XVIII

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é passageiro, penso.
todas essas pessoas aqui comigo
dizendo coisas sem sentido

um dia, elas irão morrer.

não é para sempre.
porque desde Romeu e Julieta,
e a mais estúpida história de
"amor", nada é para sempre.

e estas dores que sinto, em
minha alma e em sua morada,
são suspiros fugazes dispersos
no ar. e estas linhas que escrevo,
cheirando a tinta e a lágrimas
silenciosas de quem quer gritar
e não pode, um dia vão desgastar.

o céu que derrama seus lamentos
sobre a minha cabeça, além dessa
lua que ronda meus pensamentos,
todos eles
inevitavelmente
vão ter seu fim iminente,
por meteoros ou fogo ardente.

nem meus pais, nem meus chefes,
nem meus colegas, nem meus
conhecidos e nem os conhecidos
dos meus conhecidos vão
sobreviver.

porque somos passageiros.

e esta máquina enferrujada já está
parando
não suporta muitas milhas pela frente,
pois o caminho é longo e
não vale o desperdício
de combustível.

porque somos crédulos, somos incrédulos
iludindo apesar de sermos
iludidos e
capazes de incapacitar o que
já não tem sentido de vida.

mas não se preocupe.
nada é para sempre.
nada, nem mesmo seu tudo.

nada do que faça aqui
irá levar para além
da linha do fim, pois
a fragilidade da sua ignorância
põe fim a esperança de
eternidade completa.

ah, Julieta.
se matou, a estúpida.
em nome do amor.
em nome de Romeu, que se matou.
em nome do amor.
em nome de Julieta.

em nome da total e absoluta
burrice completa.
em nome da eternidade, e
a única coisa que realmente
conseguiram foi corpos
frios se desintegrando
sob a terra.

ainda bem que meu Shakespeare
se fez momentâneo e se desfez
em cinzas diante de mim.
um minuto a mais encarando
uma estupidez humana que
não fosse da minha
miserável vida
seria o fim.

o mais fácil seria enlouquecer e
lutar contra moinhos de vento
e, ainda assim, perder.
pois se está melhor morrendo
pela imaginação do que por
um amor efêmero,
amor equivocado.

mas nada disso importa, mesmo.
nem a literatura, ou esses
malucos que escreveram
loucuras em forma de
palavras insanas.

POIS NADA FOI, É OU SERÁ
P E R M A N E N T E

pois se a vida é um sopro...
logo lhe faltará ar!

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