20 de julho de 2022
Agora são quase 11h estou de pé desde às 7h, tive um sonho perturbador, esporádico. Acordei diversas vezes no meio da noite tremendo e suando frio imaginando se não estariam invadindo a casa. Somando tudo não devo ter dormido mais do que algumas horas, prefiro não comentar sobre os pesadelos.
Depois de beber muito café pensando nas idéias de ontem, pela primeira vez desde que estou aqui ousei pisar no quintal, talvez fosse imprudente mas eu precisava respirar ar puro, estava me sentindo enclausurado aqui dentro, claustrofóbico. Por isso cuidadosamente removi os móveis empilhados contra a porta e caminhei até a varanda.
Quando a abri recebi de imediato uma lufada de ar congelante no rosto e pescoço, que me fez encolher todo. A grama estava úmida, coberta por uma fina camada cinzenta, a geada da madrugada recordando o céu, de um profundo azul, haviam incontáveis linhas fumaça subindo de pontos diferentes da cidade, algumas eram negra e outras brancas.
O silêncio era uma moléstia em meus ouvidos, era como se a própria vida estivesse segurando a respiração. Nada se movia tudo parecia tão calmo, pensando melhor agora aquela calmaria podia ser qualquer coisa menos natural. Ousei ainda mais e arrisquei ir até o portão, com um passo hesitante atrás do outro, avancei pelo caminho de cascalho.
Através das grades de ferro observei a calçada, a rua coberta de embalagens vazias, o portão do outro lado dela e além disso a casa do vizinho da frente. Me aproximei mais e olhei os lados. Pude avistar dois carros abandonados , um Sedan vermelho sobre a causada do vizinho da direita, e uma caminhonete escura estacionada quase na esquina. As portas estavam escancaradas. Eu divagava na ideia de correr até ele e dirigir rumo a casa de Elice, quando um soprar dos ventos me forçou a espirrar, foi quando aquelas coisas apareceram. Só tive tempo de cair para trás, sobre o caminho de cascalho. A criatura mais próxima, um homem redondo, de camiseta aparentemente branca encardida e calças sociais rasgadas na altura da panturrilha, saltou como uma fera sobre as grades, seu rosto enrrugado coberto por veias negras intrincadas como vidro rachado. Desesperado para me alcançar, e ele se jogava contra os ferros, esticando os braços e rosnando. Era a segunda vez que via um de tão perto e permaneci ali, petrificado, absorvendo aquela visão.
Havia algo de inumano em seus olhos desvairados, algo abominável e aterrado, como portais direto para o inferno. Nunca na minha vida senti tanto terror. Só de lembrar, escrevendo aqui, sinto arrepios percorrendo meu corpo e sou forçado a me abraçar. A maneira como ele queria me pegar... O liquido negro escorrendo pelos lábios raivosos e pingando na camisa... Meu Deus, como a humanidade acabou dessa forma?.
Fui até a cozinha e bebi um copo de água. Estou mais calmo agora.
Enfim, continuando. Depois de ficar alguns segundos ali caído, eu me levantei corri como um maratonista para dentro de casa. Tranquei a porta e a bloqueio com tudo de pesado ao alcance de meus olhos: sofá, estante, mesa da cozinha, televisão...
É claro, ele não conseguiu entrar, o portão não cederia tão fácil para apenas um deles. Mesmo assim, ele continua ali. Ouço suas partidas ainda se esperando entre as vendas do portão, o som é alto, posso ouvir por todos os comados da casa. Esta me deixando louco. Tenho medo que isso atraia mais deles, e logo haja dezenas desses seres batendo no portão, nesse caso seria certamente meu fim. Preciso fazer alguma coisa.
Agora estou sentado na cama de meus pais no segundo andar, observando o movimento da rua enquanto bebo café sem parar. É o único luxo que me resta, e logo acabará também.
Acho que uma pessoa normal nessa circunstâncias, estaria esperando ajuda da polícia ou dos nossos governantes, sinceramente minha fé no governo acabou antes do mundo. Quanto aos militares o máximo que vi deles foi um caminhão amarrotado de soldados passando ao longo da varanda, na qual minha rua se conectava, até pensei em gritar para eles mas jamais me ouviriam a essa distância ainda mais na velocidade em que seguiam. Não sei se estão reunindo sobreviventes ou somente tentando se manterem vivos, como eu. De qualquer forma, não espero ajuda deles.
Agora ha pouco tentei de novo mandar mensagem e ligar para Elice, sem resposta. Só consigo imaginar que ela deve estar sem energia, como mais da metade da cidade. O fato de meu pai ter ganhado esse gerador em um sorteio da empresa nunca foi de grande interesse para mim, pois raramente o usávamos. Quem imaginaria quer seria dessa maneira que ele viria a ser útil...
Enfim. Depois de encarar aquela coisa lá no portão, estou andando para todos os lados com o martelo que encontrei na garagem. Não sei se tenho coragem de usa-lo, contudo, ele me proporciona um minimo de segurança para que eu possa me mover sem estar constantemente dominado pelo medo. Cogitei carregar uma das facas de carne também, mas o martelo me pareceu mais "sólido", ou algo assim.
Acabo de observar outro carro avançando pela avenida no fim da minha rua, de onde estou as outras casas impedem que eu veja além, mas posso distinguir vários veículos enviesados bloqueando a pista. Também contei pelo menos treze infectados vagando por aqui. Quatro deles estão reunidos no pátio de uma casa a duas de distancia da minha, os outros estão espalhados ao acaso.
Um deles no meu portão, e é exatamente com esse que preciso lidar, antes do anoitecer. Caso contrário, será uma noite ainda pior do que as outras, estou cansado, com um tique no meu olho direito, acho que devido a privação de sono e excesso de cafeína.
Se eu conseguir, tentarei escrever novamente a tarde, antes de fazer alguma coisa.Ah e antes que eu me esqueça, esses foram os pequenos aprendizados de hoje: Observe-os. Os zumbis não são todos iguais, como bem pensei, como vi nos filmes, lerdos e meio burros. Eles podem assumir formas e comportamentos bizarros! Por isso, antes de qualquer coisa, é importante você saber quais deles podem aparecer por aí:
Os Andarilhos
O típico zumbi de Hollywood. Eles andam devagar e só querem jantar um cérebro fresquinho antes da meia noite, então na maioria das vezes é fácil acabar com eles. Mas fique atento! Eles andam em bandos, então se eles passarem pelas suas barreiras de defesa, melhor tomar cuidado.
Os Corredores
Se você vir um desses, é melhor encarnar o Usain Bolt e sair em disparada, porque eles correm, e muito. Porém, é bem provável que você não consiga "ganhar" a corrida, então é melhor ver as outras dicas e reforçar a segurança de casa! Como eles podem correr muito, subir escadas não é necessariamente um problema, então se você mora ali no 4° ou 5° andar, melhor ficar de olho aberto.
Os perseguidores
A maior ameaça de todas, até para quem mora nos andares mais altos. Esses zumbis andam com quatro "patas", e por isso escalam construções, correm e pulam muito alto. Resumindo: deixe seu apartamento com a melhor segurança possível, afinal os prédios são tipo máquina de salgadinho para eles!
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Diário De Um Sobrevivente - Concluído
Teen FictionQuem você seria em um apocalipse zumbi? Se sua resposta foi um singelo e confuso... Nao sei. Venha, se desenrrole, e descubra quem você realmente seria em um apocalipse zumbi. Aqui o protagonista terá que enfrentar não apenas os mortos, mas também a...