Escuridão

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Escuridão. Fome. Sede. Solidão.

Todas as cortinas estão fechadas. Há quanto tempo estou aqui? Há quanto tempo não vejo a luz do sol? Quando foi a ultima vez que comi? Que ouvi uma voz humana? Eu não lembro. Minhas memorias estão confusas, a algo de errado com a minha cabeça.
Eu vou morrer? Eu não quero morrer! Não quero morrer. Mas... É tão difícil continuar.
Vagarosamente ergo o tronco e olho ao redor.
As silhuetas obscuras dos moveis do quarto oscilavam suavemente na escuridão, como se estivesse na cabine de um barco a vela. O colchão debaixo de mim parece prestes a me engolir em sua boca macia e sedenta, isso me assusta. Tento levantar.
Meu pé encosta em uma garrafa de plástico e caio para frente de joelhos, uma dor latejante se espalha pelas pernas e braços. Passo a língua pelos labios ressecados. Sou como uma casca desprovida de força, vergando-se, prestes a desabar pelo próprio peso.
Novamente tento ficar de pé, mas dessa vez a tontura e o torpor me dominam e me apoio na parede, rastejando por ela até o banheiro.
Inclinado sobre a pia, a boca seca como terra do deserto, eu giro o registro. Nada acontece. Onde está a água?

Onde está a água?

Onde esta a água?

Então olho para cima e veja a criatura do outro lado do espelho, ela é tão miserável, grotesca e repugnante que desvio o olhar e começo a chorar. As lagrimas correm pelo rosto e as Lambo perto dos labios, são salgadas e me dão vontade de vomitar. Sinto como se a vida fosse um buraco negro prestes a me devorar, saio dali e cambaleio pelo negrume da casa até o primeiro andar.
Vejo figuras, pessoas nas sombras. Um homem parado diante da escada, com o rosto desfigurado, os olhos sem órbitas me fitando em silêncio enquanto passo. Uma mulher no canto dá sala de jantar chorando, e me culpando. Passo por eles e sigo até a mesa encostada contra a porta. Na penumbra, tateio uma superfície até encontrar o revólver de Joana, então engatilho-o, pouso o cano frio em minha têmpora direita e sem hesitar puxo o gatilho.

Bang..

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Abro os olhos, vejo a silhueta obscura do quarto, oscilando suavemente em sua moldura. O sol incendeia as frestas da cortina fechada e o colchão está prestes a me devorar. Sinto fome, sede e solidão.

Fecho os olhos.

Regra/Dica11.
Os zumbis talvez possam ter desaparecido mas a ameaça ainda existe, de um jeito tenebroso descobri que nessa situação eles não são as unicas ameaças.

Diário De Um Sobrevivente - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora