XXIII

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O cansaço é cantado em cada traço, não peço nada em troca, só minha paz que há muito tempo não vejo a cor ou ouço o som. Compus tantos versos pra um fantasma que perdi a conta. Me pergunto em que órbita você está, escondido nas entrelinhas das minhas metáforas e sorrindo, mediante a minha total falta de bom senso. Te expus tanto por tão pouco: tudo o que quis foi um pouco da tua atenção, mas esqueci que almas sem coração geralmente são ocupadas... Estou plena, afinal. Não que você se importe. Mas a vida fica mais suave quando o mar turbulento finalmente se acalma. Você era meu mar, sim. Tempestade em forma de vida. Minha catástrofe natural predileta, vagando em meu ser como uma doença terminal. Mas morreu para mim. É certo que estava morta até nossas almas se chocarem numa explosão avassaladora. Porém, você tornou difícil viver, respirar, ou até pulsar do meu jeito. Porque as coisas são certas da sua maneira, o próprio Deus desse mundo medíocre. Isso para mim, no entanto, não é vida. É só mais uma prisão, disfarçada de amor. Este passarinho azul cansou de cantar para grades frias de ferro. Deixe-me livre, de uma vez por todas. Eu quero o céu. Quero minhas asas soltas e desinibidas, me levando ao meu verdadeiro destino. De forma que, não há espaço para atrasos ou pesos mortos em minha bagagem. Isso é um adeus.

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