"Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer
Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor"
(Caetano Veloso)
♥
Assim que sai da escola, não deu tempo de andar nem um segundo no Saltbot antes do telefone tocar. Atendi enquanto ia para a calçada meio desajeitada:
– Alô!
– Oi amor, sou eu, tenho que falar rapido, tenho cinco minutos.
– Dá pra ouvir quase duas músicas em cinco minutos, pode falar querido.
– Primeiramente, desculpe-me por estar tão longe, você não sabe o quanto é corrido aqui!
– Está tudo bem, eu imagino o quanto é difícil.
– Obrigado meu amor! Então, em segundo lugar, gostou da surpresa?
– Amei! Amei! Amei! Fiquei muito feliz mesmo! Obrigada, toda a equipe agradece! Vai ser uma grande oportunidade para todos.
– Foi um prazer, mas isso foi por você! Eu te amo e farei tudo para te ajudar no seu sonho. O tempo está acabendo amor e eu tenho que te falar uma coisa! Eu estou indo para Belo Horizonte na comitiva do senador e eu terei duas horas de folga, eu queria passar essas horas com você.
– Eu também – disse sentindo outra vez aquela culpa e o nó no estômago – Mas é em que dia da semana?
– É em uma quarta feira! – ele exclamou com expectativa.
Fiquei sem palavras, pois realmente não dava para eu me encontrar com ele, por dois motivos. Primeiro, quarta era o dia mais corrido pra mim na semana, pois eu ia para escola, da escola para a casa e não tinha nem uma hora até ter que comparecer ao ensaio, logo depois eu vou para o serviço e no início da noite já estou morta. Segundo, pela primeira vez em todo esse tempo eu estava temendo pela minha vida. Ele trabalhava para o governo e o governo proibi o que estamos fazendo. É como ir comprar droga do lado da delegacia.
– Louise – ele chamou e percebi que tinha pensado demais.
– Meu amor, meu anjo... eu te amo muito, mas dessa vez eu não vou poder te ver. Meu dia na quarta é todo...
– Deixa pra lá – ele interrompeu – Até mais.
O telefone desligou e eu fiquei parada sem saber o que fazer. Para resumir, eu sentia pânico, pânico contido, pois eu realmente não sabia o que fazer.
***
Passei o dia todo pensando no assunto. Mandei e-mails para Júnior falando que o Tomás precisa e ligar assim que puder. Tomás não foi muito amado quando era criança. A vida dele foi muito difícil e várias vezes ele disse que eu era a única pessoa que o amou de verdade, então eu tinha medo de não corresponder as expectativas dele. Tinha medo do que podia acontecer caso eu não correspondesse as expectativas dele.
Balancei a cabeça e disse a mim mesma que isso não podia ameaçar nosso futuro. Parei para prestar atenção no momento e percebi que tudo isso não passa de um ponto fixo no infinito, eu ia ficar bem, alias sou apenas parte de um infinito.
***
Claro que eu amo ser uma jovem fedida e descabelada dentro de casa jogando videogame de zumbi e ouvindo AC/DC, enquanto vivia uma guerra interna com meus medos e ao mesmo tempo tentava resolver incansavelmente meus problemas.
Já era sábado e Tomás não havia ligado! Pra falar a verdade eu não pensei muito nisso ao longo da semana. As coisas estavam um pouco bagunçadas na minha cabeça desde que voltei da viagem a duas semanas atrás. Parecia que até minhas ações estão estranhas.
Eu tinha que colocar as coisas no lugar, mas não sabia como. Eu não sabia direito nem o que estava fora do lugar. Eu não conseguia ver mais beleza na vida real. Antigamente tudo era poesia mas naquele momento eu só encontrava poesia no balé e alívio nos sonhos. Na verdade, nem nos sonhos!
Além disso, apesar de tudo que aconteceu essa, ter o amor de Tomás me dava paz, mas eu não conseguia encaixar essa paz na minha vida. Só queria que tudo voltasse ao normal, que as engrenagens voltassem a rodar.
Chamei minha mãe para me levar no ensaio. Tudo se intensificou depois da grande oportunidade que ganhamos. Ela logo vem, com Oliver atrás, e eu pego a mochila.
Chegamos dentro de poucos minutos, pois, graças a Deus, o trânsito não estava muito pesado. Assim que saí do carro Diego veio em minha direção e me abraçou. Fomos andando e conversando para dentro do Teatro.
Começamos a dançar muitos aquecimentos depois. Os paços já pareciam fazer parte de mim, pois eles saiam de modo natural. Todas as vezes que danço parece que fui enfeitiçada, mas daquela vez algo deu errado. No último salto coloquei o pé errado e cai no chão.
Primeiramente pensei que tinha sido apenas um tombo, mas no segundo depois uma dor horrível subiu pela minha perna. A dor me fez gritar muito alto, tão alto que até algumas pessoas na rua vieram ver o que tinha acontecido. Não vi nada depois daquilo pois fechei os olhos e fiquei tentando pensar em coisas boas até quando cheguei no hospital.
– Ela destroncou o tornozelo, vai ser rápido para colocar no lugar – dizendo isso o médico movimentou meu pé, desencadeando uma dor pior do que a que eu estava sentindo, mas colocando o tornozelo no lugar – mas vai demorar um pouco para ela poder dançar um de novo.
– Quanto tempo doutor – perguntou Malcon preocupado.
– Com a medicação correta um mês – enquanto ele falava uma enfermeira me aplicou uma injeção – mas ela terá que continuar a tomar remédios e fará fisioterapia por mais cinco meses para evitar problemas futuros.
Só Malcon agradecendo, em seguida dor escruciante sumiu completamente e no segundo seguinte apaguei.
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Apaixonada por um anjo - Segundo livro da trilogia Anjo
RomanceNo segundo livro da trilogia "anjo", o crescimento pessoal de Louise Lane continua, juntamente com seu amor por Tomás. Agora Louise tem um sonho, uma meta e bons amigos. Nessa jornada, essa jovem apaixonada se tornará muito maior do que jamais sonho...