Em Outra Língua

Capítulo XXVI

Willian

Resolvo os problemas correndo pra voltar logo para a sala de jantar, além de estar faminto depois de tanto exercício, quero ficar perto dela. Aproveitar o final de semana em sua companhia.

Avisei que não vou estar disponível para questões da empresa por esses dois dias, as pessoas ficaram um pouco surpresas, mas tenho certeza que nenhuma delas vai desobedecer uma ordem direta minha.

O cheiro da comida já invade parte do corredor e apresso um pouco o passo, não quero deixar ela e o bebê esperando, já ficaram muito tempo sem alimentos. Culpa minha, é claro! Me perdi nela, e nem pensei em outra coisa. Tenho que ficar mais atento a isso, apesar de não parecer ela carrega um bebê, e os dois precisam de cuidado e atenção.

— Jess? — O que essa louca faz na minha casa? Eu não marquei nada com ela, ela também não me avisou que viria... Será que aconteceu alguma coisa?

— Willian, querido. Que bom que está aqui. Estava morrendo de saudades. — Como? Ela ficou fora por dois anos desde a ultima vez que nos vimos, não fez uma ligação, mensagem de texto, carta, sinal de fumaça ou qualquer coisa para manter contato, e agora aparece falando de saudades?

     Está certo que nós dois sempre fomos assim, tivemos um relacionamento aberto, nem neuras, sem cobranças. Se é que podemos chamar o que a gente tinha de relacionamento, acho que depois da Nina, eu aprendi mais sobre o significado dessa palavra. Definitivamente o que tivemos foi uma amizade colorida... Não, não... Foi um coleguismo colorido. Ela está se movendo em minha direção com um sorriso muito diferente dos que eu estou acostumado a receber. Até o tom de voz dela parece ter mudado um pouco.

Quando menos espero a boca dela invade a minha, sua língua está por toda parte e os braços me prendem de uma forma que fica difícil afastá-la sem que ela machuque no processo. Escuto o barulho de uma cadeira sendo arrastada... Merda! A Nina deve estar entendendo tudo errado, ou não entendendo nada. Espero que ela confie em mim e me deixe ao menos explicar a loucura da Jhessica.

     Consigo me desvencilhar dela com uma certa dificuldade, ela tenta me fazer um carinho, retiro suas mãos de perto de mim e procuro pela única mulher que me interessa nesse momento. E em qualquer outro.

— Nina — Tento a alcançar antes que ela saia da sala, mas as mãos da Jhessica ainda estão no meu braço. E não adianta chamar, ela já deve estar subindo as escadas, espero que ela tome cuidado... Se acontecesse alguma coisa com ela e com o bebê, eu não sei o que eu faria.

— Willian! Deixa, é melhor assim. É bom que ela não atrapalha nossa foda. — Um sorriso safado preenche seu rosto, esse sim é o sorriso que estou acostumado a receber dela. Esse é o de sempre, safado e interesseiro. Mas isso não me prende, ela não me interessa mais. Tínhamos um relacionamento por conveniências, sem sentimentos ou qualquer tipo de envolvimento emocional, era só sexo. E hoje não é mais nada!

— Você está louca, Jhessica? Como você entra na minha casa assim? Sem convite, sem ser anunciada... — Eu falo e saio andando, não dando o mínimo de atenção pra ela. Encontro Nina descendo com sua bolsa de festa, no meio da escada, tento ajudá-la a concluir o percurso mas ela não deixa. Bate em minha mão e desce sozinha.

— Onde você vai? Me perdoa por isso, Nina...

— Cala a boca. — Me assusto com o jeito que ela fala comigo, será que ela acreditou em tudo que a Jhessica falou? Quanto tempo elas ficaram sozinhas naquela sala? Agora isso importa menos, não posso deixar ela ir, não sem antes saber a verdade. Precisamos conversar. — Por favor, só cala a boca e me deixa ir. — A voz dela sai nervosa e estridente, será que ela não sabe que nervosismo faz mal para o bebê? Ela precisa se acalmar um pouco, tento chegar mais perto dela, mas ela sai em direção ao elevador, quanto mais próximo eu tento chegar mais nervosa ela fica.