Cap. 27

9.3K 727 97
                                    

Kiara

Depois de batermos um bom papo na porta decidimos entrar, chegamos na casa que é enorme e observamos o local.

— Porque não pintamos antes de entrar com os móveis Ohana? — a Hauana sugere enquanto brinca com o cinto da calça.

— Eu não tinha pensado nisso antes.. mas filha, você acha que dá conta tudo isso hoje? — a Ohana pergunta.

— Olha eu também sei pintar Ohana. — meu pai sugere e a Hauana faz cara feia.

— Olha Ohana não precisa contratar pintores  muito menos a ajuda de homens interessados na senhora. — ela alfineta meu pai.

— Acontece que o poder de decisão é todo dela. — meu pai provoca dando língua pra Hauana e ela mostra o dedo do meio para ele.

— Eu sou filha dela, esqueça as possibilidades de se aproximar. — ela ameaça e já vi que esse será o maior obstáculo do meu pai.

— E eu um grande amigo! — meu pai sorri.

— Amigo que quer entrar na saia dela. — a Hauana está deixando todo mundo sem graça. Ela é totalmente sem filtro.

— Hauana, não quero ter que te dar bronca na frente das pessoas. — a Ohana reclama e a Hauana fica quieta. Ela obedece a mãe mesmo não querendo. Meu pai fica mangando por trás, eles ainda vão se matar.

— E você Alexandre, pare de agir como uma criança de 5 anos. — a Ohana joga a bolsa no meu pai quando percebe que ele está mangando da Hauana. Os dois sorriem um pro outro, essa amizade me parece que vai longe.

A Hauana olha as tintas no chão da sala abrindo todas as latas.

— Já decidiu as cores Ohana? — ela pergunta.

— Quero cores claras.

A Hauana levanta e anda pela casa olhando cada detalhe, todos analisando inclusive meu pai.

— Cozinha bege, sala cor palha. O que acha? — a Hauana sugere para a mãe.

— Casual. — ela diz animada.

— Cozinha vermelha, sala laranja com azul. — meu pai sugere e todos riem, menos a Hauana.

— Faz isso na sua cara palhaço.  — a Hauana resmunga deixando meu pai mais divertido ainda.

— Podemos fazer isso nos quartos. — a Ohana sugere.

— É uma boa, na minha cara também! Então vamos dividir, um pintor tem direito a um auxiliar. — meu pai brinca e agarra o braço da Ohana, a Hauana olha com raiva.

— Eu vou preparar as cores. Já temos o palha, irei fazer o bege. Os quartos vão ficar branco mesmo? — a Hauana pergunta.

— De preferência sim, são dois, caso você vier morar com a mamãe, pode escolher a cor de um deles.. — a Ohana diz calmamente.

— Nem pensar. — a Hauana interrompe enquanto despeja a tinta branca no balde e mistura com um vasinho de cor bege.

— Olha Ohana, o palhaço vai pintar e a senhora vai fazer o acabamento com o pincel, beleza? E vê se pinta essa porra direito. — ela explica enquanto entrega o pincel para mãe e o rolo pro meu pai. Os dois seguem para a cozinha rindo de algo e ficamos as duas na sala.

Ela balança outra tinta, e despeja numa bacia larga.

— Já pintou alguma vez? Ou ao menos tentou? — ela pergunta sem olhar para mim.

— Só em objetos com pincel mesmo. Nada demais. — explico.

— Tem certeza que quer pintar? — ela me pergunta ainda no chão mexendo a tinta.

— Quero. — diminuo um pouco a tensão, afinal aconteceu mais uma intriga ontem entre a gente, é inacreditável como sempre nos encontramos de alguma forma, como tantos acasos acontecem em tão pouco tempo.

— A regra básica pra ficar legal é uma parede sim outra não. Vamos começar com essa aqui. Pega o rolo, gira a espuma na tinta, razoável. — ela diz e me entrega o rolo, mergulho a espuma  na tinta e ela sorri.

— Não porrinha, espera, razoável, deixa eu te ajudar. — ela segura meus braços e eu tento não perder o foco.

— Isso, agora você vai fazer esse movimento na parede, deixando os cantos para fazer com o pincel depois.  — ela guia meus braços sobre a parede, inclina minha cintura com a mão colando nossos corpos. Está ficando cada vez mais difícil.

— Entendido. E por que ainda está ralo dessa forma? — pergunto curiosa.

— Tem uma segunda mão depois, espera essa secar. — ela explica calmamente, e analiso a cor da tinta que é bem bonita.

Ouvimos risadas da cozinha e a Hauana suspira fundo, ela não está gostando nem um pouco dessa ideia.

— Que coisa esse novo amiguinho da Ohana. — ela reclama.

— Qual o problema eles serem amigos? — defendo e ela balança a cabeça.

— Até parece que seu pai só quer ser o amigo da Ohana, deixa de ser ingênua. — ela pinta a outra parte da parede.

— Você que vê malícia em tudo, não significa que as pessoas ao redor sejam assim.

— Vejo malícia a ponto de sentir as coisas, você que é boba demais.

— Sou, só pela quantidade de vezes que te desculpei se percebe.

— Você quem insistiu quando eu pedi que ficasse longe de mim.

— Eu apenas quis ser gentil, mas você não merece a bondade.

— Eu não preciso da sua gentileza, era isso que tinha que enxergar.

— E porque me procurou? Do jeito que fala parece que fui a única a correr atrás.

— É divertido brigar com você, sabia? — ela diz com um leve sorriso e lanço o rolo cheio de tinta em sua cara, fazendo ela rir mais ainda.

A tinta escorre seu corpo até a calça, e ela tira o excesso do rosto.

— Só consigo sentir desprezo e decepção. — sou dura com ela.

— Só não quero que sinta dor.. agora fica longe. — mas porque?

Paro em sua frente e observo seu comportamento inquieto, e a cada passo que eu dou sua respiração fica mais forte. E a minha também.

O que eu tenho que assusta tanto ela? Porque a distância?

Eu não tenho medo da Hauana.

Quando mundos colidem |ACASOS|Onde histórias criam vida. Descubra agora