Nove

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26 de fevereiro de 2017

Raquel

Quando chego a casa do trabalho, eu encontro o alvoroço e a boa disposição em casa. São quase oito da noite e, por momentos, eu estranho ao ver as caixas de pizza em cima da mesa da sala e os meus pais e o Santiago sentados em frente à televisão. Contudo, depois eu lembro-me de que hoje é dia 26 e que daqui a pouco tempo começa o jogo do Porto com o Boavista – o clube rival da cidade.

Desde pequena que sempre foi tradição cá em casa vermos os jogos do Porto e da seleção juntos sempre que podíamos. Quando calhava à hora de jantar, lá se encomendava uma comida mais rápida para todos podermos comer em frente à televisão enquanto víamos e comentávamos o jogo. Numa casa de portistas ferrenhos, esta tradição foi-se mantendo e parece que também já foi passada ao meu filho, o que me deixa muito feliz por saber que ele vai ter recordações tão boas destes momentos como eu tenho.

- Mãe, chegaste mesmo a tempo! – o pequeno Santiago exclama, correndo na minha direção para me abraçar – O jogo vai começar!

Assim, eu pouso as minhas coisas, cumprimento os meus pais e ocupo o meu lugar no sofá ao lado do Santiago. Ele começa por reclamar ao ver que o André não se encontra na lista do onze inicial, estando no banco, mas logo fica tão embrenhado no jogo que esquece o assunto. Realmente, é incrível ver como um miúdo tão pequeno nutre uma paixão tão grande por futebol e por este clube em especifico, mas é como se estivesse nos genes da nossa família. Quando, aos sete minutos, Soares marca o primeiro golo da partida, uma enorme festa instala-se na nossa sala de estar, com muito entusiasmo da parte do meu filho.

- Se o Espírito Santo tivesse metido o André Silva a jogar com o Soares, ainda tinham vindo mais uns quantos. – o meu pai comenta, no final da partida, que acaba com 0-1 para o Porto.

Por momentos, eu relembro a conversa que tivemos ontem à noite, através de mensagens, justamente sobre o jogo de hoje. Ele revelou-me que não iria ser parte do onze inicial, o que, obviamente, o deixou um pouco triste, porque ele tem-se esforçado imenso nos treinos e sente que não está a conseguir o reconhecimento que pretende por parte do treinador e dos colegas de equipa. Acho que é normalmente que um jogador como ele, em início de carreira, tenho este tipo de inseguranças, mas acredito que, pouco a pouco, ele vai começar a marcar a sua presença e a mostrar o seu enorme talento ao treinador e aos adeptos do clube. Lembrando-me do moreno, decido enviar-lhe uma mensagem.

Raquel: Parabéns à equipa pela vitória de hoje!

André: Obrigado! Parabéns entregues à equipa.

Raquel: Fizeram uma boa exibição, hoje. Cá em casa, estivemos todos coladinhos à televisão.

André: Gostava de ter contribuído para a vitória, mas todos os jogadores em campo fizeram um trabalho bestial.

Raquel: O teu momento vai chegar, André. Tenho a certeza. Portugal vai (re)conhecer o teu talento.

André: Obrigado pela motivação, a sério. Isto hoje está mau, mas amanhã voltamos aos treinos e a minha cabeça volta ao sítio.

Raquel: André, acima de tudo, não podes é perder o foco. Tu sabes exatamente aquilo que queres e eu acho que estás num ótimo caminho. Só tens de continuar a trabalhar e a lutar pelo lugar que mereces ter como titular. Vais ver que os teus objetivos estão mais perto do que pensas, não podes é deixar-te ir abaixo.

André: Obrigado por seres essa pessoa incrível, Raquel. Não sei o que era de mim sem ti.

Por momentos, eu agradeço mentalmente a todos os santinhos por não estarmos a ter esta conversa pessoalmente, porque a sua última mensagem fez-me corar. Mas ele está obviamente a exagerar.

Acasos Felizes | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora