Dois

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26 de dezembro de 2016

Viro mais uma página do meu livro, continuando embrenhada na história que me tem cativado desde que os meus pais me ofereceram este livro – ou seja, desde ontem. Já li mais de meio livro, mas a história é realmente cativante e viciante e eu sempre fui totalmente viciada em livros e em tudo aquilo que se possa ler.

- Boa tarde. – uma voz masculina ecoa no quarto e eu sou forçada a desviar o olhar das letras da página para o moreno que acaba de entrar no quarto de hospital. Eu rapidamente pouso o livro e apresso-me a levantar para o cumprimentar – O Santiago não está?

Estou um pouco surpreeendida pelo facto de, apenas dois dias depois de ter conhecido o meu filho, André estar aqui para o visitar. Quero dizer, ele não tem qualquer obrigação em fazê-lo e ele mal nos conhece. O que pode querer ele de nós?

- Não... Ele foi fazer uns exames e agora está a fazer o último tratamento antes de irmos para casa. Não deve demorar muito e tenho a certeza de que vai ficar eufórico assim que te vir aqui. – afirmo, com total certeza das minhas palavras. Ontem o Santiago passou o dia todo a falar do André e de como tinha sido tão fixe conhecê-lo.

- Fico muito feliz que ele já vá para casa. – André comenta, sentando-se ao meu lado no pequeno sofá do quarto de hospital.

- Para já, o plano é esse. Mas já sabemos como as coisas funcionam e vamos acabar por voltar... Algumas vezes passam-se semanas, outras apenas dias. – explico, encolhendo os ombros em sinal de conformação.

- Não imagino como deve ser doloroso lidar com esta situação... - André suspira – Ainda por cima, ele é tão pequeno!

- Por incrível que pareça, é ele que me dá força a mim. É ele que me faz ter vontade de encarar os dias com algum ânimo. – eu digo, soltando um sorriso triste – Tenho a maior sorte do mundo em ter o filho que tenho.

- Não tenho as menores dúvidas disso. – André afirma, sorrindo-me, e depois muda de conversa, tentando criar um ambiente o menos constrangedor possível – És uma adepta tão fervorosa da Porto como o Santiago? – André questiona eu rio-me com a sua pergunta.

- Não sei se sou tão esfuziante como o Santiago, mas sou uma grande fã do clube, desde miúda. É uma coisa que nos está nos genes. – explico e ele ri-se.

- Isso é ótimo, porque eu hoje venho aqui cumprir a promessa que fiz ao Santiago. – André revela e eu franzo a sobrancelha, confusa com as suas palavras.

- Isso quer dizer que vou, finalmente, saber que promessa é essa? É que tentei sacar todas as informações possíveis ao meu filho e ele não disse nada! – exclamo, fingindo-me ofendida, soltando uma gargalhada de seguida.

- Primeiro, eu prometi-lhe que voltaria para o visitar e que não iriamos perder o contacto. – André explica – E eu juro-te que foi sentido, porque ele é um miúdo espantoso, ainda mais incrível do que a minha mãe me contava. Depois, prometi-lhe que iria arranjar bilhetes para um jogo.

- André! – eu quase que ralho num tom intimo e quase maternal, esquecendo-me por instantes de que mal conheço o rapaz ao meu lado – Não tinhas nada que fazer essa promessa!

- Mas eu vou cumpri-la, eu não o vou desiludir. – ele responde, defendendo-se, mas ele não percebe o meu ponto.

- Eu não duvido disso, André, mas isso é algo muito grande e tu não tens obrigações nenhumas de fazer isto! Nós não te somos nada e não tens de perder o teu tempo connosco! – explico, continuando a usar o tom de repreensão e, por momentos, é como se me esquecesse que ele é uma pessoa famosa que mal conheço.

- Ouve, Raquel, eu compreendo que isto seja estranho para ti. Eu sei que sou um gajo qualquer que dá uns toques numa bola e que até tem algum mediatismo e que, por isso, tu achas que se quer armar em herói. Mas eu juro que estou a ser sincero e que estou a agir de coração. Eu comecei a gostar do Santiago antes mesmo de o conhecer, só pelas coisas incríveis que a minha mãe me dizia sobre ele, e no momento em que entrei neste quarto percebi o quão espantoso ele é. Eu não estou a armar-me em herói nem a querer ser a melhor pessoa do mundo, eu estou a ser genuíno e sincero. Não quero qualquer reconhecimento pelo que estou a fazer, muito pelo contrário. O Santiago merece toda a felicidade que lhe pudermos dar e já que não há mais nada que eu possa fazer, ao menos quero fazê-lo feliz. – André diz e as suas palavras acalmam-me um pouco.

- Tudo bem. Eu peço desculpa, fui um pouco rude. – desculpo-me.

- Não há mal. Eu compreendo que esta situação seja muito difícil para ti... - André afirma – Mas não percas a esperança, porque eu sei que ele vai ficar bem.

- Esperemos que tenhas razão. – eu suspiro.

O silêncio instala-se por alguns segundos, mas é logo interrompido pela chegada ao quarto da criança mais incrível à face da Terra. Eu sorrio com a sua boa disposição e com a animação espalhada no seu rosto assim que vê André.

- Vieste! – ele exclama.

- Eu prometi, não prometi? – André pergunta e o meu filho assente – Então pronto, agora sabes que sempre que eu prometer algo, eu vou cumprir. E, por falar em cumprir, tenho uma coisa para te contar e tenho a certeza de que vais adorar saber o que é.

- Conta, conta! – Santiago pede, entusiasmado, e eu não consigo parar de sorrir quando a felicidade estampada nos seus olhos.

- Arranjei bilhetes para tu ires ver o FC Porto-Feirense com a tua mãe no dia 29. – André revela e o brilho nos olhos de Santiago ainda aumenta mais.

- Vais jogar? – ele pergunta, curioso.

- Em principio, não, a não ser que seja numa substituição. – André conta – Mas não faz mal. O importante é que tu te divirtas.

- Mamã, nós vamos ver o jogo? – Santiago pergunta-me, com o brilho nos olhos a iluminar o seu rosto. Eu olho para o André, que espera pela minha resposta, e sorrio.

- Vamos. – eu cedo e o meu filho festeja.

- Vai ser tão fixe! – ele exclama, fazendo-nos gargalhar – E quando é que vamos para casa, mamã?

- Assim que a doutora vier falar connosco. – respondo – Tu estás bem-disposto?

- Sim! – ele exclama – O André podia ir jantar connosco lá a casa.

- Santi, ele deve ter outras coisas para fazer. – eu digo ao meu filho, para que ele não crie grandes expetativas e não pressione demasiado o rapaz.

Não quero que o Santiago se apegue demasiado ao André, apesar de tudo o que o moreno me disse há uns minutos atrás. A vida do André não é propriamente normal e eu não sei até que ponto ele deseja fazer parte da vida do Santiago. Não quero que o meu filho crie demasiadas expetativas que mais tarde possam ser derrubadas.

- Sim, Santiago, hoje não me dá muito jeito e, além disso, tu tens de ir descansar. Combinamos para outra altura, está bem? – André pergunta e ele assente – Sendo assim, eu vou indo que ainda tenho de ir ao clube tratar de umas coisas. Até ao jogo, Santiago!

- Até ao jogo, André! – o meu filho exclama, acenando ao moreno que deixa o quarto de sorriso no rosto. 

***

Então, bem, aqui está mais um capítulo desta história. Acho que aqui foram esclarecidas as intenções do André em relação ao Santiago. O que vocês pensam disto? Gostava muito de saber as vossas opiniões!

Obrigada às pessoas que têm acompanhado, votado e comentado nesta história. É muito importante para mim. Obrigada!

A little question: se eu publicasse uma história com o James Rodríguez alguém leria?

Acasos Felizes | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora