16

9 0 0
                                    


 "Vem matar essa paixão,

Que me devora o coração"

(Pixinguinha)

  Assustei-me quando ele encostou nas minhas costas de leve, mas quando vi eu já estava em seus braços. Ele beijou minha testa e sorriu. Eu passei a mão no cabelo, eu sabia que ele não gostava mas fiz assim mesmo. Era tão liso e gostoso de acariciar. Ele segurou meu rosto e disse:

– Mais cedo disse que você estava linda. Mas além de linda, sabe o que mais você é? Incrível e forte e eu me orgulho muito de você. Me sinto o cara mais sortudo do mundo.

  Sorri de um modo que eu não sorria há muito tempo. Eu não era tão forte quanto aparentava ser, mas ouvir essas palavras saindo da boca dele fazia parecer a mais inquebrantável verdade.

  Não estávamos seguros ali, mas os braços dele faziam eu sentir o contrário. Eu estava totalmente protegida e nada poderia nos afligir. Se sentir assim pelo resto da vida não seria nada mal. Na nossa casa, na nossa bagunça. Com certeza, coisas muito melhores estavam nos esperando no futuro, depois que todo esse mar de dificuldades passasse.

***

  Quanto mais alto chegávamos mais a falta de ar atacava. Assustei-me quando Diego se ajoelhou no chão e se desesperou ao procurar alguma coisa dentro da mochila. Fiquei desesperada por que ele não conseguia respirar. Apressei-me em procurar um adulto, quando cheguei com um dos monitores ele estava com uma bombinha de asma na mão e Tomás o estava ajudando. O fato de eles estarem se dando bem me deixou feliz.

  Diego estava deitado no chão e a dificuldade para respirar ia passando. Nunca tinha imaginado ele tão vulnerável. Tomás ajudou-o a levantar.

  O monitor chegou dizendo:

– Desculpe, mas ele não vai poder continuar. Há alguns metros têm uma cabana de repouso, Gina vai acompanhá-lo até lá para se recuperar e voltará junto conosco na decida.

  Eles seguiram seu caminho e nós começamos a seguir o fluxo de pessoas para cima do monte.

  O topo do monte. A casa de vidro. O ar gelado que entra nos pulmões promove uma sensação viciante. Entrei na casa de vidro e me apoiei com a cabeça no vidro para o lado do abismo. Lembro-me de fazer isso toda Nature para me lembrar que o mundo era grande. Tomás virou olhando para mim e disse sorrindo:

– Isso é legal não é? Sempre quis fazer queda livre e assim da para ter uma ideia do desespero.

– Eu tenho muito medo de altura – disse rindo – mas aqui posso confrontar meu medo por que sei que não vou cair.

– Você é tão profunda quantos as águas do mar. Existem coisas que mesmo com séculos de estudo nunca vamos saber. – Ele falou olhando para o abismo

– Isso é bom ou ruim? – Perguntei. Ele respondeu sorridente:

– Isso é ótimo! Você vai continuar sempre me surpreendendo.

  Chegou a hora da decida. Descer o monte, na minha opinião, é muito pior do que subir! O medo de altura me fazia ter certeza que eu cairia e sairia rolando até o pé do monte. Apesar de saber que isso não ia acontecer eu me certificava de segurar nas árvores e arbustos ao meu redor.

  Quando chegamos de novo no acampamento fomos para um lanchinho e depois fizemos várias provas como, corrida, empilhar copos, corrida de sacos. Eu não participei de nenhuma como sempre, tinha medo de fazer alguma coisa errada e me envergonhar.

  Enfim a noite chegou e finalmente pude observar o céu longe da cidade onde as estrelas podiam brilhar sem ser ofuscadas. Esperei a ronda passar na nossa cabana e quando todos estavam dormindo me estiquei e olhei pela janela, de lá dava para ver Belo Horizonte quase toda.

  Então deu duas da manhã e o alarme soou indicando o toque de recolher, e da janela pude ver as luzes da cidade se apagando e aos poucos a cidade toda mergulhando na escuridão. Deitei na cama e pensei que seria muito bom ver o movimento da polícia lá de cima. Talvez se esse negócio de bailarina não der certo eu vire policial e fique acordada depois do toque de recolher prendendo os criminosos e jovens bêbados em nome da lei.

Apaixonada por um anjo - Segundo livro da trilogia AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora