Vinte e Cinco

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19 de abril de 2017

Raquel

Eu sei que houve momentos da minha adolescência que eu saltei e que fui, de certo modo, privada de os viver porque tudo aconteceu demasiado rápido e eu fui obrigada a crescer. Uma das coisas com que eu acho que qualquer adolescente sonha é com aquela relação perfeita em que é acarinhada e bem tratada, em ter aqueles momentos em que se sente efetivamente feliz, como os passeios de mão dada com o namorado. Eu, pelo menos, sempre sonhei com isso e, apesar de ter estado numa relação com o Guilherme, eu nunca o tive. Não tínhamos uma relação convencional. Éramos mais amigos com benefícios do que propriamente namorados, apesar de eu ser apaixonada por ele. Eu sabia que nunca poderia exigir dele que fosse um namorado perfeito e, por isso, nunca o exigi e nunca tive nada daquilo com que sonhei. Até agora.

Neste momento, estou a passear à beira do Douro de mãos dadas com o André enquanto conversamos e trocamos carinhos como um casal apaixonado que somos. E isto era o meu sonho de adolescente ingénua e inocente, o sonho que ele tornou real. A cada momento que passo com o André, o meu desejo de que tudo isto dê certo só se torna mais forte, porque ele faz-me sentir tão bem, tão feliz que eu não quero que isto acabe nunca. Pela maneira como as coisas estão a acontecer, pela intensidade com que eu estou a viver esta relação, eu sei que se isto acabar – ou quando isto acabar – eu vou estar tão ou ainda mais destroçada do que fiquei quando o Guilherme me deixou e eu sei que não quero que isso aconteça.

- Viajaste para bem longe daqui por instantes. – o André comenta.

- Eu sei, desculpa. – digo, sorrindo.

- Posso saber no que é que estavas a pensar? – ele pergunta.

- Em nós. – respondo prontamente.

- Em nós? Como assim? – ele pergunta e eu preciso de pensar durante algum tempo se quero ou se sou capaz de falar disto.

- Bem, acho que temos uma longa conversa pela frente. – eu digo, sorrindo – Às vezes, eu penso demasiado, por isso acho que tenho muito que te explicar. – continuo, proporcionando uma gargalhada no André.

- Tenho todo o tempo do mundo e todo o gosto em ouvir-te. – ele afirma – Que me dizes de nos irmos sentar numa esplanada?

- Parece-me bem. – concordo, sorrindo-lhe.

Nós caminhamos em direção à zona das esplanadas e depois de encontrarmos uma esplanada agradável onde decidimos ficar, nós pedimos dois sumos de fruta naturais e duas tostas mistas, já que a tarde está a avançar rápido e ambos já temos alguma fome.

- Então, há uma coisa que tens de aprender sobre mim. Eu divago imenso. Parto de uma coisinha de nada e depois faço todo um filme de pensamentos na minha cabeça. – explico, soltando uma gargalhada – É um bocado estranho, eu sei, mas sempre fui assim. Sempre analisei demasiado as coisas e sempre racionalizei muito tudo. Acho que, às vezes, acaba por ser mais um defeito do que uma qualidade, mas é algo que não consigo alterar. – continuo, encarando os olhos castanhos do André que me observam com a máxima atenção.

- Então e para onde foi que o teu pensamento partiu desta vez? – o André questiona, atentamente.

- Do facto de tu seres a realização dos meus sonhos. – respondo, ainda que me sinta algo envergonhada com a verbalização dos meus pensamentos. Ele é tão especial para mim e tão importante que eu tenho sempre medo de dizer a coisa errada no momento errado – Eu passo a explicar. Como todas as adolescentes, eu sempre sonhei com a relação perfeita com o rapaz perfeito e isso consistia em alguém que me mimasse, que me tratasse bem e na simples imagem de passear com esse alguém de mãos dadas simplesmente a desfrutar da companhia dessa pessoa. – explico – E o Guilherme, o pai do Santiago, nunca me deu isso. Não é que me tratasse mal, mas nós não tínhamos uma relação normal e não fazíamos coisas normais de namorados. Ele não era a pessoa mais afetuosa do mundo ou, pelo menos, não o demonstrava. Então, eu nunca tive essa parte do meu sonho de adolescente realizada. Até agora. Tu és a realização de tudo aquilo que eu sempre desejei e isso deixa-me nas nuvens, como se tivesse voltado à adolescência que queria ter tido.

Acasos Felizes | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora