22 de julho de 2022
Finalmente consegui escrever. Aconteceram tantas coisas ontem que não tive tempo de vir aqui. A água acabou. Isso mesmo, nada mais sai das torneiras e isso é terrível de tantas diferentes maneiras. Nós sempre contamos que a água estará ali, que às vezes esquecemos como é necessário todo um processo para ela chegar até nós, e esse processo já deve ter sido interrompido a dias pelos seres lá fora. De modo que, enfim, não há mais ninguém para distribuir a água e eu sequer pensei em estoca-lá, mas estou me adiantando.
Ontem à tarde depois de muito deliberar, decidi investigar a casa do vizinho da frente. O plano era simples, a casa é muito parecida com a minha tem um pátio um muro e um portão metálico, apenas correria para o outro lado da rua, pular o muro e bateria na porta. Eu nunca conheci muito bem esses vizinhos, só sabia que era um casal com uma filhinha pequena, ela sempre me cumprimentava quando passávamos um pelo outro, avançando sua pequena mãozinha. Tinha uns cachinhos tão bonitinhos... Enfim.
Não podia cometer o mesmo erro do portão, por isso, antes de sair procurei alguma máscara ou óculos para me proteger da infecção. Encontrei algo melhor dentro de um dos armários velhos da garagem. O capacete do meu pai, ele é preto arredondado e com dois adesivos de chamas um de cada lado. Meti-o na cabeça baixei a viseira afivelei-o embaixo do queixo.
Restava achar algo para o corpo, se uma daquelas coisas tentasse me morder não haveria nada com que bloquear. Estava no quarto de meus pais, cogitando fazer como Brad Pitt em guerra mundial Z e amarrar umas revistas nos meus antebraço, quando a vi pendurada no cabide centro do guarda-roupa, uma jaqueta de couro negro, um pouco puído, mais grossa o bastante para impedir que qualquer dente humano a atravessasse. Eu e meu pai somos do mesmo tamanho então ela servil perfeitamente.
Num devaneio, pensei em como meus pais continuavam me protegendo, quase sucumbi as lágrimas, agitei a cabeça e fui atrás de algo para as pernas. Infelizmente não havia nada. Uma roupa de neoprene seria maravilhosa, mas ninguém em casa jamais surfou ou mergulhou. Resolvi parcialmente o problema vestindo duas calças largas e flexíveis. Causei meus tênis, encaixei o martelo no cinto e me olhei no espelho, é não ganharia um concurso de moda mas pelo menos estava protegido.
Por precaução, peguei algumas barras de cereais e enterrei nos bolso da jaqueta. Fui até a porta da frente e me esgueirei até o portão de ferro.
O tempo estava nublado, com grandes nuvens cinzentas barrando o sol e permeando a silenciosa cidade com uma aura sombria. Sempre gostei de dias dublados, mas algo como aquilo me causava arrepios. Evitei olhar diretamente para o corpo apodrecendo na calçada, entretanto, mesmo através do capacete o odor me abalou. Temerosamente, através dos grades, olhei de um lado para o outro na rua. Havia dois deles um pouco antes da esquina, no meio da rua, duas mulheres com os vestidos salpicados de sangue seco. Como eu observei do meu quarto no segundo andar, elas seriam as únicas que me viriam. Estávamos separados por uns trinta metros, de modo que, na velocidade em que se arrastavam, conclui que não conseguiriam me pegar.
Comecei a abrir o portão, mas ele não abriu, o ferrolho estava torto, de certo pelas batidas do homem. Xinguei baixinho, então segurei-o com as duas mãos e empurrei com todo o meu peso. De repente, ele soltou e acertou em cheio o ferro do portão, o ruido metallica ecoou em meus ouvidos, alastrando-se no silêncio cepulcral da rua como um tiro de canhão.
Aterrorizado, abri, saltei para a rua batendo as minhas costas, quando olhei na direção das duas mulheres, elas já estavam vindo em minha direção, correndo, seus pés descalços e ensanguentados acertando o asfalto, enlouquecidas, transfigurada de ódio e fome.
Ouh não, corredores .. Estou fudido pensei.. Fudido Fudido!!
Atravessei a rua como um torpedo antevendo o momento em que tentaria pular o muro e elas me puxariam pra baixo e abririam minhas tripas, como acontecerá a mulher na minha calçada.
Como um jogador de basquete prestes a fazer uma enterrada, saltei sobre o muro de tijolos do vizinho e me joguei de qualquer jeito por cima. No meio do ar, pouco antes de tombar sobre a grama de dentro, pude escutar os berros insatisfeitos das duas do outro lado batendo com as mãos no muro.
Caí de costas, com um baque surdo, fiquei sem ar durante alguns segundos uma apontada de dor aquecendo minha espinha. Se houvesse um deles ali, teria tido uma refeição de bandeja. Depois de juntar as barras de cereais caídas, me levantei devagar, tateando o cinto para confirmar a presença do martelo. Não fazia idéia de como voltaria para casa com aquelas duas aberrações ali, mas esse era uma questão para depois. Já de pé, olhei ao redor.
A grama estava descuidada, na altura das canelas. Havia uma casinha de bonecas no canto, além de outros brinquedos afogados do mato. A casa em si continuava silenciosa como um túmulo, as duas janelas da frente bloqueadas por cortinas vermelhas. Esperei meu coração se acalmar, então comecei a caminhar até a porta. Ela era de madeira, como toda a estrutura do lugar.
Primeiro experimentei girar a maçaneta, mas é claro estava trancada. Então bati. Uma, duas, três vezes. Sem resultado. A seguir fui até uma das janelas. Trancada. Então a outro, trancada também. Começava a pensar que aquela tinha sido uma ideia muito estúpida, porque não fiquei quieto em casa esperando a ajuda chegar? Por acaso estava achado que eu era algum protagonista incrível de uma história emocionante? Merda.
Sem outra opção, contornei a casa; o martelo em punho e as pernas tremericando. De um lado havia as paredes de madeira galvanizadas, do outro, um muro para o pátio vizinho. As janela laterais estavam trancadas.
também. Me preparava para agarrar a maçaneta da porta dos fundos, quando ouvi um clique.
- Um movimento e te encho de furos.
Gelei. A voz era abraçada pelo capacete, mas, tinha certeza, era uma garota.
- Larga o martelo.
Larguei. Me sentia tonto, como se houvesse acabado de acordar de um sonho ou pesadelo.
- Agora, tira o capacete, devagar.
Desafivelei-o embaixo e puxei-o pela cabeça. O vento frio atacou meus cabelos suados e senti um calafrio, deixei o capacete cair na grama ao meu lado.
- Vira pra cá.
Girei lentamente, então a vi, do outro lado do cano do revólver, tinha pele morena, cabelos negros, cacheados e super curtos, usava um casaco felpudo por cima de um macacão jens, seus olhos castanhos ardiam com desconfiança e medo. Apontava a arma para minha cabeça.
- Vai embora. Disse ela.
Eu queria cair de joelhos e chorar, a voz dela por mais ameaçadora que fosse me fez indescritivelmente feliz, era patético, mas não pude evitar.
- Eu.. Qual, qual seu nome?. Perguntei. Minha voz saia fraca e hesitante, como um chiado.
Por algum motivo, isso pareceu enfurecê-lá. Ela cerrou os dentes e sibilou.
- Vai embora!.
Então ouvi alguém tossir dentro da casa e olhei para a janela.
- Vai embora agora ou eu te mato!. Gritou ela subitamente, dando a volta até ficar entre mim e a casa e apertando o revolver. Seus olhos me diziam que ela, de fato, estava preparada para atirar.
Agitado, peguei o capacete, o martelo e corri para o pátio da frente.
As duas criaturas continuavam na calçada não havia tempo para planos elaborados então, peguei a casinha de brinquedo do canto do pátio, levantei-a sobre a cabeça e joguei-a no terreno da casa ao lado. Espiei sobre o muro e as vi correndo até lá. Fui até o mais longe possível delas, suspirei fundo e me pendurei nos tijolos. Ao pisar na calçada, imediatamente avancei olhando apenas para minha casa, escalei o muro e me atirei para dentro, sentindo mãos roçarem meu tênis.
Bom e foi assim que quase morri três vezes em um dia, apesar disso estou animado pois sei que a pelo menos duas pessoas na casa da frente. Talvez uma delas seja uma garota homicida, mas esse é só um detalhe. A solidão atroz das últimas semanas se dispersou, é curioso, quando só a escuridão no horizonte, mesmo a menor das fagulhas é capaz acender nossa esperança. Já estou mirabolando de dezenas de planos para entrar em contato com meus novos amigos.
Quanto a Elice, bem.. Não há um dia em que eu não acorde desejando atravessar a cidade a procura dela. Entretanto, isso seria pedir pela morte, não acho que ela gostaria disso. Se estiver viva, esta na mesma situação, esperando o momento oportuno. Somos muito parecidos... Pensamos igual.
Mas a questão da água, é uma questão urgente. Fora quatro litros guardados na geladeira, estou zerado. Receio que banhos estavam fora do meu alcance por um tempo... Merda. Talvez possa descongelar o refrigerador, mas ainda assim será coisa de uma vez. Preciso de um novo suprimento de água, bem, vou pensar em algo.
Agora vou almoçar, meu estômago está roncando desde que comecei escrever, hoje será arroz com molho de tomate. A variação do meu cardápio começa a entrar num beco obscuro e pouco apetitoso.Segundo os ensinamentos de hoje, adquiri algumas dicas e aqui as mais importantes:
Regra.6
Aqueça: tome cuidado quando, naquele corrida ou escalada na escapada contra zumbis, da uma cãibra. Aqueça. E lembre-se, nenhum lugar é seguro apenas um pouco mais seguro.
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Diário De Um Sobrevivente - Concluído
Teen FictionQuem você seria em um apocalipse zumbi? Se sua resposta foi um singelo e confuso... Nao sei. Venha, se desenrrole, e descubra quem você realmente seria em um apocalipse zumbi. Aqui o protagonista terá que enfrentar não apenas os mortos, mas também a...