MEDOS

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Me levanto do sofá lentamente sem que minha mãe perceba,  não queria espanta-la, queria ouvir toda a conversa.

Vou para o quarto de meus pais e pego a extensão.

Mãe: Pois é Glória, eu não sei mais o que fazer.
Por isso tomei essa decisão, sofro em ver meus filhos sofrendo.

Tia Glória: Eu sei Beatriz, sinto muito por seu dilema.
Mas seus filhos são todos muito apegados ao pai.
Não vai ser fácil.

Mãe: Eu sei, preciso desligar, a Ana deve estar por aí querendo conversar. A coitada está acabada ao ver o pai nessa situação.
Nos falamos depois.

Minha mãe desliga o telefone e escuto passos em minha direção, então rapidamente desligo e me deito em sua cama, tento parecer que estou dormindo. Ela se deita ao meu lado e parece estar em outro lugar, fica imóvel, quase sem respirar.  Eu a abraço e ficamos assim por longos minutos.
Até que meu pai acorda, adentra o quarto  e eu não sei oque fazer, sei que preciso os deixar à sós, mas também sei que o assunto poderia ser desagradável.
Então me próximo de minha mãe, seguro sua mãe, olho no fundo de seus olhos e digo:
Eu: Mãe, não faça nada, não fale nada. Deixe que amanhã vocês conversam. Por favor!
Minha mãe mesmo sem entre concorda e parece preocupada.
Mãe: Filha, eu não quero que se preocupe com nada. Vá para cama, está tarde.

Saio do quarto com um medo que aflige minha alma. Medo de mais uma briga, medo de ser a última e definitiva briga.

Ao me deitar, meus pensamentos e meus ouvidos estavam lá, na parede que dividia nosso quarto.
Tentava ouvir, mas o silêncio predominou e tive a certeza que eles haviam pegado no sono.
Faço o mesmo, mas sei que ainda preciso resolver esse problema com minha mãe.

Ao acordar percebo que meu pai ainda estava na cama e minha mãe já estava preparando nosso café, vou até ela e lhe dou um forte abraço. Mesmo sem entender o abraço é retribuído.

Vou para escola e o dia passa que não percebo, não consigo me concentrar, estava cansada e perturbada.

Ao chegar em casa, vou até a cozinha e minha mãe está preparando nosso jantar, percebo que o clima estava tenso novamente.

Vou até seu encontro e a abraço sem dizer nada.
Mãe: Filha o que foi? Você está estranha. Ontem parecia querer me dizer algo, hoje já acorda assim. O que está acontecendo?
Sem conseguir segurar eu desabafo e num ato de desespero, suplico com todo meu coração.
Eu: Mãe, eu escutei sua conversa com a tia, por favor mãe, não se separa do meu pai. Por favor!

Ao término dessa súplica sou surpreendida com meu pai, parado a nos observar.
Ele estava lá o tempo todo e ouvira toda a nossa conversa.

Com os olhos cheios de remorso, tenta se explicar mais uma vez.
Pai: Beatriz, por favor, esqueça essa história.
Não me machuque ainda mais, também estou sofrendo.

Minha mãe não conseguia olhar em sua direção, cheia de mágoa começa a discussão.
Mãe: Eu já disse, já tomei a minha decisão, você não muda. Preciso de paz Augusto, você só pensa em beber, está se matando e nos matando também. Eu cansei!

Ao término da fase minha mãe já está aos prantos, sei o quanto estava sendo difícil enfrentar toda essa situação.
Meu pai perdera o controle da própria vida, perdeu o sentido de lutar contra seu vício.
Não sabíamos mais oque fazer, até que pensei no melhor para todos.
Eu: Pai, o que o Senhor acha de passar uns dias no sítio do vovô?
Pode ir e ficar lá por uns tempos, longe da bebida.
Meu pai não aceita de imediato, mas sabe que também precisa se afastar.
Pai: Será o melhor mesmo eu me afastar por uns dias.
Você vem comigo Beatriz?
Eu olho para minha mãe e meu olhar pede carinhosamente que ela aceite a proposta, até que ela diz sim.
Mãe: Vamos sim, mas filha você não pode trazer o Henrique aqui. Vamos ficar somente uma semana, te peço juízo.
Pai: Não preciso falar duas vezes né?
Podem conversar no portão de casa, mas não o deixe entrar, nem para beber água.

Assinto com a cabeça, e os abraço forte. Minha felicidade estava completa.

Rapidamente meu pai vai para arrumar seu carro, após muitos dias ele estava feliz. Minha mãe por sua vez, também foi aprontar suas malas.

Eles seguem viagem e rapidamente eu pego o telefone para contar as boas novas para Henrique.
Enfim a felicidade reinava em meu lar.
Henrique: Que bom meu amor, estou feliz por sua família, e principalmente por você.
Quero te ver, posso ir aí?

Me lembro do pedido de meu pai, mas a saudade fala mais alto.
Eu: Amor aqui não, meu pai não quer que venha aqui, meus irmãos vão me figiar. Mas eu posso ir até sua casa. O que acha?
Sinto sua respiração  e felicidade.
Henrique: Vou agora te buscar!
Sem dizer mais nada ele desliga, preciso me arrumar.
Morta de saudade me arrumo em minutos, ao descer já avisto seu carro e ele estava perfeitamente lindo me esperando ouvindo suas músicas preferidas.
Ao entrar no carro, sou recebida com um delicioso beijo e um forte cheiro no pescoço.
Henrique: Nossa amor, como você é cheirosa.
Sinto meu corpo responder ao toque, meus pelos se arrepiam e fico sem fala, ele percebe e me dá outro beijo seguido de um gemido no ouvido. Fico sem jeito e sinto meu rosto corar.
Com medo desses novos sentimentos, tento mudar meus planos.
Eu: Henrique, acho melhor eu ficar em casa. Vamos conversar ali no portão mesmo!
Então ele liga o carro e parece não me ouvir, até que vejo em seu sorriso que estava a fingir.
Eu: Henrique eu não quero ir.
Henrique: Calma amor, vamos só ouvir som, ou ver um filme, nada além.

Seguimos para sua casa e todo o destino meu coração seguiu acelerado.

O INÍCIO DA METAMORFOSE 🦋💜Onde histórias criam vida. Descubra agora