XXV

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disse a você que queria um tempo e menti. 

mas as mentiras se tornaram corriqueiras. 

disse a você que não sentia mais nada

nem no aperto dos seus abraços ou

no sabor de seus beijos apaixonados ou

na lentidão do seu olhar, vagando perdido

até encontrar o meu...

mudei totalmente a imagem do meu 

perfil que você já tinha salvo ao lado do meu nome

em seu belíssimo cérebro.

mandei deixar a chave em cima da mesa, ao

invés do habitual esconderijo debaixo do tapete,

tudo porque queria ter a real 

certeza de estar deixando para trás, no

sótão empoeirado da vida,

todas as lembranças e segredos

compartilhados com a sua pessoa.

disse um adeus frio de quem jamais sentiu

calor humano no peito

e você sentiu isso também,

pois correu em busca de um agasalho

e eu não pude culpá-lo, pois

o privilégio da culpa era todo meu...

hoje o vi com o mesmo sorriso aberto e cheio de dentes

de quando éramos felizes

seu penteado mudou.

mas as covinhas das bochechas ainda são as mesmas

e tudo o que consegui pensar foi...

ele não está tão ruim assim.

parte de mim, a hipócrita, talvez, ficou

minimamente satisfeita porque

o deixei dizendo que queria tudo de bom 

e no fundo queria mesmo,

mas a parte obscura, que costuma me dominar

boa parte do tempo e em boa porcentagem das 

escolhas

exigiu mais tristeza e sentimento.

pois eu menti por você!

escondi dias miseráveis de saudade e

fingi que não me importava

para que se fizesse feliz.

mas é assim que me retribui?

sendo plenamente feliz sem mim...

por alguma razão, não pensei que fosse

acontecer assim

e me sinto fracassada ao ver que o

plano foi bem sucedido.

egoísta? sem dúvidas.

é isto, sem sombra de dúvidas.

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