Sexto

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14 de janeiro de 2017

São cerca de seis da tarde quando eu entro em casa, chegada de um longo dia de trabalho no restaurante onde faço um dos meus part-times. É realmente difícil conciliar dois trabalhos com cuidar de um filho que precisa de todos os cuidados e de toda a atenção possíveis, mas é algo que se aprende a fazer com o tempo.

- Então, querida, como correu o teu dia? – o meu pai pergunta, quando o vou cumprimentar à oficina que ele montou ao lado de nossa casa.

- Foi normal. – respondo, encolhendo os ombros – Estou muito cansada.

- Então vai descansar um pouco. O Santiago está na sala a ver bonecos com a tua mãe, por isso podes ir dormir um pouco. – o meu pai diz e eu assinto, sorrindo-lhe e deixando-lhe um beijo na bochecha antes de entrar em casa.

Assim que entro em casa, eu dirijo-me logo à sala para poder cumprimentar a minha mãe e o Santiago. Eu apresso-me a abraçá-lo fortemente e a enchê-lo de mimos. Por mim, passava todos os segundos do meu dia com ele, porque estar longe dele consegue ser algo muito doloroso.

Sem dúvida que, depois de ter sido mãe, comecei a perceber muito melhor todas as atitudes que os meus pais tiveram comigo ao longo do meu crescimento. Todos aqueles momentos em que achamos que eles são demasiado protectores ou que são demasiado chatos e nos tratam como se fossem crianças... São perfeitamente justificáveis. Não há amor que se compare ao que uma mãe sente por um filho e tudo o que queremos é o melhor e nada menos do que isso.

- Querida, hoje chegou uma carta para ti. – a minha mãe avisa-me e eu estranho – Está em cima da mesa da cozinha.

Eu assinto e vou até à cozinha para pegar o envelope branco sem remetente. Que estranho. Não faço a mínima ideia do que isto poderá ser, mas para descobrir só me resta mesmo abrir. Quando eu vejo os dois bilhetes para o jogo do Porto com o Moreirense, eu sei de imediato de quem é esta carta. Contudo, o bilhete que vem anexado esclarece todas as minhas dúvidas.

«Sei que da última vez que vos convidei para ir ver um jogo, o Santiago piorou, mas ele agora tem estado bem melhor e eu adoraria ter-vos no próximo jogo. Estou entre os convocados e gostava muito de vos ter na plateia, amanhã. Se não quiseres, eu compreendo. Diz-me apenas qualquer coisa.

Beijinhos,

André Silva»

- Então, filha, que carta era aquela? – a minha mãe pergunta-me quando eu regresso à sala.

Por momentos, eu fico indecisa sobre contar à minha mãe, porque gostava que fosse surpresa para o Santiago, mas acabo por dizer na mesma, porque sei que ele vai delirar com a novidade.

- Era do André. – eu revelo e eu vejo que, assim que eu pronuncio o nome do jogador, as atenções do meu filho deixam os desenhos animados.

- Do André Silva? – ele pergunta e eu assinto, sorrindo com os seus olhos brilhantes e expectantes.

- Mas o que é que dizia, filha? – a minha mãe pergunta, tão curiosa como o neto.

- É uma carta com dois bilhetes e um convite para o jogo de amanhã. – eu revelo e eu vejo logo o Santiago a fazer uma festa – Eu ainda não aceitei, Santiago. Tens de te portar bem.

- Mamã, eu prometo que me porto bem. – ele diz, fazendo beicinho – O André vai jogar?

- Hum-hum. – eu aceno afirmativamente e eu vejo o quão entusiasmado ele está – Tu queres ir?

Acasos Felizes | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora