Capitulo IV

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Nina

Eles me trouxeram pra casa de um casal de amigos, dizem que não vou atrapalhar. Paulo tem uma última reunião no sábado antes de viajar. Parece que ele vai para os Estados Unidos ainda essa semana. A casa é bem bonita, parece bem localizada também. Ele me apresentou o amigo, Ricardo. Tem um olhar esperto e um sorriso aconchegante. Ficamos a tarde jogando conversa fora, ele explicou que conheceu o tal do atravessador quando fez uma viagem a passeio á Orlando.

Paulo estava animado para ir morar no exterior por um tempo, mesmo como ilegal. Queria ampliar um pouco o mercado que tinha e, se ficasse um ano trabalhando fora conseguiria fazer isso e ainda sobrava dinheiro.
A esposa de Ricardo chegou há uns cinquenta minutos. Izânia. Amei o nome dela! diferente. Ela é simpática e amigável, se desculpou por não está presente para nos receber e fez questão que passássemos o domingo com eles também.

Agora, depois de um cochilo e um banho caprichado estou sentada sozinha na sala esperando todos descerem para o jantar.
Prefiro não pensar no que vai ser agora, vou só curtir esse final de semana, relaxar um pouco e respirar tranquila.
O jantar foi maravilhoso. Agora estão todos entretidos jogando cartas.
Eu resolvi subir pra descansar, não quero atrapalhar o jogo deles, e preciso pensar sobre tantas coisas...
Coloquei uma blusa grande que eu comprei só pra usar como pijama, e deitei.
O final de noite foi maravilhoso! Leve e divertido.
Mas agora eu tenho que decidir o que fazer com a minha vida. Faço um carinho na barriga enquanto falo com meu bebê. Sonhei que estava correndo atras de uma menininha linda com roupinha de bailarina no Central Park.
A reunião com tal atravessador é hoje. Vou falar com Paulo que tenho interesse em participar, acho que esse sonho foi uma resposta de Deus.
Quem sabe meu futuro está em outro país.
O tal do atravessador chega na hora marcada, Francisco é o nome dele. Tem uma cara meio fechada e não parece estar de bom humor.
Ele explica como funciona, os tipos de travessia que ele faz. Eu vou prestando atenção em tudo.
Paulo vai pagar a passagem e vai de avião, ele reclama que teve duas desistência e que os negócios não estão tão bem como antes.
Ivone fica toda tristonha, aposto que já tá sofrendo por saudades.
- Essa ida pelo México funciona como Sr* Francisco?
Todo mundo me encara, Paulo e Ivone ficam se olhando sem entender meus interesse no assunto.
-A boneca tem interesse em atravessar?
-Tenho sim! Mas diferente do Paulo eu não tenho dinheiro pra pagar a viagem mais segura. - Se eu sabia o que estava fazendo? Não! Não sabia. não tinha certeza de nada, precisava recomeçar, E que lugar poderia ser melhor que o país da oportunidade. Longe o suficiente de todos que quero fugir. E graças a Deus, e a Ivone, que eu fiz um curso de inglês, morrer de fome e ficar sem trabalho é que eu não iria. Nem que tivesse que limpar privada o dia inteiro.
-Como assim Nina? Desde quando você tem interesse em ir para América?_ Paulo me questiona, Ivone também me questiona com olhar.
- Bem Paulo, eu preciso recomeçar em algum lugar. E você mesmo diz que a América é a terra das oportunidades.
Respiro fundo e continuo.
- Vou aproveitar essa oportunidade, eu preciso de mudanças na minha vida. Você mais que ninguém sabe disso.
_Ivone me olha com os olhos já marejadas.
- Você tem certeza disso, Nina? Um país totalmente diferente, cultura diferente, comida diferente, língua diferente.
-Tenho sim, Ivone. Um país enorme como os Estados Unidos, tem gente do mundo inteiro e cultura do mundo inteiro. A comida, eu me acostumo. A língua, confesso que no início vai ser um problema. Tem muito tempo que não pratico e também não aprendi tudo naquele curso que você me presenteou. Mas passar fome eu não vou, sei falar o básico. Com o tempo vou aperfeiçoando e aprendendo mais.
- Mas querida, e sua família, sua mãe? Seu namoro?
Sério isso, ela sabia como as coisas eram. Ela mais que ninguém sabia como era minha vida.
Respirei fundo antes de responder. Não queria perder minha unica amiga por besteira.
_ Minha família, Ivone? Você e Paulo se importam mais que aqueles dois...
E namorado. Bem, Namorado, namorado eu nunca tive de verdade não é mesmo?!- Respirei aliviada quando percebi que aquilo era suficiente pra ela entender que minha decisão já estava tomada.
Vi uma troca de olhares intenso entre ela e Paulo.
Ela sorriu triste.
- Só não queria perder as duas pessoas mais importantes que eu tenho de uma vez só.- Meio chorando meio sorrindo e com uma cara sofrida, ela desabafou.

-Você não vai perder ninguém, Ivone. Levantei do meu lugar e puxei ela para um abraço apertado. Ele precisa e eu também.

-Então está decidido Nina fica com uma das duas vagas que você tem disponível para a viagem quinta feira. -Paulo respirou fundo, sorriu pra mim. - E não se preocupe, Nina. Vou pagar os custos da sua viagem também. Jamais que deixaria você se arriscar pela passagem do México. Não conhecemos os riscos, mesmo o Sr° Francisco não pode dá certezas. Certo? E a vista sai bem mais em conta, no inicio vai ser meio apertado sem grandes economias, mas damos um jeito.

Olhei pra ele por alguns segundos, não ia adiantar nada retrucar, espernear e brigar com ele. Quando ele tomava uma decisão, só Jesus.
Sorri de volta, até parece que eu tinha outra opção.
- Não tem como discutir né Paulo?!
Ele sorri compreensivo.
- Não, não tem.
- Mas que fique claro. Assim que eu consegui um emprego vou pagar todo dinheiro que você gastar comigo.
Ele me olhou meio de lado, balançou a cabeça positivamente.
- Não seria você se não pagasse. Mas você sabe que não tem necessidade disso.- brinca fazendo um carinho no meu cabelo.
- Não Paulo, não quero que achem que estou aproveitando da situação. Sou muito grata por oferecer ajuda.- Praticamente me obrigar a aceitar ajuda, sorrio comigo mesma.

- Mas só vou ficar em paz comigo mesma se ficar acertado entre nós que vou te pagar assim que possível. Não quero você desfalcado por ter que me ajudar.

-Então estamos combinados. Preciso tirar cópia dos documentos dela para preparar os papéis. Tem passaporte boneca?
Nunca fui tão grata a um sorteio igual agora. A escola de inglês sorteou uma semana em Orlando, e todos os alunos que queriam participar tiveram que providenciar o passaporte.
-Tenho sim- Respondi.
-Então tudo certo. Na quarta-feira, os documentos necessários já estarão prontos. E quinta-feira a tarde vocês já vão embarcar.
-Qual a cidade de desembarque? - Paulo perguntou. Pra mim não fazia diferença, qualquer lugar servia.
- Vocês vão pegar um avião da capital de Minas para Nova York, de lá podem começar a vida nova na América. Vão pra Belo Horizonte na quinta-feira de madrugada de micro ônibus, eles pegam vocês aqui mesmo, tudo certo? E vou com vocês ate o aeroporto de Confins.
-Certo.
-Alguma dúvida? Perguntas?
-Nenhuma por enquanto, Francisco. - Paulo cumprimenta o atravessador que sorri.

Todos vão se dirigindo a sala, eu sorrio e agradeço ao Sr° pela atenção e oportunidade. Ele segura o meu braço sorri afetadamente, me examina de cima a baixo.

- Você é muito bonita! Uma amostra da beleza brasileira. Faria muito sucesso na boate.

- Tenho participação em uma boate em Jersey City, com toda certeza você consegue trabalho lá.

- Não acho que conseguiria trabalhar em uma boate, sou bem atrapalhada.

-Por precaução fica com o cartão. É só ligar e falar que foi o Cisco que te indicou para o trabalho mais fácil lá.

Pego o cartão sorrindo pela oportunidade. Trabalhar de garçonete não é fácil, mas é melhor que não ter perspectiva.
- Obrigada pela indicação. Fico mais feliz de já ir com um possível emprego garantido.
-Sem problemas Linda, só não esquece de falar que foi o Cisco que te mandou para o trabalho, e que você vai fazer o mais fácil, viu?! Não vai esquecer. Você vai se dar bem lá.

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Bom dia, e bom jogo!

Não esqueçam a estrelinha e os comentários! *

Ansiosa para saber o que vocês estão achando ;)

Desculpa a demora pessoinhas, fui madrinha em um casamento sábado, e lá não tinha rede. A comemoração se estendeu ate ontem as 18h.  Cheguei em casa acabada. 


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