XXII

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Você me tem, assim. Tão fácil em tuas
mãos. Me faz questionar como seria
mergulhar em um oceano raso...
Pois em ti, encontro a profundidade
que meu ser sempre quis se afogar.
Minhas identidades corriqueiras, não
parecem tão estúpidas para você.
Posso ser mais de uma, mais de duas,
mais de três... Posso ser eu mesma, em
todas e invariáveis versões de quem
sou, de quem fui e de quem quero ser.
Não me preocupo mais em subir
degraus para alcançar o ser perfeito
que melhor se encaixaria em seus
planos de perfeição, quando o que sou
basta. Basta pra ti. Agora percebo,
basta pra mim também. Sequer
preciso piscar para, em instantes, ser
levada aos céus no mais suave toque.
Que lentidão... Que tempo sombrio
sou obrigada a esperar. Até fazer o
que peço. Até sentir o que quero. É 
no prazer da tortura que nossos seres
se encontram - SE COLIDEM - e se
desfazem em milhões de partículas de
puro êxtase.
É nesse calor que me abrigo. És
incendiário, incentivo do perigo
diário, na fuga da cinzenta
melancolia. É combustão espontânea
todos os dias (tardes e noites).
São nas linhas do teu corpo que
divago minha poesia, dedilhando
nossa melodia pura e sentimental. É o
surreal na vida real. A tempestade
que despenca subitamente, lavando
os céus de tristeza que construí antes
que surgisse. Faz cada célula do meu
corpo tremer ao menor ruído de seus
trovões, nenhum pouco amedrontada,
mas completamente ansiosa por mais.
De modo que, quando seus raios se
fazem clarão e me iluminam, estou
mais que disposta a sair para fora e
me molhar.
Pois sei que, não importa o estrago
que este temporal cause, será ele o
meu arco-íris. Será ele o meu sol
escaldante, aquecendo tudo o que um
dia foi frio.

Será você.

Sempre.

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