Vinte e Quatro

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19 de abril de 2017

André

O toque irritante do meu despertador relembra-me que tenho treino daqui a menos de duas horas e que, por esse motivo, tenho de me levantar da cama muito em breve. Após alguns minutos a tentar abrir os olhos e adaptar-me à luminosidade do quarto, eu finalmente ganho coragem para me levantar. São 8h15, o que significa que tenho tempo para tomar o pequeno-almoço aqui e ir a casa preparar-me para o treino, uma vez que acabei por ficar a dormir em casa dos meus pais mas não trouxe as coisas que precisava para o treino.

- Posso, filho? – a voz da minha mãe soa do outro lado da porta após duas curtas batidas.

- Claro que sim. – murmuro, com a minha voz mais grossa e rouca do que o normal devido a eu ter acordado há apenas alguns minutos.

- Bom dia. – o seu sorriso acolhedor e familiar cumprimenta-me – Tomas o pequeno-almoço connosco?

- Sim. Como aqui qualquer coisa e depois vou só a casa buscar as coisas para o treino. – explico, levantando-me e começando a vestir algumas das peças de roupa que ainda mantenho em casa dos meus pais – O Afonso precisa de boleia para a faculdade?

- Não sei, ele ainda não desceu. Vou chamá-lo agora e depois vocês entendem-se. – a minha mãe responde – Vai indo para baixo que já vou preparar-vos o pequeno-almoço.

O motivo pelo qual eu decidi ter o meu próprio apartamento ao invés de continuar a viver em casa dos meus pais foi a necessidade de independência. É claro que eu ganhava o meu dinheiro e isso é um fator muito importante no que toca a ser independente, mas eu precisava de mais. Queria ser dono da minha própria vida, ser eu a gerir o meu tempo, as minhas despesas, a ter de gerir a minha casa e a minha vida, no geral. Como sempre, os meus pais apoiaram-me, mesmo que não tenham ficado muito satisfeitos com a decisão, e fizeram-no porque sempre confiaram em mim e sabem que eu preciso de aprender por mim próprio, então deixaram-me tomar este passo mesmo que achassem que não era o momento certo. Eu não me arrependi de ir viver sozinho e eu sei que, com o tempo, eles foram aceitando e concordando mais com a minha decisão. Contudo, sabe sempre muito bem voltar a casa dos meus pais e é por isso que o faço com tanta regularidade. Sabe bem ver o sorriso carinhoso da minha mãe e receber o abraço matinal do meu pai, assim como é bom poder discutir com o meu irmão como quando éramos putos – embora isso continue a acontecer com imensa frequência porque continuamos a passar muito tempo juntos. Resumindo, sabe bem voltar a casa, nem que seja por algumas horas apenas, para voltar a ser o menino dos papás.

- Bom dia. – cumprimento o meu pai ao chegar à cozinha, ocupando aquele que é o meu lugar habitual na mesa.

Alguns minutos depois, a minha mãe junta-se a nós, sendo depois seguida pelo Afonso, que vem com um ar ainda mais sonolento que o meu. A minha mãe põe o pequeno-almoço na mesa e, tal como nos velhos tempos, todos começamos a nossa refeição entre conversas matinais.

- A Raquel gostou do jantar de ontem? – a minha mãe pergunta.

- Sim. – respondo, sorrindo.

- Olha só para ele... Basta falar no nome dela que ele baba-se logo todo. Então, maninho, isso está mesmo grave...! – o Afonso goza-me mas eu apenas reviro os olhos.

- Deixa-te de ser invejoso, mas é. – respondo – Querias tu ter uma namorada como a minha. – atiro.

- Eu tenho as que eu quiser, André Miguel... - o meu irmão responde no seu habitual tom de garanhão.

Acasos Felizes | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora