CAPÍTULO 12

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JOANA

- Ricardo, o que você está fazendo aqui? Como me achou? – Pergunto surpresa.

- Olá para você também, Jô. – Ele responde com um sorriso irônico e se levanta para me abraçar, eu o abraço sem jeito, lembrando que Marcos ainda estava por ali, nos observando.

Nos soltamos e eu sento de rente para ele na mesa. Marcos sentou no banco do bar, ficando um pouco distante com um olhar de interrogação em seu rosto.

Olhei para Ricardo e encarei aquele homem com o cabelo loiro escuro, os óculos dando um olhar nerd naquele rosto másculo e corpo magro, e ombros largos.

Ricardo era meu amigo antes de ser meu namorado. Ele e eu trabalhávamos na mesma empresa de design gráfico, e foi assim que nos conhecemos e nos tornamos mais próximos, entre conversas sobre o trabalho e trivialidades, logo passamos para conversas em barzinhos e encontros. Era bom e seguro. Eu me divertia e estava confortável com o nosso relacionamento, eu podia me ver naquele ritmo.

Até que a tragédia chegou até mim e eu não aguentava a presença dele ali, tentando me consolar e com um olhar de pena que me da raiva. Eu sabia que não era culpa dele, é uma reação muito normal mesmo que errada, olhar o luto do outro com pena.

Mas foi assim que eu percebi que nosso relacionamento não era assim tão perfeito. Eu fiquei acomodada naquela posição, e quando quis me isolar do mundo, a primeira coisa que fiz, foi cortar ele da minha vida. Mesmo que não fosse o que eu queria, ele merecia minha sinceridade. Ainda assim, eu percebi que ele achava que eu terminei com ele apenas pelo luto.

Ai ai.

- Bem, devo te dizer que te achar não foi fácil, mas quando você entregou seu aviso prévio e conversas começaram a rolar, pesquei algumas coisas e descobri seu novo endereço. – Ele olha em volta. – Caramba, Jô, de design gráfica em uma boa empresa, para viver no interior com a sua avó. Eu fiquei preocupado e achei que precisava vir aqui, te ver, saber de você. – Ele estende a mão na mesa, para tentar me tocar, me alcançar.

Eu podia entender o motivo dele pensar que provavelmente eu enlouqueci em um luto para trocar um bom emprego na cidade, para viver no interior. Mas não podia ficar menos insultada com o modo dele de falar isso ou pensar nisso.

Minhas escolhas são as minhas escolhas, não importa se são erradas ou certas, e com certeza ele não deveria ter aparecido do nada como se eu fosse alguém que precisasse da pena ou resgate de alguém. Eu sei como me cuidar.

Lhe dou um sorriso apertado antes de começar a falar.

- Ricardo, eu agradeço de coração sua consideração comigo e sua preocupação, mas eu estou ótima. Eu vim para cá por decisão própria e motivada apenas a me encontrar, e não para afundar no luto, porque da pra ver que aqui é um local bonito e aconchegante mesmo a noite.

Ele me olha desconcertado.

- E-eu pensei...

- Eu sei o que você pensou, mas eu estou ótima. E não preciso que venha aqui com pena.

Ele olha para mim chocado.

- Pena? Jô, eu sinto tudo por você, mas pena é a única coisa que eu não sinto. Eu vim aqui na tentativa de ver se você pretendia voltar, quais são suas escolhas a partir daqui e se eu me encaixo nessas escolhas.

Olho para ele agora sob uma nova ótica.

Ele veio aqui por mim, para saber de mim também.

- Eu agradeço sua preocupação, mas eu estou bem. Eu realmente estou bem e estou vivendo um dia de cada vez, não tenho planos para amanhã e nem depois disso, só estou vivendo. – Sorrio. Mas tento fugir do assunto de um futuro relacionamento com ele.

Claro que eu não voltaria, mas não queria magoá-lo, ele foi uma boa pessoa para mim.

- Entendo. – Ele sorri desconcertado. – E o que você faz aqui? Como anda tudo? Me conta.

Eu realmente queria conversar com ele, mas não agora. Olho para Marcos de relance antes de voltar a encarar Ricardo e suspiro, é, parece que eu vou ter que magoar o meu ex.

- Eu queria muito, muito mesmo ficar aqui e conversar, perguntar de todo mundo, mas eu tenho um compromisso.

- Ah, vai trabalhar? Bem, eu posso ficar aqui e esperar...

- Não exatamente... – Aceno sutilmente na direção do Marcos. – Eu tenho planos.

Ricardo olha para Marcos e volta a me encarar com os olhos tristes e cheios de pesar.

- Eu entendo.

Ele se levanta como se estivesse conformado, e por mais que eu quisesse confortá-lo ou pedir que ele ficasse, seria injusto da minha parte.

- E-eu vou para o hotel e nos falamos. – Ele acena e eu aceno e ficamos por isso mesmo.

O que mais eu podia dizer ou fazer? Eu não ia voltar com ele e não alimentaria falsas esperanças.

Ele podia ter ligado...

Mas eu andava tão área e os dias passavam cheios de coisa para fazer que mal olhava o celular ou prestava atenção nas mensagens.

Fiquei pensativa enquanto via a partida de uma boa amizade, quando Marcos ocupa o lugar que Ricardo estava a segundos atrás.

Ao contrário do Ricardo, o olhar de entendimento no rosto do Marcos, deixa o meu coração molenga.

Como é possível isso? Como é possível eu sentir tantas coisas por um homem em tão pouco tempo e não sentir nem metade delas por um homem que fiquei por dois anos inteiros?

Era horrível comparar ambos os relacionamentos, mas eu não podia deixar de pensar no que existia diferente da Maria Joana de antes e da Maria Joana de agora.

Eu sempre fui animada, extrovertida e brincalhona. Mas agora, parecia que eu tinha sofrido um certo upgrade. Fiquei mais sábia, passei por momentos dolorosos e não me sinto mais tão bem preparada para tudo, me sinto em constante aprendizado com tudo ao meu redor.

- Você está bem? – Marcos pergunta e estende a mão para mim, dessa vez eu aceito sem hesitar, e aperto.

- Eu estou, mas ainda é difícil magoar ele. Ricardo foi muito meu amigo antes de termos um relacionamento, e não queria deixa-lo triste, mas né, não podemos ter tudo o que queremos.

- Felizmente para mim, a infelicidade dele, é a minha felicidade. – Da de ombros.

Solto sua mão e dou um tapinha nela de brincadeira.

- Para de pensar assim! Que coisa cruel de se dizer!

- Eu não posso mentir, querida, eu estou é muito feliz de termos dado certo.

- E quem disse que tudo já está garantido?

- Eu, e eu sempre tenho certeza. – Ele me lança um sorriso brincalhão, antes de ficar sério novamente. – Podemos passar por turbulências, mas o final vai valer a pena viver tudo isso.

Eu tinha certeza que ia.



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LAÇANDO O COWBOY (COWBOYS #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora