8 de Agosto de 2022
Está quase anoitecendo, tentareí terminar o relato do que aconteceu mais cedo antes que o sol se põe e eu fique sem luz.
Cerca de 20 minutos após a conversa entre Levi e a garota, Helena... Alguém apareceu.
- Eu não te disse, parceiro?
Um sujeito parrudo, de rosto vermelho e cabelos loiros, surgiu da porta e se dirigiu a jaula de Levi. Um de seus olhos estava inchado e não parecia de bom humor.
- Escuta aqui, seu merdinha. Disse o homem de imediato, deitando um olhar feio nele. - Eu vou te soltar e você vai vir quietinho comigo, se tentar alguma coisa vou quebrar seu pescoço sem pensar duas vezes, entendeu?.
- Sim, senhor. Respondeu Levi, sorrindo.
O homem meteu a chave no cadeado e abriu a jaula. Levi saiu agaichado e, ao chegar do lado de fora, alongou-se com a mão nas costas. Estava se preparando para levantar, quando o punho do sujeito caiu sobre seu rosto e acertou-o no lábio inferior.
Levi tombou sobre um joelho, uma mão no local ferido.
- Isso é pelo meu olho. Disse o homem, sorrindo com seus lábios grossos.
Levi também sorriu, sangue manchava seus dentes.
- Não devia ter feito isso. Disse, e então o atacou.
Mas antes que pudesse alcança-lo, o homem puxou um revólver, meu revólver, apertou o cano em sua cabeça.
- Levi!. Gritei, aquele imbecil ia acabar se matando.
- Quietinho, entendeu?.
- Entendi, entendi. Ele levantou as mãos, os olhos em chamas.
- Muito bem.... Agora, pra trás.
Ele se afastou.
- Começamos com o pé errado. Disse Levi, simpático. - Pode me emprestar a chaves, grandão?.
- Huh? Pra que?.
- Soltar uma fera.
O homem franziu o cenho e jogou as chaves para Levi. Ele veio até onde eu estava e abriu minha cela. Sai de dentro, com pontadas de dor através da espinha.
- Me sinto com 109 anos. Falei, espreguiçando.
- Você melhora.
- Como esta sua boca? Tem sangue escorrendo.
- Não foi nada. Limpou com a manga da jaqueta de couro. - O pulso de uma mosca doeria mais.
- Vamos logo. Gritou o homem, abrindo a porta de madeira.
Levi e eu o seguimos.
Ao passarmos pelo umbral, chegamos numa espécie de saguão de atendimento, com balcão e cadeiras de espera, repleto de panos estendido sobre chão. Sentada ali havia uma mulher lendo um livro infantil para duas crianças pequenas.... Estava sorrindo, mas quando passamos, seu olhar se modificou para algum semelhante a receio. Entramos em outra porta e logo estávamos do lado de fora.
O vento gelado em meu corpo suado me fez trincar os dentes. No céu, o sol estava recolhido detrás das nuvens, cinzento e mal humorado. Deviamos estar na parte de trás do canil, pois havia uma cerca nos fundos, e dos lados, prédios enormes projetando sombra sobre o pátio. De um lado ao outro dele, havia incontáveis varais com roupas estendidas e, ao redor pessoas, a maioria velhos e crianças sentados ao acaso, conversando. Felizmente os latidos dos cães não eram ouvidos do lado de fora, caso contrário, os zumbis cairiam sobre aquele lugar como formigas atraídas por açúcar.
Sob a mira do revólver, seguimos na direção da cerca ao fundo, uma parte dela estava solta e a atravessamos. Caminhamos por um pedaço de grama até a outra propriedades, logo entendi. Se tratava da padaria a qual invadimos! Os dois locais estavam conectados pelos fundos.
Entramos na padaria por uma porta lateral e encontramos Helena. Ela estava acompanhada de um senhor de idade e uma mulher, todos de pé, diante do balcão vazio.
- Tá aqui o merdinha. Disse o alemão que nos escoltou.
- Não falei assim, Rogério. Disse o velho. Ele usava uma camisa social branca encardida e calças pretas... Tinha olhos simpáticos e um bigode branco. - Provavelmente estava com fome e veio aqui. como vários outros.
- É. Resmungo Rogério, franzi o cenho. - Só que, Osvaldo, esse foi o único que entrou aqui feito um rato ladrão, arrombando a porta... Eu ja vi gente igual a esse ai... Esses pirralhos usam tudo que acontece como desculpa para fazer o que bem entendem, eu ja vi isso... Matam, estupram, assaltam e ai culpam as circunstâncias.
Se fosse em outros tempos, eu teria quebrado todos os dedos dele, pra aprender a ser decente.
Levi levantou um canto do lábio inchado.
- Aponte esse cano pro outro lado e vamos ver como se sai, grandão... Prometo não amassar muito a sua cara, apesar que não vejo como posso piorar a situação dela.
O homem se tornou ainda mais vermelho, apertou as mandíbulas e deu um passo na direção de Levi.
- Já chega. Disse Helena, fuminando os dois com os olhos, que eram grandes e donos de um tom verde-oliva. - Por acaso vocês tem dez anos? Vão começar a se estapear agora?.
Olhei-a de soslaio, ela não era muito mais baixa do que eu, um metro e setenta, por ai. Seu rosto tinha belas feições afro-indigenas e seu sotaque indicava algo do nordeste. Ela parecia agir como a lider daquele grupo, certamente havia mais sobre ela do que os olhos revelavam.
- Mil perdões. Levi fez uma mesura sem tirar os olhos de Rogério... Seus cabelos negros estavam mais caóticos do que nunca, lhe conferindo um vago aspecto selvagem.
Rogério bufou e enfiou as mãos nos bolsos do jeans.
- Levi. Disse Helena, séria, mirando-o. - Desculpe por termos te prendido, não fizemos aquilo por diversão, precisávamos ter certeza de que não estava doente... Como pode ver, a mochila e o resto de suas coisas estão ali, no balcão.
- A gente entende, não se preocupa.
- Muito bem.
- Sobre o mercado. Falou hesitante, a outra mulher, cujo rosto era ânguloso e meio masculino... Ela enrola nervosismo entre os dedos uma mecha de cabelo castanho.
- Sim, Regina, sobre o mercado. Disse Helena, e voltou-se para Levi. - Desculpa, mas a gente deu uma olhada na mochila, pra ver se tinha comida, a situação esta muito ruim aqui, aguentamos até agora com o estoque da padaria, mas com tantas pessoas, depois de tanto tempo, estamos quase sem nada. Vi que também esta quase zerado, por isso deve ter vindo aqui, não é? Como ficou óbvio, não temos o bastante pra te dar, mas andamos pensando e talvez haja um jeito de resolver isso... Tem um mercado, umas duas ruas na direção do posto de gasolina, ao norte, planejamos ir ate lá e trazer tanta comida e água quanto possivel.
- E se ele já tiver sido sequiado? O mais provável é que tenham levado até o ultimo rolo de papel higiênico, o que dizer então da comida.
- Pedro, um dos últimos sobrevivente a chegar aqui, trabalhava lá e disse que, apesar da parte da frente ter sido saqueada, o deposito continha intacto, pelo menos estava até ele fugir de lá. Ele nos deu a chave dele. Então, se dermos um jeito de entrar, vamos ter comida por um bom tempo, o suficiente pra cuidar dessas pessoas até a ajuda chegar. O problema é...
- Helena. Interrompeu Rogério, gesticulando com a arma na mão. - Não precisamos de ajuda desse tipo de marginal, podemos resolver isso sozinhos, eu...
- Rogerio. Seu olhar para ele era exasperado. - Por favor, me deixe falar.
Ele bufou e foi se apoiar numa das prateleiras.
- O problema. Prosseguiu ela. - É que, temos pouca gente, e não da pra deixar esse lugar desprotegido, temos cinco idosos debilitados e seis crianças pequenas com energia demais e espaço e comida de menos. Não tem como aguentarmos muito mais, dito isso, não vamos força-lo a ir junto, pode ir embora se quiser! Mas, se nos ajudar... Estara salvando a vida de todas essa pessoas. E, é claro, não vai faltar comida pra você levar... E então, o que me diz?.
Levi pensou por alguns segundos.
Eu realmente não queria sair de novo, ir até o mercado, então que sem dúvidas estaria abarrotada daquelas criaturas, sem chance! Um bloco de gelo se formava em meu estômago só de pensar nisso, contudo, se eu fosse embora e os largasse a própria sorte que tipo de pessoa isso me tornaria? Quero acreditar que nós humanos somos melhores do que isso, que numa situação tão desesperadora, somos capazes de pensar a mais do que nós mesmos! Mesmo que Levi não queira ajudar, eu vou, é como a Elice me disse uma vez... Nem todos podem ser corajosos, mas todos podem ser bons! E eu vou tentar pelo menos ser bom.
Dei um passo em frente para responder, mas Levi levantou a mão, interrompendo-me. Ele foi até o balcão e pegou o capacete virou-se para Helena.
- Nós vamos, sim. Disse enfim. - Não podemos deixar toda essa gente passar fome, não é mesmo?.
- Sim. Falei e fitei-o, surpreso. - Vamos ajudá-los.
Helena esboçou um breve sorriso, assentindo.
- Muito obrigado, moço. Disse Regina largando a mecha de cabelo para apertar a mão de Levi.
- É uma boa pessoa. Adicionou gentilmente o velho Osvaldo, sorrindo.
Rogério saiu dali com passos pesados. em seguida, Levi me entregou o capacete e disse que precisava ir ao banheiro para segundo ele tirar "pedras do joelho".
Helena se aproximou de mim e começou a falar.
- Vamos amanhã de manhã, tudo bem para você?.
- Sem problema. Respondi.
- Ótimo, mais uma vez, desculpe pela recepção 'animal' de antes... É que toda essa situação. Ela sentou no balcão e fitou o chão. - Mortos voltando à vida, pessoas que amávamos e respeitavamos subitamente nos atacando sem motivo... Isso acaba mexendo com a nossas cabeças, mesmo contra a nossa vontade a linha entre amigo e inimigo se tornar muito fina, quase imperceptível; então quando encontramos um estranho acabamos respondendo com a cautela extrema, extrema demais. Espero que entenda.
- Eu entendo, sabe, eu reagi da mesma maneira quando ele apareceu em minha casa, quase atirei... Mas mudando de assunto como vocês vieram parar aqui, todas essas pessoas?.
- Alguns já estavam aqui antes disso tudo, Rogério por exemplo é quem cuidava do canil, Osvaldo é o dono dessa padaria e Regina é filha dele. Ela olhou para os dois no outro lado do balcão, conversando. - Quando os zumbis se espalharam como incêndio descontrolado pela cidade eles colocaram para dentro quem estava passando e fecharam tudo, outros como eu surgiram com o passar dos dias, atrás de comida ou de um lugar para passar a noite.
- E onde você estava antes de vir para cá?.
- Não importa. Disse descendo do balcão a se afastar. - Logo vamos distribuição pão, depois fale com Osvaldo pra ver onde vai dormir! Recomendo que descanse, amanhã vai ser um dia complicado.
E então desapareceu pela porta.
- Não leve pro lado pessoal. Disse Osvaldo, do outro lado do balcão. Seu bigode branco quase cobria os lábios. - Não sei exatamente o que aconteceu, mas quando chegou aqui Helena estava coberta de sangue, as roupas rasgadas, segurava uma faca com tanta força que quando conseguimos convence-la a largar seus dedos estavam em carne viva, perguntamos se ela havia sido atacada por algum dos mortos, ela disse que não, não foram eles.
Engoli em seco.
- Então ela foi...
- Eles tentaram, foi essa palavra que ela usou, 'tentaram'...
- Droga.
- Coisas terríveis aconteceram depois que essa doença se espalhou. Disse com uma expressão cansada. - Com as vidas em perigo e sem a polícia ou governo para protegê-las, algumas pessoas infelizmente perderam seus compassos moraes, se entregaram ao lado obscuro de suas almas e libertaram o que havia de mais abominável dentro de si...
Ele respirou fundo.
- Apesar de tudo, Helena se recuperou e, como pode ver se tornou uma parte vital desse grupo... Num momento, quando até mesmo eu havia perdido as esperanças, foi a força de vontade dela que nos organizou e manteve unidos, só que não se engane, ela não é forte porque não têm fraquezas é totalmente ao contrário. Sorriu com os labios. - É por ter tantas fraquezas e conhecê-las que ela é capaz de ser forte ate mesmo numa situação surreal como essa, na qual a maioria das pessoas simplesmente sucumbiria ao desespero, mesmo com sua pouca idade, ela enfrentou seus demônios e venceu, e por isso, nos a respeitamos e seguimos sua liderança.
- Entendi, pelo visto ela é realmente alguém especial... Se adaptar tão rápido a esse mundo ferrado, apesar de tudo que passei, ainda não consegui.
De repente, pouso a mão em meu ombro e sorriu até seu rosto se cobrir de rugas.
- E nem vai precisar, logo tudo vai voltar ao normal.
- Acredita mesmo nisso.
Eu, com certeza, não acreditava.
- Nós ouvimos pelo rádio, alguns dias atrás, assim que se recuperaram do golpe inicial, os militares se reorganizaram e agora estão indo de cidade em cidade, limpando elas dos mortos. Parece que estão recrutando todos capazes de segurar uma arma.
- Esta falando sério? Tem certeza de que não ouviu errado?. Estava quase pulando em cima dele.
- É isso mesmo, a ajuda esta chegando, não achou que essa situação iria perdurar, achou?.
Então ha esperança, afinal! Aquelas eram noticias fantásticas.
- Só temos que sobreviver até eles chegarem. Adicionou Osvaldo, em tom zeloso. - E é ai que contamos com você pra nos ajudar, não se preocupe, vai dar tudo certo.
- Sim senhor, vai sim.
Sim, agora eu só preciso conseguir essa comida e ir ate a casa de Elice pra ter certeza de que ela esta bem! Seria uma piada cruel os militares chegarem e nos encontrarem mortos por inanição.
logo depois Osvaldo me arranjou um pão, um cobertor e um lugar para descansar e eu vim escrever aqui.
Sinceramente, não sei o que esperar de amanhã, Helena e Rogério vão com a gente até o mercado, e estou com medo do que Levi possa fazer assim que estejamos lá fora. Apesar de ele ter matado sem piscar aquelas criaturas, não acho que ele seja capaz de matar um ser humano.
Não, ele jamais faria isso, apesar que... Agora que eu parei pra pensar, o que eu sei sobre ele? Surgindo de repente na minha casa, sem nenhuma explicação, então se oferecendo pra me ajudar, não faz sentido... Mas então, quem, diabos é o Levi?.
O sol se pôs, quase não enxergo mais o que escrevo. Amanhã, assim que retornar continuarei.
Elice, onde quer que você esteja, reze por mim.Regra.19
Não banque o herói: acredite, essa pode ser a melhor dica de todas. O gato ou a gata está presente e você quer aparecer. Sempre nessas ocasiões é que tu falha e vira comida dos infectados. (Volte nas ultimas 18 regras).
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Diário De Um Sobrevivente - Concluído
Teen FictionQuem você seria em um apocalipse zumbi? Se sua resposta foi um singelo e confuso... Nao sei. Venha, se desenrrole, e descubra quem você realmente seria em um apocalipse zumbi. Aqui o protagonista terá que enfrentar não apenas os mortos, mas também a...