Capítulo XXII

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Willian

  Não consigo descrever o que está se passando dentro de mim agora. É um misto de sentimentos, todos igualmente avassaladores.

  Ela foi se despindo diante de mim, se expôs, me contou todos os seus segredos. Ela compartilhou comigo cada fragmento de sua dor, eu pude sentir. E senti intensamente tudo o que ela narrou, tudo o que ela viveu.

  Ainda sinto em mim o avalanche de sentimentos que essas revelações me causaram. Ela me deu alguns detalhes que não saem da minha mente, algumas imagens se formaram vívidas em minha mente.

  Mas de tudo isso que ela me contou, o que mais me deixa confuso, cheio de pensamentos contraditórios e me chama mais atenção agora, é a vida que cresce dentro dela. Um bebê, ela disse dois risquinhos, foi como ela descreveu a descoberta. O mais importante ela ficou feliz com isso, ela o declarou seu bem mais precioso, a única coisa boa que veio de tudo que ela passou. Fico tranquilo que ela esteja bem resolvida sobre a questão do bebê. Eu ainda não sei o que pensar, ele não é fruto de um ato de amor, é fruto de uma violação, de uma violência, de um crime...

  Deus, de que um bebê precisa?

  Não sei nada sobre bebês. Pego meu celular com um pouco de desespero e procuro sobre gravidez no Google. Aparece todo tipo de coisa, gravidez de risco é a que mais me chama atenção. Porque não posso ficar curioso com um caso de gêmeos, ou trigêmeos? Não! Tenho que ler justamente tudo a respeito de gravidez de risco.
Será que a dela é uma?
Será que ela já foi ao médico?
E se for mais de um bebê?
Ela não tem nada de barriga, será que ele cabe lá dentro?
Será que está confortável?
Quanto tempo que ele tem?

  Porque eu li que os primeiros três meses são os que correm mais risco de um aborto ou de complicações na gravidez. Tudo que acho na internet só me deixa mais nervoso e mais agitado.
São tantas perguntas, tanta preocupação.

  Preciso cuidar de tudo agora, preciso cuidar dela.

  Deixo a pesquisa de lado, respiro fundo. Primeiro passo é ver a questão dos médicos, ligar pra resolver isso, a Mary deve ajudar, ela vai reclamar sobre o horário, mas vai fazer o possível e o impossível para resolver tudo o que eu preciso.

  — Boa noite, Mary.

  — Você está morrendo? Porque se não estiver, eu vou desligar. Faz ideia de quantas horas são, Willian?

  — Desculpa o horário, Mary. Eu preciso de você. — Meu tom de voz é incisivo e não abre espaço para dúvidas ou questionamentos. Não que ela vá me negar ajuda, mas a noite não foi das melhores pra mim, e ainda não consigo controlar o meu gênio.

  — Alguém está morrendo? — Ela parece um pouco exagerada, mas acho que é só raiva, lhe pago um salário altíssimo justamente para essas ocasiões, e todas as outras, é claro.

  — Ninguém está morrendo, mulher. Faz o favor de se controlar. Preciso que marque todos os médicos que uma grávida necessita. No nome de Marina... — Não sei o sobrenome dela, divago um pouco sobre isso. Minha família é muito prestigiada na cidade, eu sei como um sobrenome abre portas, tantas que quando comecei usei por um tempo somente o sobrenome Harris, não queria que houvessem dúvidas de que o que eu consegui foi com meu esforço e talento. Mas nessa situação, vou me valer disso. — Marina Laurentins, no nome de Marina Laurentins, Mary.

  Soa bem. Nunca pensei em gostar tanto te ter o meu sobrenome atrelado ao nome dela, soa como se ela fosse minha, como se eu e ela fossemos uma união. Uma única família.

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