Onze

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6 de março de 2017

André

A verdade é que depois de uma noite mal dormida, o treino nunca é tão produtivo como eu gostaria que fosse. Sinto-me distraído, desconcentrado e um pouco cansado, como se os meus músculos não estivessem a responder às ordens que o meu cérebro lhes dá. Na verdade, eu nem sei exatamente por que motivo é que dormi mal, mas sei que, inevitavelmente, tem a ver com o que aconteceu ontem.

O momento em que eu e a Raquel nos beijámos permaneceu na minha cabeça durante o resto do dia de ontem e ainda hoje continua. É claro que a boa notícia em relação ao Santiago também me deixou muito feliz e me "inquietou" um pouco durante a noite, mas sei que foi aquele beijo que me tirou o sono. Eu sei que o beijo surgiu de ambas as partes mas eu não sei o que passou pela cabeça dela e acho que nem eu mesmo sei o que passou pela minha cabeça. Sei que foi algo bastante instintivo, por impulso, mas isso devia ter um motivo, certo? Eu devo ter tido um motivo para a beijar, não? Será que foi só do calor do momento, por compaixão?

- Estiveste muito longe durante o treino todo... - o Diogo [Jota] afirma, enquanto ambos caminhamos para fora do balneário.

- Eu sei... Dormi mal, então o treino não foi dos melhores. - concordo.

- Queres falar do que se passa? Sabes que sou bom ouvinte. - ele diz e eu sorrio-lhe.

- Acho que é capaz de me fazer bem. - comento – Vamos almoçar a qualquer lado.

- Sim, claro. Podemos ir ao Top Grill. - o Diogo sugere e eu concordo – E para queimarmos as calorias que vamos ingerir até podíamos era ir a pé.

- Está bem, vamos lá.

Durante o caminho a pé até ao restaurante, que não é muito longo, eu aproveito para contar ao meu colega de equipa e amigo sobre os acontecimentos da tarde de ontem. Não é a primeira vez que lhe falo da Raquel, pelo que eu não preciso de dar grandes explicações sobre a nossa ligação.

- Sinceramente, André, eu não acho que isso tenha sido só compaixão como tu dizes... - o Diogo comenta, enquanto passa os olhos pelo menu do restaurante.

- Então achas que foi o quê? É que eu preciso de compreender, se não vou andar a matutar nisto durante demasiado tempo. - explico.

- Nem se quer consideras a hipótese de poderes sentir algo por ela? Quero dizer, todos conhecemos esse André playboy que tem sempre miúdas atrás dele, mas tenho a certeza que, tal como o comum dos mortais, tu és capaz de sentir qualquer coisa. E ela é diferente das outras miúdas. Ela não andava propriamente atrás de ti, tu é que acabaste por entrar na vida dela e decidiste ficar. Acho mesmo que devias pensar mais seriamente na opção de poderes estar a começar a sentir algo mais do que amizade e compaixão por ela. - o Diogo fala, do alto dos seus dezoito anos, como se tivesse toda a experiência do mundo em relações amorosas.

- Agora parecias mesmo o meu irmão quando se arma em filósofo e em guru do amor. - brinco, sorrindo – Mas não sei mesmo, Diogo. Ela é uma rapariga bonita, simpática, inteligente, que tem uma história de vida do caraças e uma força que eu admiro... Mas até que ponto é que eu gosto mesmo dela? Não sei, não consigo perceber.

- Então, tens de fazer um esforço por conhecê-la melhor, fora do contexto em que estão habituados a estar... Leva-a a sair, num encontro. Só depois de passares algum tempo com ela é que vais ser capaz de perceber os teus sentimentos. - ele afirma e eu sorrio.

Acasos Felizes | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora