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Estava completando 4 dias que Jade estava incomunicável, minha cabeça estava a mil, eu não sabia mais o que pensar e nem tinha mais lágrimas pra chorar, sua voz aflita martelava em minha cabeça como um disco arranhado, por mais que eu tentasse eu não conseguia esquecer. 

O frio era intenso, estava tudo cinza, era dia, mas parecia noite. Eu optei por ficar na solidão do meu quarto. Sem a cama de Kelly, sem a cadeira e o andador deixou o quarto ainda mais solitário. Uma bengala encostada no canto do quarto que me servia de apoio quando a perna doía pelo esforço e a TV eram minha companhia. Liguei a TV num canal qualquer que exibia notícias de última hora, algo sobre uma nevasca, não dei importância, meus pensamentos estavam em outro lugar, ou melhor em uma pessoa. O
travesseiro ainda tinha seu cheiro, eu o abracei e afundei minhas narinas para senti-la em mim, fechei meus olhos e imagens aleatórias de nós surgiram, momentos mágicos e
inesquecíveis. Meu quarto estava quente, aconchegante, batidas na porta me tiraram do transe, Maria entrou trazendo em suas mãos uma bandeja com uma caneca cheia de
algum líquido fumegante, eu já sabia que era, minha bebida preferida pros dias frios:

Chocolate quente, e um prato com cookies de leite e gotinhas de chocolate feitos por suas mãos maravilhosas. Ajeitei o travesseiro e encostei, recebi a bandeja e sem tardar tomei posse da caneca, ela sentou nos pés da cama e me fitou, perguntei o que era, eu conhecia bem aquele olhar, logo pensei no que eu aprontei que eu não sei.

- Não é nada, só estou te admirando - ela respondeu.

- Sei que não é atoa, pode dizer eu aguento - deu um estalo, quase me desesperei - é sobre Jade? - arregalei meu olhos  esperando sua resposta apreensiva.

- Porque eu saberia dela?

- Não sei, vocês parecem ter um grau de intimidade, talvez ela te ligou pra me falar ou preparar para algo que não seja muito bom. - Ergui as sobrancelhas.

- Ela não me ligou. Então o choro dos últimos dias foi por causa dela, brigaram ou algo do tipo?

- Não, mas eu não consigo falar com ela desde a virada, isso ta me matando por dentro, e eu não sei mais o que fazer. Juro que se eu soubesse o endereço de onde ela está eu iria atrás.

- Talvez ela esteja resolvendo assuntos pessoais e preferiu se afastar - eu a
interrompi.

- Sem avisar? Ela poderia ter falado qualquer coisa, pelo menos eu não estaria nessa agonia pensando todas as besteiras desnecessárias, ela sabe como eu sou.

- Não posso discordar, mas talvez tenha acontecido algo que a impossibilitou, você sabe que as coisas não estão legal pro lado dela.

- Eu entendo isso, mas o que custava fazer uma ligação e falar ei está tudo bem, nos vemos amanhã ou sei lá qualquer dia desses. - falei em tom de desabafo.

- Você está chateada e com razão, mas não leve tudo ao extremo, ela te ama. - me olhou com ternura.

- Me diz porque tem que ser assim? - Tomei um gole do chocolate.

- Oh minha menina - ela aproximou e abraçou - se ela tiver que ser sua ela vai ser, se não, você é forte e vai superar.

- Eu nunca vou superar, o que eu sinto por elas é mais do que eu senti pelos
namorados e rolos que tive a minha vida toda, ela é o melhor que me aconteceu.

- Eu sei amor, nunca te vi tão feliz e triste por alguém, ela é o seu sonho e o seu pesadelo, mas ela é o seu sustento.

- Eu não sei mais viver sem ela.

- Fique calma, tome seu chocolate, come seus biscoitos e tenta pensar positivo, uma hora outra ela vai dar sinal de vida.

- Não diga isso Maria, que eu já penso que aconteceu algo grave, você acha que aconteceu algo grave com elas? - perguntei em tom desesperado.

Wake UpOnde histórias criam vida. Descubra agora