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 "Feel like I'm glued on tight to this carrossel"

(Melanie Martinez)

  Os dias que Tomás me ligava eram luz no meio de toda aquela bagunça. Eu acordava bem melhor no outro dia, me fazia realmente bem. Com a escassez de nossos momentos, mesmo ao telefone, até uma simples risada tinha mais valor. As juras de amor, eu guardava no coração para que me nutrissem durante os dias eternos a frente.

  Infelizmente eu voltava a vida real. Mas felizmente a vida real tinha sonhos sendo realizados. Era muito divertido, eles nos deixam à vontade para dar opiniões. A coreografia era complexa, mas estamos pegando o jeito. Aliás, como não pegar o jeito dançando todos os dias de 12:00 ás 15:30?

  Depois de todo esse treino eu ia trabalhar. Cuidar de Eliza era muito bom, mas eles sempre me dão trabalhos adicionais o que é muito além do que posso aguentar! Eles não entendem e posso ver em seus olhos que acham ser bailarino não é trabalho.

  Uma vez vi um filme que o cara perguntava para o outro: "O que você faz da vida?". Aí o cara dizia: "Eu sou bailarino". Aí o primeiro cara dizia: "Ok! Mas no que você trabalha?". E aí o cara virava o olho e ia embora. Infelizmente não é só no filme que isso acontece. Uma bailarina famosa uma vez foi barrada de ganhar o plano de saúde por não ter um ofício "válido". É um absurdo! A arte não tem mais lugar no coração da maioria das pessoas. Mas pretendo ganhar esse espaço com meu trabalho.

  As coisas eram difíceis sem Tomás todos os dias do meu lado. Não é a mesma coisa falar do que sinto para Diego, pois na maioria das vezes ele não tinha a menor ideia do que dizer e só dizia: "Tudo vai ficar bem". Leia também na maioria das vezes não sabia o que dizer e dizia a mesma coisa que Diego. Ágata sempre me dava forças falando algo bonito. Nada disso me deixava melhor, pois eu não encontrava em nenhum deles a luz que eu encontrava em Tomás. Com ele eu tinha certeza que as coisas realmente vão ficar boas.

  Além disso, não há nenhuma dor mais cortante que a saudade. A saudade me corroê constantemente. Não só saudade de Tomás, mas também da minha avó, da minha antiga vida com meus pais e tudo mais. Só que essas coisas acabaram, no entanto Tomás continua lá e eu não tenho controle sobre a situação. Eu me culpava! Eu deveria estar lutando por ele! Desobedecendo qualquer lei por ele! Enquanto ele não enxergar isso está tudo bem.

  Em um certo dia, cheguei em casa às 18:00, tomei um banho e fui para o quarto antes da janta ficar pronta. Queria ficar um pouco sozinha. As exatas 24 horas depois que as coisas boas acontecem são as piores. Olhei a última chamada no meu celular.

Ligação de Tomás_Um dia

  Parei para refletir um pouco naquilo. Meu coração ficou vazio. Pensei nas coisas que vivemos antes, nas conversas, nas rizadas, nas piadas internas. Há alguns meses não podia imaginar a vida sem Tomás, agora porém, sou obrigada a viver sem ele. Eu só queria estar com quem eu amo.

Enquanto eu pensava sobre aquilo uma luzinha acendeu na parte superior direita do meu telefone e a foto de Leia aparece logo depois. Abro a conversa e vejo um link, seguido por uma mensagem:

Leia: acho que as ideias desta blogueira combina com as suas ideias romancistas.

  Abri o link e deu em um site muito fofo. O nome era: "Clara, a nega". Sorri um pouco quando vi a foto dela e entendi a frase. Ana Clara, garota negra, de cabelos encaracolados e uma expressão pensativa muito engraçada. O blog se consistia em histórias de amor. A maioria de pessoas já idosas que não viveram a proibição. Porém, havia histórias ali que começavam com a seguinte frase: "Se é verdade ou ficção, isso o seu coração vai decidir". Havia histórias de casais que se conheceram jovens e fazem coisas muito doidas para ficar juntos. Peguei uma delas e comecei a ler os capítulos mais avançados. Dizia o seguinte:

Apaixonada por um anjo - Segundo livro da trilogia AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora