Em Outra Língua

Capítulo XXX

Willian

     Ela acordou confusa e com medo. Quando percebeu que estava a salvo chorou, não foi um choro de dor, foi um de alívio e gratidão. Depois que ela conseguiu se acalmar, me agradeceu por estar ali e fez a pergunta que eu não tinha certeza de como iria responder. Mas não tinha como fugir do assunto. Contei!

     Demorou um longo minuto até ela digerir o que tinha acontecido, todo o tempo as duas mãos estavam sobre a barriga. As lágrimas de compreensão vieram silenciosas, me sentei na cama pra ficar mais próximo, passei uma mão carinhosamente pelo seu ombro, enquanto a outra apertava devagar seu antebraço, ela me puxou mais pra perto e se encolheu nos meus braços enquanto eu repetia que sentia muito, sentia muito por tudo isso.

     Ainda sobre efeitos de remédios não demorou muito pra que ela caísse no sono, uma das mãos repousava no ventre, e a outra estava entrelaçada no meu braço.

     Agora estou do lado de fora da sala de psicologia, aguardando o fim da primeira sessão dela.

     Eu fui o primeiro. Precisava incentivá-la a conversar com um especialista sem receios. Fiz uma sessão sozinho, uma de casal pra ela conhecer melhor a psicóloga e o método que ela utiliza.

     E nesse momento ela está lá dentro sozinha, estou um pouco ansioso com tudo isso, preocupado com ela. São muitas coisas a serem superadas.

     Pensando nisso, a médica disse ser necessário uma cerimônia de despedida, que isso pode ajudar nós dois e a família a encerrarmos uma etapa e nos preparar para novas. A despedida da bebê vai nos ajudar a seguir em frente.

     Pierre foi muito útil, nesses quatro dias ele não deixou de aparecer, está sendo responsável pela organização de um pequeno velório, para a despedida da nossa pequena.

     Sebastian nos visitou uma vez, mesmo não estando completamente presente, o trabalho ocupa noventa por cento da atenção do meu irmão.

     Meus pais vieram duas vezes juntos e minha mãe veio sozinha algumas vezes, até mesmo duas vezes durante o mesmo dia.

     Todos conversaram e tentaram animar um pouco minha Nina, ela recebeu flores e chocolates de Sebastian e o retribuiu com o primeiro sorriso depois do acontecido. Confesso que fiquei meio enciumado, mas ao mesmo tempo contente com a pequena demonstração de superação que presenciei.

     Papai e mamãe trouxeram um almoço preparado pela nona, e fiquei impressionado com o que Nina provoca nessa família. Nesses últimos anos nossa família tem se distanciado um pouco, todo mundo envolto em seus próprios trabalhos, tirando Pierre, é claro. Aquele ali só se envolve em enrascada e com rabo de saia.

     Mas esse Natal parece que vai ser diferente, este acontecimento, por mais triste que seja, parece ter unido minha família da melhor forma. E eu não sabia, mas sentia falta disso.

     Hoje o dia amanheceu nublado, o que não deixa de ser normal no inverno de Nova York, mas pra mim e pra toda a minha família ele representa um pouco do nosso estado de espírito.

     Nina conseguiu alta no mesmo dia que teve sua primeira consulta psicológica, a médica indicou um colega de profissão pra que ela permaneça fazendo os acompanhamentos, e pra deixá-la mais tranquila e dar um suporte maior, marquei a minha terapia nos mesmos dias que ela.

     Agora estou na porta do meu quarto esperando ela terminar de se vestir. Ela sai do closet e a minha surpresa é nítida, o vestido que ela escolheu é um modelo justo na cintura, vai até o meio das panturrilhas, e é branco. Fico um pouco confuso e curioso com a escolha da cor.