Quinze

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26 de março de 2017

Raquel

São oito da manhã e, por alguma razão que eu não compreendo, o meu corpo decidiu que é hora de acordar, embora seja cedíssimo e nós só tenhamos combinado sair de Lisboa às dez e meia. Por mais voltas que eu dê na cama, não há forma de voltar a pregar olho, por isso fico simplesmente a olhar para o teto branco do quarto de hotel que o André insistiu em pagar para que ficássemos a dormir em Lisboa esta noite.

André.

Jesus, não sei o que se passa comigo, mas aquele rapaz... Não deixou os meus pensamentos a noite toda, até sonhei com ele! Não consegui parar de pensar na forma algo protetora como ele age comigo e na forma carinhosa como ele me abraçou e beijou a minha testa. Não me lembro de algum rapaz me ter tratado assim antes. Mas, pensando bem, a minha experiência com rapazes reduz-se ao pai do Santiago e não foi uma experiência lá muito boa.

A verdade é que o André é diferente de todos os outros rapazes que eu já conheci – não por ser famoso, mas por ser tão... especial. Ele apareceu do nada na minha vida, literalmente por um mero acaso de ser filho da enfermeira que tomava conta do meu filho. E ele apareceu e tornou-se num verdadeiro amigo do dia para a noite. Não precisava de ter estado do meu lado da forma que esteve, não precisava de me ter ajudado, mas mesmo assim ele ficou e mostrou sempre a sua preocupação e o seu carinho. Ao contrário do que é esperado de rapazes como ele, ele é extremamente humilde, carinhoso, generoso, bondoso... Ele é perfeito e é isso que me assusta. Ele tem tantas coisas boas, faz-me acreditar que é a melhor pessoa que conheci na minha vida toda, mas... Deve haver um defeito, certo? E se eu estiver a criar toda esta amizade, toda esta conexão com ele, e ele acabar por me desiludir? Quero dizer, eu gosto muito dele e somos bons amigos, mas e se ele me desilude? É claro que eu não devia estar a pensar nisto, mas eu também gostava muito do Guilherme e depois deu no que deu. Eu sei que o Guilherme não era só meu amigo, mas...

Que confusão! Tens de parar de pensar nisto, Raquel. O que raio é que te está a dar?!

Eu não gosto do André como mais do que um amigo e eu não posso criar ideias parvas na minha cabeça. Somos bons amigos. Só e apenas isso. Certo?

- Bom dia, mamã. – o pequeno ser ao meu lado murmura, abrindo os seus olhinhos cor de mel na minha direção – Que horas são?

- Bom dia, pequenino. – sorrio, deixando um beijo na sua testa – São oito e meia. Ainda é cedo, podes dormir mais um bocadinho.

Ele assente, agarrando os seus bracinhos ao meu tronco e encostando-se ao meu peito, e volta a fechar os seus olhos, adormecendo de novo. Eu sorrio perante aquela figurinha que é, literalmente, a minha vida. Eu fico tão enfeitiçada a olhar para si que acabo por adormecer um pouco até o despertador tocar.

Antes de acordar o Santiago, eu troco o pijama do hotel pela roupa que trazia ontem à noite e só depois o acordo, vestindo-o também. Assim, como combinado, são dez quando nós nos encontramos com os Silva para tomarmos o pequeno-almoço na pequena pastelaria onde combinámos com o André. Mal lá chegamos, avistamos o moreno do sorriso bonito à nossa espera.

- Bom dia. – ele cumprimenta e logo o Santiago corre até ele para o abraçar.

Não percebo o amor que existe entre estes dois, mas o Santiago adora o André de uma forma incrivelmente bonita. Ele vê nele um exemplo, um ídolo, uma pessoa de quem gosta muito e que sabe que gosta muito dele também.

Acasos Felizes | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora