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"Eu, ainda estou aqui, perdido em mil versões, ideais de mim"

(Tiago Iorc)

  O tempo passou voando até o fim do ano. Sentia aquele friozinho na barriga a cada manhã quando acordava e dava de cara com outro dia. Meu coração apertava toda vez que eu via uma propaganda de ano novo. Lembro-me que há exato um ano antes disso eu estava feliz, embriagada com minha nova perspectiva do futuro.

  O medo era minha emoção mais intensa. Sentia medo das horas que passavam, sentia medo das palavras que siam da minha boca, tinha medo de levantar e viver.

  Uma semana antes tinha sido o último dia que Tomás me ligara. No início nossa conversa foi mais séria, pois sabíamos que aquele seria o dia da despedida. Conversamos durante 6 horas, todo o tempo que ele podia. Ele me contou sobre o palácio: era tão majestoso da primeira vez que entrou que foi difícil respirar. Ele também me contou sobre o colega de quarto que era muito legal e que sentia que aquele cara seria seu primeiro e único amigo na vida. Comentou sobre seu primeiro dia no palácio, quando vários guardas do treinamento, inclusive o general, participou de uma cerimônia onde a cabeça dos novatos foram raspadas e todos eles foram para uma parte no interior do castelo fazer transcrições em uma parede de pedra antiga. Quando perguntei o que ele tinha transcrito, Tomás disse que era surpresa e que eu veria quando fosse visitá-lo. Eu disse que não tinha previsão de vê-lo e que estava curiosa. Então ele disse sorrindo:

– Que bom! Assim você arruma um jeito de me ver mais rápido.

  Eu ri da persistência dele de achar esperança. Estava tudo tão escuro e ele conseguia achar um futuro para nós. Isso era uma das coisas que eu mais amava nele. Pela primeira vez eu escutei Tomás por horas contando sobre algo que aconteceu com ele e eu simplesmente me apaixonava mais a cada segundo. Eu daria tudo para ouvir sobre o dia dele todos os dias. Eu daria tudo para ouvi-lo tão feliz assim.

  Ele falou incansavelmente sobre cada detalhe dos últimos dias no palácio por horas. A alegria que ele sentia era radiante e me fazia sorrir tanto que parecia que a qualquer momento iriamos explodir. Senti-me embriagada de alegria, amor e carinho. O medo não existia ali, a tristeza não existia ali e aquilo era tão bom que não podia acabar.

  Infelizmente as horas passaram e faltando uma hora para a conversa terminar começamos a nos despedir.

– E agora? O que eu vou fazer sem você? – eu disse já sentindo meus olhos encherem de água.

– Agora você vai continuar! Não vai chorar! Você vai ser forte!

– Só se você prometer fazer o mesmo...

– Ficar longe da minha princesa por tanto tempo, vai ser tão difícil quanto ficar sem respirar. O que eu mais quero é ter você todos os dias do meu lado e te ouvir. Tudo que eu mais quero é você! Mas infelizmente, não podemos ter tudo o que queremos. Não posso ter você agora, mas um dia eu poderei e serei o mais forte possível agora para te ter do meu lado. Eu te amo!

  Lágrimas fizeram força para escorrer, mas eu segurei. Respirei fundo e sorri. Ele sentiu meu sorriso pelo telefone, pois eu também senti o dele. Então eu disse:

– Eu prometo ser forte meu anjo.

– Que bom meu amor. Eu também prometo. De mindinho!

  Ainda lembro do dia em que eu pedi para ele comer mais verduras por causa do coração e aí ele disse: "ok! Eu prometo". E eu disse: "então promete de mindinho". Começamos a rir, e desde então, quando temos que prometer algo prometemos de mindinho.

  Depois de meia hora de tentando reter forças para um "Adeus", desligamos. Apesar de tudo aquilo parecer muito um adeus, não deixou que fosse.

  Desliguei o telefone e fiquei olhando para o nada. Tudo naquele momento parecia bem mais escuro que antes. Era como se eu estivesse em um túnel escuro, mas antes eu tinha uma pequena vela, não era como o farol de meses atrás, mas me ajudava a enxergar um pouco. Agora, parecia que um monstro mal apagou minha vela e encontro-me sem poder fazer nada. Tinha medo de movimentos bruscos. Mas no meu coração, uma chama estava acesa e me lembrava que alguém esperava por mim com uma vela, era só andar mais a diante. E enquanto isso, meu coração era aquecido.

  Sai de casa naquele dia já era final de tarde e fui para meu lugar secreto. O parque da rua 94. Todos dizem que em momentos difíceis você tem que estar com amigos e parentes para que eles te ajudem. Mas, a verdade é que em momentos difíceis não queremos nada além de silêncio para organizar as ideias. Naquela noite fiquei acordada até tarde tentando algo que não sei o que era. Eu organizei o quarto, mudei as coisas de lugar, fiz um monte de anotações, escrevi muito para a Clara, limpei minhas sapatilhas e só as 1:30 da manhã que procurei algo para comer apesar de não está sentindo um pingo de fome. Esquentei a comida no micro-ondas, comi, tomei banho pela segunda vez aquela noite e fui dormi. Deitei na cama junto com o barulho do toque de recolher. Aquele dia foi o mais difícil de anos.

  Ao amanhecer obriguei-me a ouvir músicas como: Firework, Rise, Titanium, som do osso, até o fim, e muitas outras músicas que eu julgava serem músicas de gente forte. Naquele dia eu dancei, dancei e dancei! Trabalhei muito também! Cheguei em casa muito cansada. Tão cansada que era difícil até pensar então decidi não pensa no que tinha me deixado triste na noite anterior. Foi uma noite agradável em família.

  Amanhecendo o outro dia, peguei todo o dinheiro do salário daquele mês e saí para comprar CD's. Foram tantas descobertas! Eu queria que minha avó tivesse chegado a conhecer músicas como as de Shawn Mendes, Twenty one pilots, owt city. Talvez ela tenha conhecido, mas não gostou, ou sua coleção de CD's já estava farta e sua mãe disse: "Pare de gastar dinheiro com CD's e vá comprar algo útil garota!".

  Eu também peguei um livro para ler e eu o lia todo o tempo. Quando não estava lendo estava ouvindo música no último volume, jogando videogame com meu irmão ou vendo uma série.

  Eu fazia de tudo para ficar com a cabeça em outros mundos menos no meu. Não sobrava tempo para pensar em mim, nem de sentir solidão, pois eu sempre tinha os personagens, sempre tinha minha família, sempre tinha uma música para me animar e quando eu não estivesse fazendo tudo isso estava dançando, estava com Diego.

  Apesar de todos os meus esforços parecia que eu estava presa no espaço, lento e silencioso. Só esperava que o tempo passasse rápido e que meu coração acostuma-se rápido com a ausência de quem parecia que sempre estivera ali. 

Apaixonada por um anjo - Segundo livro da trilogia AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora