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Ela irradiava luz, seus olhos pareciam um par de estrelas de tão brilhante. Ela continuava linda mesmo com o peso extra e o inchaço normal de fim de gravidez , ela me olhou e sorriu o sorriso mais lindo, aquele que me fazia derreter quase que literalmente, desequilibrei-me e quase cai na passarela cercada por barras. Meus passos estavam mais firmes e não havia mais necessidade dela ficar andando atrás de mim, ela parava no fim daquele pequeno corredor e ficava me esperando com sua beleza exuberante e aquela barriga enorme. Ela me analisava enquanto comia uma maçã, usava uma camisa justa que marcava bem o contorno de sua barriga, quando de repente do lado esquerdo uma protuberância se formou, parecia uma bola.

- Não machuca, acho que ja perguntei isso, não é? - Sorri.

- Isso? - colocou a mão na barriga. - As vezes dói bastante, incomoda, mas rapidinho passa - sorriu com desconforto. - Mas você já pergunto sim.

- Posso sentir? - pedi ao chegar ao fim da passarela e sentar em minha cadeira.

- Claro - ela levantou a blusa, pegou minha mão e a colocou sobre a barriga - ele agora tá quietinho.

- Oi bebê - falei bem próximo a sua barriga e de repente um solavanco. - levei um pequeno susto, não tava esperando por essa reação. - acho que o bebê não gostou de ser
incomodado.

- Ele gostou de você - Ela acariciou a barriga e abaixou a camisa.

- É um garotinho?

- Ainda não sabemos, como das outras vezes que fui fazer ultrassom ele o bebê está com as perninhas fechadas.

- Quer fazer surpresa pras mamães.

- Eu acho que sim - Ela empurrou minha cadeira até a mesa de sempre, ela puxou uma cadeira e sentou ao meu lado.

- Já escolheram nomes?

 - Escolhemos, optamos por Amara para menina e se for menino Karl

- Lindos nomes. Está ansiosa? 

- Muito, não vejo a hora de ver a carinha dele ou dela. - olhou pra barriga - pegar no colo e encher de beijos.

- Eu imagino, até os meus pais que não são nada dele estão ansiosos, acham que você vai trazê-lo sempre.

- E porque não? Eu adoraria que ele convivesse com pessoas assim como sua família. - ela segurou minha mão.

- E sua esposa vai deixar? - apertei de leve sua mão.

- Eu estou carregando não estou? Então é meu também, ela não pode me proibir.

- Vou sentir sua falta. - Ela chegou ao nono mês, o bebê chegaria a qualquer momento e hoje era o meu último dia com ela.

- Também vou sentir sua falta - ela levou a mão em meu rosto e acariciou. - mas você pode ir nos visitar.

- Não sei se é uma boa idéia - levei a mão em seu rosto e tirei o cabelo que cobria uma parte colocando-o atrás de sua orelha.

- Porque não?

- Não sei se eu iria conseguir resistir ficar perto de você sem te tocar, sem te beijar.

- Deixa de graça, você consegue fazer isso.

- Como você pode ter tanta certeza?

- Olha o tempo que estamos aqui e você ainda não me beijou.

- Não por muito tempo - afastei meu corpo do encosto da cadeira, levei minha mão em sua nuca e aproximei meu rosto, ela sorriu e pousou sua mão em meus rosto e se aproximou, nossos lábios se tocaram com delicadeza, nossas línguas se encontraram, entrelaçaram e em movimentos lentos elas dançavam apaixonadas pelo interior de nossas
bocas. Nossa respiração deu uma leve alterada, e com um sorriso nos lábios terminamos o beijo com um selinho longo.

Uma semana depois Amara veio ao mundo, era uma linda garotinha de pele alva e cabelos castanhos que mal cobriam toda sua cabecinha. Ela precisou de cuidados ao nascer devido a dificuldade de respirar, nada grave, três dias depois ela estava em casa no aconchego da família. Minha mãe foi visitá-la e eu não tive coragem de ir ao hospital por temer encontrar com Leigh Anne, e tenho quase certeza que ela sabe sobre mim é algo que eu sinto, e por essa razão decidi não visitá-la em sua casa também . Minha mãe tirou uma foto do seu primeiro dia de vida e enviou para o meu celular e eu namorei aquela foto por horas e horas imaginando o quão feliz Jade estava com seu bebê nos braços. Suspirei por não poder participar do início daquela vida. E meus pensamentos aguçaram, eu tinha consciência que tudo poderia mudar por causa dessa criança, que elas poderiam voltar a ser um casal feliz e o nosso nós não existiria nunca mais, senti um estalo no meu peito, e
as lágrimas vieram, eu sentia tanta saudade dela que  meus dias voltaram a ser cinza como eram antes dela aparecer.

Meus pais pareciam avós da criança, sempre que podiam passavam por lá, era fofo, mas também muito estranho, a única coisa boa era que eu recebia notícias e lindas fotos. Jade me ligou algumas vezes, mas as conversas eram tão rápidas... Acho que estou perdendo-a lentamente, quando o tempo acabar vai ser eu e minha fisioterapeuta e nada mais, mas vou tentar não ficar pensando nisso já tá sendo difícil demais ficar longe.

Kelly passou a vir todos os dias me ajudar com a fisioterapia, ela era esperta e tão boa, me consolava sempre que eu precisava, me dava conselhos e emprestava seu ombro pra eu chorar. E todas as vezes dizia: Está desperdiçando lágrimas atoa garota. Mas ninguém entendia o que estava acontecendo comigo, a bagunça que eu estava, eu sentia
um vazio tão grande e nada do que eu fazia era suficiente para preencher. Num dia desses de solidão profunda, deitada é minha cama sentindo o gosto salgado das minhas lágrimas
invadirem minha boca Jesy veio deitou ao meu lado e secou cada lágrima que escorria pela minha face e repetiu o mesmo que Kelly já tinha falado antes: O amor é assim mesmo. Eu preferia não ter conhecido o amor, não desse jeito. É tão dolorido almejar por alguém e não ter aquela pessoa, saber que a única chance que temos pode reduzir-se a zero num piscar de olhos. Eu não estava, eu não estou preparada pro amor. É tão complicado, indescritível,  é tão bom e tão ruim ao mesmo tempo que eu não me importaria de ficar deitada nessa cama pra sempre só pra tê-la ao meu lado, só pra mim, sem Leigh Anne, sem ninguém, só eu, ela e Amara.

Wake UpOnde histórias criam vida. Descubra agora