Capítulo 25

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Há um mês, essa era a última vez que Daniele havia visto Henrique. Com a prancheta na mãos e da janela do celeiro ela encarava o galpao antigo que costumava ser a casa de Henrique ela não entrou, mas sabia que ele não estaria lá mais. A fazenda estava indo bem depois da correria que fora a competição e o seu desfecho trágico, Daniele fora efetivada como médica veterinária, cuidava de Susi que a cada dia estava mais forte e voltando a correr aos poucos e encantando a todos com seu talento. Sentia muita falta de Gustavo ainda, mas a saudade não parecia mais ser uma ferida totalmente aberta, não doía a todo momento como antes várias vezes ela encarava o anel de noivado ainda em seu dedo, pensava em tira- ló, mas nunca conseguia era como se com o anel ela pudesse estar mais perto dele, um sinal para que ele nunca se perdesse dela.Os filhos do senhor Acorssi, Catarina e Eduardo raramente eram vistos por ali, Marcelo e Maria Clara estavam cuidando de boa parte. Mas Henrique...era como se ele nunca tivesse existido.

- Daniele, preciso falar com você sobre os cavalos que chegaram nesta manhã, será que podemos conversar antes de você ir?- perguntou Marcelo chamando sua atenção

-Claro

A vida muda, as pessoas chegam e outras vão embora. É como em um jogo dos sete erros;se você olhar  muito rápido pode parecer que está tudo igual, mas na verdade há diferenças, há faltas. Quando Daniele dobrou a esquina de sua rua, a familiar casa do lado da sua nunca esteve tão parecida como antes. A varanda estava limpa, as rosas no jardim haviam sido replantadas e a antiga caminhonete cinza e suja de terra estava estacionada na porta. Aquela era a caminhonete do pai de Gustavo, aquelas flores haviam sido replantadas por sua mãe; era tão perfeitamente normal que se Daniele não tivesse olhado outra vez talvez pudesse enxergar Gustavo entrando dentro de casa. Sua garganta apertou e os olhos lacrimejaram a passos lentos abriu o portao de sua casa sentindo uma leve dor no peito, uma levo dor do familiar. Do perfeito.

Quando abriu a porta da cozinha sua mãe colocava suco no copo despreocupada. Tudo tão familiar que Daniele pensou que todo o pesadelo de perder Gustavo, sofrer um acidente, ficar em coma nunca tivesse de fato acontecido.

- como foi seu dia? - rita perguntou pra filha

- Mãe- começou Daniele calmamente- que dia é hoje?

Sua mãe a olhou com uma leve confusão estampada nos olhos

- sexta feira... dia 15 de dezembro...

- de 2013?

- Não Dani, 2014! Mas o que está aco...

- Rita, danie....- seu pai para de falar quando vê Daniele e imediatamente sua ruga de preocupação se afunda

- ah, você está ai

Rita alterna o olhar de um para o outro parecendo confusa

-filha, Susana e Alberto estão aí  e queriam muito falar com você

Rita suspira alto

- Eu não acho que isso seja uma boa ideia - diz ela - não me entenda mal querida, mas talvez voltar aquela casa seja muito doloroso nesse momento

- tudo bem...eu vou falar com eles

- Dani...

- eu esperei muito por esse momento mãe, se eu não entrar lá talvez nunca mais consiga.

Quantas vezes eu já passei por essa porta? Se perguntou Daniele encanto encarava o botão da campanhia prestes a bater. Com o coração nas mãos, apertou e em menos de segundos, como se esperado a porta se abriu e os olhos astutos de Susana apareceram, seus olhos alegres estavam meio sem foco e abatidos

- Ah, Daniele! - ela disse a  abraçando em meio a lágrimas

Daniele foi para seus braços de bom grado, tremendo enquanto chorava desesperadamente, em meio a soluços, não percebeu que Alberto havia a abraçado também, ficando os três vários minutos juntos em sua poça de lágrimas de saudade. Tudo estava dolorosamente em seu devido lugar, os portas retratos, os controles da TV, tudo. Daniele enxugou os olhos e se sentou no sofá azul ao lado de Susana.

- Como está Lucas? - ela perguntou

- está na mesma querida, estamos rezando pra ele consiga o transplante - respondeu Alberto ao lado da esposa

- Daniele- começou Susana- eu...nós queriamos te pedir desculpas por só agora conseguir entrar em contato com você, eu orava e ainda oro por você todos os dias.Eu sei que todos nós sofremos quando ele se foi, mas nada foi tão terrivelmente doloroso pra mim - ela para e suspira - eu fiquei tão perdida por algum tempo que pensei que poderia sentir só dor e tristeza em meu coração, era como um buraco escuro e profundo.

- eu entendo e quero que saiba que eu agradeço por tudo Susana

Susana sorri e toca a buchecha de Daniele

- Ele ama você, Daniele. Você era a mulher da vida dele

Daniele assente e aperta os olhos deixando que as lágrimas escorram

- por isso eu tenho certeza que ele está muito feliz por você

- eu...eu estou tentando

-sim querida! Eu sei que está! Eu te chamei aqui, porque queria te ver, te tocar antes de ir embora.

- ir embora? - perguntou Daniele confusa

- nós viemos buscar as coisas de Gustavo, nós nos instalamos em uma chacara perfeita perto de Belo Horizonte.

Daniele sentiu o desespero tomar conta de seu corpo. Se eles fossem embora, não existiria mais nada de Gustavo, não existiria mais sua janela, nem o carro velho de seu avô na garagem. Nem nada!

-Daniele - disse Susana- eu não sei até onde vai sua fé, eu não sei se você irá acreditar, mas Gustavo deixou um recado pra você - Susana se emociona - ele escreveu uma carta, Daniele. Está lá em cima no quarto - Susana pega na mão de Daniele e continua- e difícil dizer adeus, então eu quero que você leve o tempo que precisar.

Daniele olhou em direção as escadas e se levantou do sofá com suas permas bambas. Agarrou o corrimão de madeira e subiu degrau por degrau devagar. A porta de madeira com alguns arranhoes estava fechada e quado a maçaneta foi girada ela fez um leve rangido, a imagem do quarto de Gustavo exatamente como ela se lembrava fez Daniele querer escorregar até o chão e ficar lá chorando, o cheiro do perfume dele estava preso naquele ar, a cortina continuava fechada, o violão amarelo na poltrona e a lanterna ao lado. Daniele sorriu em meio as lágrimas. Era um quarto simples, sem muitas fotos nem recortes de revistas pregadas nas paredes. Ela observou o papel branco dobrado em cima da cama e suas mãos começaram a tremer, Daniele o desembrulhou  reconhecendo a letra de Gustavo

Queridos papai e mamãe,

Aqui é o Gusta, eu sei que parti repentinamente deixando muita dor, tristesa e saudade. Eu não sentir dor alguma, vovô Benedito pegou em minha mão e me guiou na direção da luz. Ele e vovó Margarida mandam abraços para você mamãe. Eu  também quero que saiba que eu estou bem e em paz que estou rezando e olhando por vocês. Mamãe obrigado pelo seu tamanho e génuino amor que me ajudou durante minha passagem, eu a amo muito. Papai obrigado por seus conselhos e ensinamentos pelo seu amor e paciência, eu o amo e sinto falta de arrumar aquela cominhonete vermelha e velha que era do vôvô com o senhor. Diga a Daniele, minha querida amiga e noiva que eu a amo e que vou sempre estar ao seu lado através das minhas oraçoes. Dani, eu estou feliz por você estar seguindo a sua vida, e das coisas que tem feito, você chora por não termos tido mais tempo, nem mesmo de dizer adeus, mas você algum dia irá entender que tinha que ser assim, me perdoe pelo acidente. A morte não é o fim da vida. O meu amor a todos vocês. Fiquem com Deus

Gustavo Oliveira


O  Eterno Amor ( CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora