II

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estagnada me encontrei, procurando palavras e inevitavelmente fracassando,
no momento em que o vi...
distraído, ocupado com a escolha de qual livro pegar,
naquele dilema de ler sinopses e querer levar todos!

um instante apenas... ao ler o título
"Charles Bukowski" em suas mãos,
cogitei ir até você
despida de toda e qualquer razão, dizendo "largue esses livros agora mesmo e me leve"!
talvez fosse o modo que inclinava o pescoço ao passar pelas prateleiras,
ou o irresistível gesto de por a mão no queixo,
provavelmente questionando-se cada vez mais.

de repente se aproximou mais do que eu poderia suportar,
perto demais para que pudesse pensar com coerência,
e pegou um livro logo acima da minha cabeça,
na prateleira que eu usava de esconderijo.
"intrigante", murmurou,
me extasiando uma vez mais ao ouvir sua voz rouca
e sensata.
"bela obra, ainda que tão inibida" e saiu, me obrigando a ouvir seus passos suaves
e suspirar, uma vez que estava a salvo.

frágil ilusão,
a minha.
até parece que sou
feita de
frágeis ilusões.

pois foi você o mesmo sujeito
que voltou até o lugar onde
eu ainda estava,
sem livros para me cobrir ou
esconderijos para me
abrigar.
pegou minha mão em silêncio,
escreveu um número na mesma
e abriu o que pareceu ser
um sorriso,
ou minha perdição.

"uma bela obra, ainda que tão inibida", repetiu, com o olhar de quem tudo sabe, e se foi.

e eu fiquei.
perplexa.

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