odor de álcool estava o acompanhando por toda a casa.Sem me olhar nos olhos ele passa para o banheiro, toma seu banho e se joga no sofá.
Minha mãe que também já dormia, se levanta e se depara com aquela triste cena, já aos prantos novamente por causa de meu pai, ela tenta o levantar e o carrega para cama.
Ao olhar aquele cenário eu me dou conta de que o gatilho havia sido liberado.
Meu pai voltara a beber.
E assim foi todo o final de semana, todos os dias meu pai seguia para o bar sem dar satisfações, e voltava naquele estado deplorável.Minha mãe já não tinha forças para lutar, já não se esforçava para tentar mudar.
As brigas eram constantes, estava vivendo um verdadeiro pesadelo novamente.
Com o final de domingo chegando, começo a pensar nas aulas, tento me distrair.
Quando estava arrumando minha mochila, o telefone de casa toca.
Corro para atender na esperança de ser Carla. Precisava desabafar.Eu: Alô!
Oi.Não era Carla, mas sim Rebeca.
Uma amiga que a muito não conversava.
Rebeca: Ei gata, tudo bem?
Está muito sumida!
Realmente havia tempo que não a via.
Eu: Estamos sumidas né amiga?
Você também não veio mais aqui.
Rebeca: Gata eu tô te ligando para falar de um amigo.
Rebeca tinha tantos amigos que não liguei nenhum nome a frase de início.
Eu: Amigo? Quem?
Rebeca: Henrique!
Ele me disse que a viu em frente a escola e quer seu telefone.
Posso passar?Naquele momento me veio a lembrança daquele lindo dia em que eu me deparei com aquele rapaz que me fazia flutuar.
Eu: Amiga calma!
Meu pai não gosta que eu tenha amigos. Certamente vai ficar enfurecido se eu trouxer esse problema justamente agora.
Não é o momento.
Mas pode me passar o dele, eu o ligo quando der.Rebeca então me passa o contato de Henrique e desligamos.
Como iria ligar sem que meu pai percebesse?
Deixo o telefone anotado e volto às minhas atividades.
Vou me deitar naquele domingo sonhando acordada.
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O INÍCIO DA METAMORFOSE 🦋💜
RomansaPRIMEIRO LIVRO. A história de Ana precisa ser contada. Em meio a um relacionamento abusivo ela se encontra sem saída e precisa de ajuda. Será que Ana vai conseguir se livrar das amarras de um amor tóxico? Baseado em fatos reais.