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  "Não podem vir, não podem ver, sempre a boa menina deve ser"

(Elsa)

  Meu coração batia tão rápido que estava difícil até respirar. Várias coisas passavam na minha cabeça como a ideia de mentir para ela, o fato de que Carine não era burra e o medo do que iria aconteceu daquele momento para frente e em que bola de neve eu tinha me metido.

  Quando as palavras começaram a sair da minha boca algumas amigas de Carine a chamaram. Primeiro pensei estar livre e que poderia evitar o assunto pelo resto da viajem, porém ela fez sinal para as amigas esperarem e disse que iria embora.

  Comecei a tremer e todas as paranoias e medos que tinha na minha cabeça começaram a se concretizar na frente dos meus olhos. A falta de ar tomava conta de mim de modo que demorei a perceber que deveria pegar minhas coisas para ir embora.

  Abracei as meninas e fiquei impressionada com a minha atuação. Com toda aquela bagunça dentro de mim, eu ainda conseguia sorrir, gargalhar e acenar.

  Quando estávamos do lado de fora da casa Carine pegou na minha mão e fomos a uma direção contraria a sua casa. Chegamos a uma praça bonitinha, tinha alguns policiais fazendo ronda o que me deixou mais tranquila e ao mesmo tempo preocupada caso eles ouvissem ou Carine me entregasse no ato.

  No momento em que sentamos no banco comecei a repassar várias técnicas de resistência a tortura na minha cabeça. Na verdade, ainda não tinha caído a ficha do que realmente aconteceria se ela me entregasse, mas a convicção de que seria inimaginavelmente dolorosa estava clara como o dia.

– Agora preciso que me conte com quem estava falando, se mentir pra mim te entrego – disse Carine me deixando sem opções.

– É um garoto que conheci. ele se chama Tomás.

– Vocês estão namorando?

– Não...

– Vocês se falam todos os dias?

– Sim...

– Então vocês namoram!

– Não exatamente, nunca nos beijamos por exemplo!

– Está bem – ela parou e pensou um pouco provavelmente raciocinando o que falaria a seguir – Louise, eu já passei por isso que você está passando, e cá para nós, – ela olhou para os lados e continuou – eu não acho essa lei uma das ideias mais inteligentes do rei.

– É contra meu princípio criticar o reino, mas infelizmente o que eles não entenderam com a morte de Jaqueline como o que realmente é.

– Eu guardo seu segredo porque primeiro, você é minha prima e não quero ver você ser acusada de traição injustamente com todo esse amor pela monarquia no coração. Segundo, eu também tenho os meus segredos que vão contra a monarquia.

Fiquei tentando imaginar o que ela poderia estar aprontando, mas concordei mesmo assim.

– Combinado, você não fala, eu não falo!

– Mas quero que me mostre esse aparelhinho estranho aí e a foto do boy! – Exclamou ela com um sorriso malicioso e continuou – Vamos andando, corremos grandes riscos com os cachorrinhos do rei aqui.

Me irritava o modo como ela falava da monarquia com desdem, mas decidi não levar em conta esse comportamento.

  Fomos embora para a casa e todos aqueles segredos reavivaram nosso espírito de parceria. Acho que os segredos sempre nos aproximaram. Depois de muitas conversas sussurradas debaixo do cobertor iluminadas por uma pequena lanterninha, depois de ter mostrado o celular de Tomás, as fotos dele e contado muitas histórias do garoto que aparecia nelas, fomos dormir depois do toque de recolher. As conversas com ela eram como as conversas com Tomás: horas viravam minutos, sempre tinha algo para conversar.

  Pegamos o ônibus de volta para BH, quando o sol já se punha. Pela janela do ônibus pisquei para Carine e ela piscou de volta para mim. Essa cumplicidade faz bem ao coração. Olhei para o celular e tinha uma mensagem de Tomás me desejando boa viajem e me relembrando de seu infinito amor. Eu estava totalmente em paz, tudo está assegurado, tudo estava acontecendo como deveria acontecer. Eu estou no lugar que eu quero, na hora que eu quero. Eu estava no principal momento da minha  juvenil vida dramática por conveniência.

Apaixonada por um anjo - Segundo livro da trilogia AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora