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Suspirei, que tédio, assistir séries e filmes tava ficando cada vez mais chato. Quando não estava deitada era sentada, meu humor só piorava. As vezes eu ia pro resort com meu pai e o ajudava com algumas burocracias coisas que eu estava acostumada a fazer tentando me distrair, até que era bom, eu me sentia menos inútil até os olhares de pena me atingirem. Eu até poderia dizer o que passa na cabeça deles, "coitada tão jovem e bonita e numa cadeira de rodas". Depois sorriam me cumprimentando, era um saco, mas eles tinham razão, eu sou jovem e uma vida toda pela frente, mas estou presa nessa maldita cadeira de rodas. Queria que essas coisas me animassem a esforçar mais, mas pelo contrário me desanimavam cada dia mais.                      

É noite e eu ainda não saí do quarto hoje, e não pretendo.

- Perrie você vem jantar conosco? - Minha mãe perguntou encostada no batente da porta. 

- Se não se importar prefiro jantar aqui no quarto,  não estou afim de sair.

- Filha - Caminhou até a cama e sentou na beirada pegando uma das minhas mãos. - Ficar aqui o tempo todo é pior. 

- De todo jeito é pior... - Baixei a cabeça.

- Você sabe que a única que pode sair dessa cama é você, eu e seu pai não podemos fazer isso por você.              

- O que você quer que eu faça, que eu me levante e saia andando.- elevei a voz. - Você não sabe como é tentar mexer um dedo e não conseguir. - As lágrimas vieram e eu não pude contê-las, minha promessa de não chorar na frente deles foi por água abaixo. Ela me abraçou afagou meu cabelo. 

- Não chore meu amor,  se eu pudesse  trocaria de lugar com você. 

- Por que comigo mãe? Por que teve que acontecer comigo? A morte seria melhor.

- Não fala isso nem brincando - me repreendeu e limpou meu rosto com polegar. - Você só precisa ter força de vontade.

- Eu passei um mês fazendo fisioterapia e nada mudou. 

- As coisas não acontecem de um dia pro outro,  precisa de tempo e paciência.

- Você sabe que isso eu não tenho.

- Se quiser sair daí,  vai ter que aprender a ter paciência, porque tempo você tem. 

- Como farei isso? 

- Não sei,  que tal começar a voltar a fazer fisioterapia?                        

- Não quero, é chato e dolorido e o doutor Jake foi embora.

- Não existe só ele de fisioterapeuta na cidade.

- Mas ele me entendia - funguei 

- Sinto muito, seu pai e eu estamos a procura de outro que seja de confiança. E soubemos pelo hospital de um que se mudou aqui pra cidade a pouco tempo e que tem uma ótima carta de recomendação. Vamos conversar com ele amanhã cedo. 

- Mas eu não quero. - Emburrei.

- Tente pelo menos, se não por você, que seja por mim e por seu pai, deixa a gente te ajudar do jeito que podemos - Falou sem desviar seus olhos marejados dos meus.  

- Se é o que vocês querem,  eu tentarei.

- Obrigada meu amor.  Maria vai trazer seu jantar. 

- Obrigada mãe. Te amo.

- Também amo você. - beijou minha testa e se foi.

Ela saiu sem olhar pra trás, minha mãe tenta se fazer de forte, mas sei que quando está só ela chora, são nesses momentos me sinto tão egoísta por pensar só em mim, na minha invalides, sei que eles estão sofrendo tanto quanto ou mais que eu  por não poderem fazer mais do que já fazem. Meu amado irmão se mudou para um quarto no resort com a desculpa de que lá fica mais fácil de manejar os negócios. Pura lorota, ele só não quer ficar aqui vivendo o meu drama de camarote.

Wake UpOnde histórias criam vida. Descubra agora