Trinta

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1 de julho de 2017

Hoje faz exatamente cinco anos desde o dia em que o Santiago nasceu. E eu recordo-me desse dia como se fosse hoje.

Faltavam duas semanas para o tempo terminar e eu já tinha contrações há algum tempo, pelo que estava de repouso fechada em casa. Naquele dia, resolvi que estava farta de estar sozinha e convenci a minha prima a ir comigo à praia a Matosinhos. E fomos. Ao final do dia, quando regressávamos a pé para a estação de comboio, as águas rebentaram e eu acabei por ir de ambulância para o hospital, onde o Santiago viria a nascer três horas depois. Ao contrário do que a maioria das mulheres diz do primeiro parto, o meu não foi muito difícil. Tive algumas dores, como é normal, mas como pude levar epidural foi tudo muito mais tranquilo e mesmo no pós-parto não me sentia muito dorida. Acho que me posso considerar uma sortuda, nesse aspeto.

Faz hoje cinco anos que a pessoa mais importante da minha vida, aquela que eu sei que vou amar eternamente, veio ao mundo e eu sinto um enorme orgulho de o Santiago ser meu filho. Não nasceu nas condições familiares ideais, mas eu fiz o que podia e não podia para o educar da melhor forma e acho que estou a fazer um bom trabalho.

Eu levanto-me então da cama, após estar bem acordada, e desço para a cozinha para preparar, juntamente com a minha mãe, o pequeno-almoço especial para o Santiago. A minha mãe está a fazer panquecas, como ele tanto adora, e eu aproveito para fazer sumo de laranja. Quando está tudo pronto, eu e os meus pais dirigimo-nos ao quarto do Santiago para o acordar com um belo coro de parabéns.

- Parabéns, meu amor! – eu exclamo, abraçando o Santiago tão perto de mim que até tenho medo de o magoar – Estás a ficar crescido.

- Já tenho cinco anos, mamã! – ele diz, entusiasmado, cumprimentando os meus pais.

- Já és crescido! – o meu pai concorda.

- Vá, vamos tomar o pequeno-almoço. – eu digo, levando o Santiago às minhas cavalitas até à cozinha.

Quando chegamos à cozinha, eu começo a preparar o pequeno-almoço para o Santiago, mas sou interrompida pelo toque insistente do meu telemóvel. O nome do André faz-me sorrir mas eu resisto à tentação de atender, porque sei que ele quer dar os parabéns ao Santiago.

- Santiago, acho que tenho aqui alguém que te quer dar os parabéns... - digo, passando-lhe o telemóvel.

Os minutos em que o Santiago fala com o André deixam-me deliciada por ver o sorriso na cara do meu filho e o entusiasmo com que fala com o meu namorado. A relação deles os dois é tão bonita que realmente aquece o meu coração. Dou por mim tantas vezes a desejar que fosse o André o pai do Santiago... Ele trata-o com tanto carinho e cuidado e o Santiago vê-o com tanta admiração que eu não consigo deixar de pensar num cenário hipotético em que os três seríamos uma verdadeira família.

- Mamã, o André quer falar contigo. – o Santiago passa-me o telefone e eu sorrio.

Com os fusos horários diferentes, eu e o André mal temos falado nos últimos dias. Temos trocado algumas mensagens e fotografias no Instagram, mas já não ouço a voz dele há algum tempo e isso tem-me feito mais falta do que eu imaginava.

- André. – eu quase suspiro o seu nome quando coloco o telefone no meu ouvido.

- Foda-se, tenho tantas saudades tuas. – ele afirma e eu não evito rir com a sua expressão grosseira mas tão caraterística.

- Também tenho muitas saudades tuas. – admito – Como é que estás?

- Cansado. Já tive treino hoje de manhã para o jogo de amanhã. Foi uma coisa mais soft, mas logo à tarde voltamos à carga. – ele explica.

Acasos Felizes | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora