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Ela não apareceu por 3 dias depois do final de semana, se sentia indisposta, foi oque ela disse a minha mãe pelo telefone. Logo pensei na probabilidade da alergia ter piorado, um resfriado ou algo do tipo. 

Ela apareceu na quinta feira, achei-a um pouco abatida, parecia estar cansada e olheiras de noites mal dormidas.

- Bom dia Edwards - sua voz saiu baixa, fraca.

- Bom dia Thirlwall - Dei o meu sorriso de sempre.

- Praticou  esses dias ou fez corpo mole? - forçou um sorriso.

- Pratiquei com a ajuda da minha mãe e dos outros.

- Ótimo, hoje você vai ficar de pé. 

- Sério?

- Seríssimo, nada te impede de ficar de pé e andar, seus músculos estão bons, você não teve trauma grave em nenhuma vértebra, seu problema tá aqui ó - colocou a minha na minha cabeça. - Enquanto sentir medo você não vai conseguir.

- Não podemos começar na próxima semana?

- Vamos começar hoje e sem reclamação, eu preciso que você fique de pé.

- Ok, se não tem outro jeito - dei de ombros.

Eu poderia falar pra ela o verdadeiro motivo da minha falta de vontade e do mínimo esforço que eu fazia, mas eu poderia perdê-la no mesmo momento que eu confessasse meus sentimentos por ela. Coloquei a cabeça no lugar, era melhor continuar assim.

- Coloque suas pernas pra baixo, você vai se levantar e apoiar em meus ombros - ela se aproximou.

- Isso não vai dar certo - coloquei as pernas pra baixo e suspirei.

- Não confia em mim? - ela me encarou. Seu olhar atravessou minha alma, senti meu coração queimar.

- Confio - falei desviando o olhar - eu só não me sinto preparada.

- Mas você está - ela flexionou os joelhos ficando numa altura razoável pra eu apoiar minhas mãos em seu ombro. Ela levou as mão em minha cintura e lentamente nos levantamos, minhas pernas tremeram, apertei os ombros dela com força. - Au 

- Desculpa, foi sem querer, não foi minha intenção te machucar.

- Tudo bem, apenas concentre-se, vamos ficar assim o tempo que você aguentar, depois sentamos, descansamos e repetimos, ok?

- Ok

- Enquanto fazemos isso, conte-me sobre sua infância, assim você se distrai e esquece dos medos, o que você acha?

- Não é uma história muito interessante, mas pode ser. - sentei depois de 5 minutos de pé e ela permanecia de pé de braços cruzado fitando-me quando comecei a contar... Eu nasci aqui mesmo em Carmel, morávamos em uma casa próximo a praia, não era muito grande, mas tinha um quintal enorme onde eu e meu irmão brincávamos de quase tudo, as vezes íamos a praia e nadavamos o dia todo, nossa vida até que era boa.

- Até que era boa? - ela perguntou sem entender.

- Sim, nem sempre fomos ricos, nossa casa era simples, meu pai tinha um emprego não muito bom, mas não nos faltava nada. Um dia ele perdeu o emprego, o dinheiro foi acabando e as coisas começaram a ficar difíceis, minha mãe começou a fazer quitutes pra vender, meu pai trabalhava aqui e ali, e com esse dinheiro conseguia nos manter, mas mesmo assim eu era uma criança feliz, apesar de sentir falta de algumas coisas.  Um certo dia, eu deveria ter uns 8 anos de idade quando na hora do jantar meus pais falaram sobre irmos morar com a vovó do outro lado da cidade, eu não estava entendendo nada.

- Perderam a casa?

- Não, o verão estava chegando e meu pai iria alugar a casa durante todo o verão para conseguirmos dinheiro extra, e então fomos pra casa da vovó por quase 4 meses. Acabou que o negócio deu certo, lembro do meu pai feliz pelo dinheiro que tinha ganhado durante aqueles meses, ele guardou um pouco e assim fez durante uns 3 verões depois, foi quando nos mudamos em definitivo pra casa da minha vó, porque mesmo fora de temporada apareciam pessoas querendo alugar a casa, a essa altura meu pai tinha feito uma reforma
simples na casa, então com o trabalho da minha mãe, os bicos que ele fazia, e o dinheiro do aluguel as coisas foram melhorando, 1 ano depois que nos mudamos pra casa da minha vó ela faleceu.

- Que triste, o que houve?

- Infartou, e não pudemos fazer nada, e com isso nossa vida mudou. Minha vó tinha dois terrenos que nós nao sabíamos, que acabou ficando pro meu pai, ele os vendeu e comprou uma velha pousada e a reformou, ficou linda depois de pronta. E na sua inauguração tivemos casa cheia, e assim continuou. 

- Seu pai é um bom homem, ele mereceu o sucesso depois de todo esforço.

- Sim, ele mereceu.

- Conta mais.

- Continuando. Aos 13 anos meu pai resolveu me colocar em uma escola particular, de início eu não gostei, mas  foi onde eu conheci minha melhor amiga a Jesy.

- Eu ainda não a conheço.

- Depois do acidente ela só  aparece  quando quer.

-  Porque isso?

- Não sei muito bem, mas eu a entendo, ela tem as coisas dela pra fazer e não pode ficar aqui me bajulando. Ela mesmo estando longe eu posso senti-la e isso é incrível.

- Acho que nunca tive ninguém assim, mas isso não vem ao caso, continue contando.

- O negócio deu muito certo, ao 17 já estávamos morando nessa casa, bom, ela era um pouco menor e ao poucos meu pai foi reformando.

- Então a princesa já foi uma plebeia - Sorriu - nunca imaginei você "pobre". Sempre com esse nariz em pé.

- Só com você. E você me dava nos nervos com esse seu jeito de mandona. Mesmo que você não acredite eu sou uma pessoa legal.

- Eu, mandona? - posicionou seu dedo indicador sobre o peito.

- Sim, eu não queria, e você chegava aqui botando a banca como se fosse dona do pedaço.

- Claro rebelde sem causa toda mimadinha eu não ia dar meu braço a torcer. E o que te fez mudar de ideia?

- Coisas que você falou, acabei percebendo que você não era a bruxa que eu imaginava.

- Monstro, bruxa, tem mais algum apelido carinhoso no meio desses ai? - sentou ao meu lado.

- Não, são só esses mesmo - olhei pra ela e dei um sorriso tímido. 

- Ainda fala só. - delicadamente ela pousou a mão em meu ombro. - Terminamos por hoje, você se saiu muito bem, estou orgulhosa do seu esforço.

- Obrigada, mas o crédito é todo seu por me fazer ver que eu sou capaz.

- É o meu trabalho, nos vemos amanhã - Seus lábios pousaram delicadamente em minha bochecha, eles eram macios e quente, ela não imaginava o emaranhado de
sensações que aquele simples beijo me causava.

Ela se levantou entrou no banheiro e lavou o rosto, enquanto isso sentei em minha cadeira, ela saiu pegou sua bolsa e acenou saindo pela porta. Assim que ela saiu eu saí também, por incrível que pareça eu estava super animada em dar uma volta no quarteirão, mas ao chegar na sala encontrei ela e Maria conversando, eu não sei do que se tratava só ouvi Maria dizendo que aquilo não poderia ficar escondido, meu Deus só aquelas poucas palavras pronunciadas aguçaram minha curiosidade. Jade a abraçou, e pelo gesto que fez foi de agradecimento. O que não podia ficar escondido, e o que Maria sabia que eu não sabia? Desde quando elas tinham esse tipo de intimidade. Perdi a vontade de sair, voltei pro quarto e liguei pra Jesy, eu precisava conversar, senão aquilo iria me corroer.

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