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"o destino transforma num dia um menino em herói de TV"

(Léo Jaime)

  Saí da casa de Diego logo depois do almoço, pois eu ainda tinha que arrumar as coisas em casa. Quando cheguei não tinha ninguém. Coloquei minhas coisas no sofá na sala e o ingresso fixado na porta da geladeira.

  Arregacei as mangas e comecei a lavar a louça da janta que eu não tive coragem de lavar no dia anterior. Eu estava com a mão toda lambuzada de sabão quando meu telefone começou a tocar. Enxuguei a mão com um pano e apertei sem nem olhar na tela pra chamada conversar. O som saiu alto pela cozinha:

– Alo, é a Louise?

– É sim, quem fala?

– Cinco meses foram o bastante para você esquecer o som da minha voz? – gelei!

– Tomás?

– Sim! Sou eu minha pequena!

  Soltei um grito de felicidade seguido de uma gargalhada estridente e um urro de alegria. Fiquei insana!

– ai meu Deus! Está tudo bem ai? Você terminou o treinamento? Já disseram o que você vai fazer?

– Amor, acalma. Primeiro eu quero saber como você está. Eu quero saber o que aconteceu na sua vida, como esta sua família, a escola e tudo mais.

– Aí tá bom! Eu estou treinando muito para o concerto. Eu ainda não acredito que daqui quatro meses eu serei uma bailarina profissional. Minha família está bem, a escola está ótima, e por último, a novidade, meu pai me deu um ingresso para o show do Forday!

- Que legal minha linda! Esse show... seria tão legal que fossemos juntos, já que foi o motivo pelo qual nos conhecemos. Mas, ainda faremos isso, só torça para que eles não decidam segui carreira solo antes. – Então, depois de dizer isso, Tomás respirou fundo e mudou o tom da voz de uma hora para a outra. – Agora eu tenho que te contar uma coisa.

– Pode falar. Por que você está tão sério?

– O que eu vou te falar é bom por um sentido, mas também é ruim.

– Fale então, você está me deixando preocupada! – ele suspirou e disse:

– Durante o tempo aqui no castelo eu senti muito sua falta. Foi quase impossível viver todo esse tempo sem você e meu coração ardia de dor cada vez que pensava o quão longe eu estava de você. – fiquei sem saber o que dizer, então ele continuou – e nesse tempo fiz amizade com alguém muito importante: o conselheiro real, senhor Reinaldo Antonil. Ficamos muito amigos, é uma longa história, mas o fato é que ele viu potencial em mim e em um outro colega e pediu que eu fosse o guarda pessoal dele diretamente para o rei. O rei concedeu o pedido e agora eu morarei no castelo.

  Engoli em seco e meu coração que em um momento parecia estufar além de seus limites de tanta felicidade, feriu-se. A sensação era que meu chão saíra de debaixo dos meus pés.

– Amor, você está bem? Está aí?

– Sim, estou. Bom, - respirei fundo – eu não sei o que dizer ao certo. Você vai ser respeitado e terá um ótimo emprego. Você terá um futuro maravilhoso. Mas, e nós?

– Eu já pensei em tudo! Posso te ligar de 15 em 15 dias pois são os dias que eu posso sair do castelo, duas vezes por mês! Depois eu vou olhar quais são os dias certinho e te direi. E...

– E o que? – eu disse impaciente

– Nada, só um plano que estou arquitetando para você vir ao castelo. É surpresa.

– Não envolve pular muros e matar guardas não é mesmo?

– Não. – ele deu uma gargalhada e continuou – Agora vamos mudar de assunto, se não daqui a pouco eu conto a surpresa.

  As lágrimas começaram a chegar. É impressionante como ganhei e o perdi tão rápido. Minhas mãos tremiam de nervoso e eu tinha que me segurar e não perder a calma outra vez.

– Eu sabia que essa sua simpatia não encantaria só a mim – eu ri enquanto a primeira lágrima caia.

  Ele apenas riu. Senti tanta falta daquela risada e por um segundo pensei em como tudo poderia ser pior. Eu poderia estar sem ele, sem ouvir essa risada contagiante, sem ser amada. Naquele momento a única coisa que valia era o momento. Deixarei o futuro para o amanhã.

***

  Minha mãe colocou uma pílula na minha mão pela manhã. Joguei-as na boca e logo depois bebi um copo de leite por cima, de uma vez. A sensação do comprimido passando pela minha garganta agonizou por alguns segundos. Não quis ler a bula, não quis saber o que aquilo podia fazer comigo. Veria os efeitos colaterais como uma surpresa.

  Cheguei na escola e sentei no meu lugar de costume, feliz por nem uma surpresa ter se manifestado até momento.

  Comecei a escrever a matéria no quadro junto com a professora. Em um momento eu estava livre e no outro eu estava presa dentro da minha cabeça. Quanto mais as pessoas conversavam mais latejava, mais eu enlouquecia e mais eu sentia aquela prisão fechar.

  Cheguei até a janela para respirar um pouco e a única coisa que conseguia pensar era em espaço. Precisava de espaço! Cheguei até a professora:

– Dona Lídia, eu tomei um remédio e não estou passando bem, será que a senhora poderia deixar que eu saísse para tomar um ar.

Ela parou, analisou a sala e depois de um longo silêncio deixou que enfim eu saísse daquele inferno.

  Sentia-me danificada, como quando você compra um caderno muito bonito e escreve nele com canetinha e a tinta mancha o outro lado da folha e toda vez que olha para aquele caderno ira pensar na burrada que fez.

Eu tinha que tomar remédios para ficar sana. Eu me sentia engaiolada em meu próprio crânio.

  Sentei no sofá, no pátio frontal da escola. Tinha uma árvore balançando na minha frente. Talvez meus fios estejam se rompendo.

  Tentei pensar em como isso tudo começou e nas palavras de meus devaneios uma se apegou ao meu cérebro: "indo". Essa palavra é confortável.

***

  A noite, eu estava embriagada em prazeres falsos, loucamente bem. Eu era uma drogada! A melhor embriaguez é a de momentos.

Apaixonada por um anjo - Segundo livro da trilogia AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora