Em Outra Língua

Capítulo XV

Willian

O ambiente está um pouco elétrico, nós não conversamos, ela criou uma barreira e acabou com todas as minhas tentativas de me aproximar. O cheiro dela invade todos os meus sentidos, me arrependo de estar usando o GPS, pelo menos ela estaria me indicando o caminho.

- Nina?

- Humm...

O que seria esse resmungo? Desvio o meu olhar do trânsito por alguns segundos e fito a mulher ao meu lado, ela nem se moveu pra me responder.

- O que você gosta de comer?

- Comida.

Sério isso mesmo? Deixo escapar um sorriso irônico, solto uma piscadela pra ver se amenizo um pouco a energia.

- Ok. Mas qual tipo de comida?

- Como assim?

- Italiana, Japonesa, Coreana, Tailandesa, Grega, Francesa...

- Brasileira.

Aproveito que o trânsito não nos deixa andar, me viro em sua direção e levanto as duas sobrancelhas, em sinal de interrogação.

- Nunca experimentei outro tipo de comida. A única coisa de diferente que eu comia, de vez em quando, era pizza ou hambúrguer. Não saberia te dizer sobre nenhuma outra.

- Minha comida preferida sempre vai ser a italiana, porque tenho descendência. E meu pai sempre cozinha para a família. Mas por agora estou amando comida indiana, se você quiser te levo pra experimentar, o que me diz?

- Acho que... Acho que vou adorar qualquer lugar que você me levar, só espero ser um restaurante normal, porque não tenho roupas para conhecer um lugar mais requintado.

- Você fica linda vestindo qualquer coisa, tenho certeza que vai estar maravilhosa independentemente do que escolher pra usar. Uma pessoa que fica bonita de uniforme, não pode reclamar da vida, Nina.

Solto uma pequena risada, estou certo que em qualquer lugar que ela entrar comigo será bem tratada, mas entendo a preocupação.

Escuto um barulho que é logo seguido por outro, nos olhamos instantaneamente. O sorriso se alarga no meu rosto.

- Isso foi sua barriga?

As bochechas dela ficam automaticamente vermelhas.

- Porque a sua começou. - Ela exibe um sorriso travesso e brilho nos olhos, parece está se divertindo com isso. - Se a sua barriga não tivesse roncado primeiro, tenho certeza que a minha não teria essa liberdade. Tenho um estômago deveras respeitoso... - A barriga dela solta um sonoro ronco, bem mais alto que os outros dois. A minha gargalhada é automática e  acompanha a dela.

Divinamente linda!

Perfeita. Perfeita quando sorrir assim, despreocupada e divertida. Eu não consigo desviar os olhos dela, quero captar toda essa beleza e guardar em minhas lembranças.

- Desse jeito não vamos aguentar esperar até as oito, Willian. - Ela não para de rir, me manda entrar a direita e estacionar.

- Chegamos? - Não vejo nenhum condomínio, alguns poucos prédios... E o GPS informa que precisamos retornar a avenida principal. Será que Antony me passou o endereço errado?

- Não. Mas estou com tanta fome que resolvi te apresentar a melhor barraquinha de comida de rua de Nova York. Vamos?

- Comida de rua? Certo, vamos lá. Tudo por você, Marina. Eu espero que valha a pena, porque eu também estou faminto.