Vinte e Um

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14 de abril de 2017

André

Normalmente, em vésperas de jogos, sejam eles muito importantes ou não, eu gosto de passar algum tempo sozinho, apenas a relaxar e a refletir sobre as coisas, motivo pelo qual hoje resolvi vir dormir ao meu apartamento em vez de ficar em casa dos meus pais – como acontece na maioria das vezes. Amanhã nós vamos jogar a Braga e, apesar de não ser um jogo teoricamente muito difícil, nós sabemos que há muito trabalho a fazer pois vamos defrontar o quinto lugar da tabela do campeonato.

Ultimamente, sinto-me muito mais motivado nos jogos. Acho que finalmente percebi que tenho de acreditar em mim e no meu potencial para que as outras pessoas também possam acreditar. E eu sinto que o Mister tem reconhecido o meu valor, pois não há de ser à toa que ele me tem posto a titular em quase todos os jogos. Ele sabe que eu posso ajudar a equipa e neste momento esse é o meu principal foco.

O som de mensagem do meu telemóvel faz-me sair do transe dos meus pensamentos e colocar o filme que estou a ver em pausa, apesar de ter a certeza que perdi alguma parte importante por estar completamente ausente nos meus pensamentos.

Raquel: Alô. Passei só para desejar boa sorte para o jogo de amanhã. Vais arrasar, de certeza. Mostrem quem manda nesta porra toda! Dorme bem. Adoro-te.

É inevitável eu não sorrir feito parvo ao ler a mensagem, porque deixa-me realmente feliz ter a certeza que ela pensa em mim e que se preocupa comigo. Não é que eu duvide disso, mas às vezes ela é uma pessoa um pouco fechada e eu nem sempre sei o que se passa na cabeça dela. Mas sabe muito bem receber estas mensagens, perceber que ela realmente se importa comigo e que pensa em mim. Isto para não mencionar que aquele adoro-te final derreteu o meu coração.

André: Alô. Essa mensagem é só por si a boa sorte de que eu preciso. Obrigado. Prometo que vou sonhar contigo. Adoro-te.

Eu sorrio ao pensar na expressão da cara da Raquel quando ler a mensagem, arrumando depois o telemóvel e tirando o filme da pausa.

***

15 de abril de 2017

Quando chegamos ao Estádio Municipal de Braga faltam cerca de duas horas até ao começo do jogo. O treinador, Nuno Espírito Santo, começa por reunir connosco no balneário para nos relembrar de tudo o que falou nos últimos treinos, das táticas para o jogo de hoje, do onze inicial e das possíveis substituições... Após termos preparado o jogo em teoria e cada um saber exatamente o que tem de fazer e qual o seu lugar, nós começamos a equiparmo-nos e a prepararmo-nos para o aquecimento. A meia hora de aquecimento parece passar bastante rápido e o estádio já se encontra muito composto nesse momento. Quando regressamos ao balneário, todos nos preparamos mentalmente para o jogo, o que resulta num longo momento de silêncio, após o qual todos tentamos aligeirar o ambiente com conversas que fujam do tema do jogo.

Alguns minutos antes de jogo, todos entramos em campo, bem como a equipa do Sporting de Braga. Depois de todas as formalidades habituais, o jogo tem inicio. É logo aos seis minutos que o Sporting de Braga faz o 1-0, com um golo do capitão da equipa, Pedro Santos. É óbvio que isso é uma fonte de desmoralização para a nossa equipa, mas nós sabemos perfeitamente que este golo só tem de ser o motivo para nós nos esforçarmos ainda mais para, pelo menos para já, igualar o resultado.

A chegada do intervalo mantém a vantagem do Braga em relação a nós, o que nos vale uma espécie de ralhete motivacional no balneário. O mister altera algumas posições, modifica algumas das ideias iniciais para as táticas e pede-nos que lutemos como se este jogo fosse o decisivo do campeonato, apesar de não o ser. Felizmente, as suas palavras surtem algum efeito em nós e aos sessenta e dois minutos o Soares chuta a bola para o fundo da baliza, igualando o resultado. Apesar da expulsão do Brahimi aos oitenta e oito minutos nós conseguimos aguentar o empate, apesar de que a vitória teria sido um resultado muito mais favorável.

Acasos Felizes | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora