Sozinho

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17 de julho de 2022

Essa é minha primeira anotação nesse diário, mas não sei realmente o que escrever não diria ser algo do meu feitio. O mundo está ruindo e aqui estou eu como sempre tentando desviar meus olhos da situação, e no entanto quem poderia me culpar? Estou a mais de duas semanas trancado em casa, meus pais deveriam ter voltado de viagem ontem mas nem sinal deles.
Lá fora as pessoas estão atacando umas às outras, agora a pouco coisa de 20 minutos atrás uma mulher tentou saltar o muro da minha casa, não sei quais eram suas intenções e receio que jamais irei descobrir, pois antes que pudesse subir meus vizinhos Roberto e Vanessa dois grandes amigos meus pais arrastaram-na para o chão e despedaçaram ela ali mesmo na calçada. Pela janela do segundo andar posso ver o quê restou de seu corpo uma massa disforme e sanguinolenta.
Sinto que estou enlouquecendo. Os gritos dessas coisas lá fora são a única coisa que ouço a dias. Não sei o que fazer. Não sei se algum dia alguém vai ler isso, mas mesmo assim quero pelo menos deixar registrado tudo que passei durante esse terrível período da humanidade.
Meu nome é Caleb e tenho quase 18. Minha casa é um grande retângulo circundado por um muro de pedras de 2 metros. Há um pequeno quintal na frente antes do portão, enquanto na parte de trás, um muro separa nossa casa da do vizinho um velho rabugento cujo pátio é coberto por mato na altura do peito. Falando nisso, ele foi uma das últimas pessoas vivas que vi antes de me trancar ao passar pela frente de sua casa eu o avistei do outro lado do vidro da janela me observando, ele imediatamente a fechou e eu corri quando uma mulher surgiu mancando de um terreno baldio.
Nesse momento estou deitado no sofá com cobertor até a cabeça, mesmo com duas meias sinto o meus dedos gélidos. Ainda tem alguma comida felizmente, minha mãe fez compras antes de viajar me deixando com a dispensa recheada, mas o que me perturba de verdade é o fato de não saber como Elice está nesse momento, estávamos juntos quando as pessoas começaram a enlouquecer tínhamos saído, um encontro, para comer algo e conversar voltamos correndo assim que o caos começou, ela queria que eu fosse até sua casa e ficasse com a sua família mas eu estúpido disse que precisava voltar e ver se meus pais haviam chegado.
Serei sincero nunca me relacionei fácil com as pessoas a tendência de querer agradar a todos me levava a interpretar estranhos papéis. Para alguns eu era o amigo comediante, para outros o conselheiro amoroso, o solteiro ou fiel companheiro, no final do dia eu era todos e ninguém, um estranho para mim mesmo. Lembro-me de uma ocasião em que meus colegas tagarelavam em um pequeno grupo da sala. Eu estava lá também. Um tronco com um sorriso frouxo, olhando de um para o outro, perguntando a mim mesmo o que eu fazia ali. Uma peça de xadrez numa partida de vôlei, completamente inepto contemplando as palavras que suas bocas cuspiam sem qualquer dificuldade enquanto eu suava, sem ritmo, sepultado em meu silêncio. Os momentos iam e vinham e eu continuava incapaz de encontrar uma frase que soasse correta, interessante, que me salvasse dos olhares matizados de malícia deles, de beco escuro no qual meus lábios definharam desesperados, preenchidos de insegurança, petrificados de desejo e inveja. Foi nesse momento que eu percebi que apesar de tudo eu era vazio, apenas uma casca sem um verdadeiro conteúdo que me conecta-se aos outros, mesmo que eu os agradasse, no final eu estaria sozinho como sempre, e no entanto eu não tinha escolha a não ser continuar com aquilo pois era tudo que eu sabia fazer, pois sem as mentiras eu não saberia enfrentar o mundo.
Bem, tudo isso acabou quando a conheci. Depois de algumas horas conversando Elice olhou bem nos meus olhos e disse. - Você é um grande mentiroso, não é?. Esse foi o ponto crítico da minha vida, a minha máscara havia sido descoberta e alguém espiava atrás dela. Foi um momento verdadeiramente vergonhoso mas ao mesmo tempo significativo pra mim.
Caramba, me sinto realmente estranho confessando isso tudo, talvez esses últimos dia tenham me amolecido ainda mais, não sei. Acho que só precisava extravasar minhas emoções de alguma forma, e calhou de ser aqui acho que é para isso que serve um diário, não.
Eu sei que dizer tudo isso apenas para enfatizar o quanto ela é importante para mim e depois não fazer nada é ridículo, eu sei, eu deveria ir atrás da Elice, mas isso significaria sair para a rua, onde estão todas aquelas coisas e o terror de me deparar com uma delas e ter que enfrentá-las me faz estremecer. Eu levo cerca de uma hora pra chegar a casa dela mas isso de carro, indo caminhando, talvez demorasse em torno de três a quatro horas, o que lá fora significa quase uma eternidade. Por outro lado, ficar aqui não resolveria nada... Merda. Sinto que estou andando em círculos. Enfim, meu pulso começou a doer, pensei que esse seria um exercício apaziguante, mas agora me sinto ainda mais tenso e preocupado. Vou subir e tentar dormir. Sem muitas esperanças.

Lembrando que só iniciei essa coisa de escrever, por que acho importante relatar minhas experiências nessa trágica "fase" da humanidade. Então anúncio aqui as minhas regras para sobreviver a um apocalipse zumbi. "Mesmo que eu só esteja vivo por pura sorte, por enquanto, talvez, quem sabe né. Mais no meu primeiro contato com esses seres aprendi que:

Regra 1.
Mantenha-se em movimento, abaixado, quieto e alerta. Em duvida, apenas corra coleguinha !

Diário De Um Sobrevivente - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora