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 "Quando eu te vi fechar a porta pensei em me atirar da janela do oitavo andar"

(Clarisse Falcão)

  Por alguns dias eu realmente não sabia o que fazer, meio que esqueci de viver. É como quando você está respirando automaticamente e ai do nada você pensa em como estava respirando todo esse tempo, então tem que começar a fazer força para respirar.

  A dança me ajudava a colocar as coisas no lugar. Sem ela nada faz sentido, ela é parte de mim, uma parte bem importante, como meu coração. Mas, nada me revigora tanto quanto o amor! É impressionante pois mesmo depois de um dia cansativo, dançando e dançando uma única coreografia a procura da perfeição, eu ainda tinha energia, eu ainda tenho vigor para uma noite toda de sorrisos.

  Eu nem estava conversando com Tomás! Só o fato de se sentir amada como nunca antes, só o fato de pensar que entre todas as garotas do palácio ele quis me esperar, já me faz dançar ao som de "whisky a gogo" do roupa nova. Só o sentimento de ser amada me faz conseguir dançar depois de uma disputa de futebol feminino na escola. Só o amor que me dava força para trabalhar. Só o amor me ajudava a evitar as drogas de prazer ao máximo, pois só o amor já é uma droga!

  E graças a tudo isso eu estava ali dançando com o melhor amigo e companheiro que eu poderia ter. O mundo não esta nem um pouquinho bege mas, sim com um cor-de-rosa bem forte, sombras roxas e azuis e um contorno bem preto e certinho. A leveza dos momentos me guiava.

  Terminávamos assim, mais uma vez a mesma sequência de passos e aplausos soam inesperados por todo o salão. Olho para trás e me dou de cara com umas cinco pessoas. Isadora subiu no palco com elas e começou a falar:

– Olá crianças, gostaria de lhes apresentar a produção.

– Que legal! Agora eu posso falar que nem aquelas pessoas da televisão! Alô produção..., ajuda ai produção..., confirma pra mim produção... – brincou Diego.

Há um tempo Isa tinha falado dessas pessoas mas pensei que eu os viria apenas nos dias da estreia.

– Olá, eu sou Louise e ele Diego. Qual é o nome de você?

A moça loira de sorriso largo se apresentou primeiro:

– Eu sou Milena, a maquiadora e cabeleireira principal e essa é minha assistente Joice. – ela levantou o braço da baixinha branca como neve como se ela uma vencedora.

As apresentações continuaram:

– Eu sou Celina e esse é Jordan, meu marido, somos figurinistas. – Celina tinha a pele negra como a noite e Jordan tinha o mesmo elo tom de pele que ela. Ambos tem lindos cabelos cacheados.

Por fim o moço no canto diz:

– Sou técnico de som e iluminação, meu nome é Leonardo. Vamos ao trabalho?

  Todos começam a se movimentar e eu fiquei ali no meio olhando tudo aquilo acontecer até que Celine me puxou pelo braço até uma das salas. Ela me mandou ficar no centro da sala em frente ao espelho e então pegou uma fita métrica em uma revista.

– Vá olhando esses modelos que estão com o marcador rosa. Você e seu companheiro tem que chegar a um consenso de qual vão querer.

– Ok – eu digo abrindo a revista. – Uau! Não esperava ter tantas opções! – digo animada.

– Sim! Eles estão apostando em vocês!

– Eu sei, às vezes isso parece uma carga tão pesada. – sorrio de nervoso.

– Sei bem como é isso, tive uma oportunidade parecida no meu tempo.

– E você fez com que se orgulhassem?

– Fiz sim, não é tão difícil quando se ama o que se está fazendo, ou com quem está fazendo.

  Sorri timidamente e comecei a folear a revista enquanto ela media minha cintura. Todos eram lindos, mas alguns em especial me chamaram a atenção.

  O primeiro tinha um colam transparente com um topper marrom. A saia é de filó bege e acompanhado tem um casaco de pele. Lindo, mas acho que além de não ter nada a ver com o tema ia atrapalhar a dançar.

  O segundo era um conjunto rosa e bordado bem colado no corpo. Como um vestido vitoriano curto e bem mais armado e flexível. Acompanhando havia uma sapatinha com o mesmo bordado. Do lado dele estava mostrando as cores em que também estava disponível: vermelho, dourado e bege. A companheira do conjunto, uma roupa masculina estava bem lá do lado: uma calça colada azul-marinho, uma camisa de manga cumprida da mesma cor e um casaco curto do exército com ombreiras. O tecido era de flexível, eu conhecia bem. Não precisei pensar duas vezes.

  Ela terminou de tirar minhas medidas e eu sai daquela posição desconfortável.

– Já escolheu? – perguntou Celine – sim – respondi saindo da sala. Cheguei na porta e Diego já estava lá com a revista na mão. Perguntei:

– escolheu?

– Sim! – disse o ruivo firmemente e acrescentou – no três a gente vira. Um, dois, três!

  Viramos as revistas de uma vez e de novo parecia que eramos a mesma pessoa. Escolhemos o mesmo modelo.

  Fomos embora já a noite. Os preparativos eram tantos que acabei me esquecendo do meu próprio preparativo. No dia seguinte eu iria viajar para São Paulo, para o show do Forday. Fui correndo para a casa depois que o ônibus me deixou no ponto mas no caminho meu telefone começou a tocar freneticamente o que me fez parar como se eu fosse um trem prestes a descarrilhar.

– alô! – disse com pressa

– Sou eu, Tomás. – essas palavras fizeram com que toda a minha euforia parasse de repente. Como uma tempestade transformando-se em água parada de rio.

– Olá amor como você está?

– Infelizmente eu não posso falar, mas vim te desejar uma ótima noite. Estou indo trocar de turno agora. Pedi para que meu colega, o Júnior, te mandasse um e-mail com as informações completas. Tchau! Te amo.

  Ouvi uma voz alta gritando "SENTIDO!" de fundo e o telefone se desligou. Não importa se eu nem falei nada, só ouvir a voz do meu anjo já fez meu dia valer a pena. 

Apaixonada por um anjo - Segundo livro da trilogia AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora