Cap. 14

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Hauana

Infelizmente estou no maldito hospital, e depois de algumas horas desacordada igual uma idiota, o médico aparece com uma cara horrível, pior que a minha.

"Bebendo e dirigindo, não é?" ele me acusa.

"Não é da sua conta seu amigo, quando é que eu saio daqui?" revido e ele suspende a sobrancelha.

"Além de irresponsável é malcriada."

"Além de velho é chato pra cacete."

"Você me lembra o seu pai, em tudo, até no humor ácido." ele sorri.

"Que porra de pai."

"Leva um tempo para aceitação. Já sei da história toda."

"Vem cá, você salva vidas ou cuida da vida alheia?"

"Os dois. Tem uma garotinha na sala, muito bonita por sinal, é sua namoradinha?"

"Você um intrometido e ela não é minha namoradinha mesmo isso não sendo da sua conta."

"Ela perguntou por você e eu disse que você estava morrendo de saudades." como é? Ele começa a rir.

"Miserável, bem que eu poderia abrir um espaço nessa dentadura mal colada." ameaço e ele aperta meu pé.

"Filho de uma mãe! Meu pé! Acha que tenho medo de ser presa palhaço?" grito de dor e ele continua rindo.

"Vou pôr seu osso no lugar, deu sorte por não estar morta, e pelos ossos estarem inteiros." ele tira onda enquanto gira meu pé.

"AAAAH SEU MERDINHA SEM DIPLOMA!" grito quando meu osso instala e parece voltar para o lugar.

"Nem chorou, vai ganhar pirulito." que médico mais ordinário.

"Dê pra sua mulher chupar. Tem quantas pessoas naquela sala?" pergunto imaginando o desastre.

"Seus pais, seus tios, suas primas, seu irmão e sua namoradinha." ele estica um sorriso de quem adora encher meu saco.

"Como assim? Que tipo de circo é esse? Resolveram fazer momento em família agora? Olha preciso que me ajude, não quero olhar pra cara de ninguém, entendeu? Preciso sair dessa porra urgente. E ela não é minha namoradinha que saco!" ele me encara sorrindo.

"Sou muito bem pago pelo seu pai, acha mesmo que vou acobertar suas malcriações? Você vai voltar para casa dos responsáveis e tomar os analgésicos e a vergonha na cara direitinho, amanhã você já está melhor, agora se me der licença vou chamar seus pais." ele acaba de me desafiar, preciso fazer algo, esse inútil está se achando demais.

"Aí minha coluna!" grito bem alto.

"Coluna?" ele vem desesperado em minha direção.

"Merda.." disfarço enquanto puxo a corda da janela.

"Consegue ficar de pé?" ele pergunta quase de costas para mim e amarro suas mãos uma na outra com um nó enorme.

"Garot.." ele tenta gritar e enfio um pedaço de pano branco em sua boca.

"Vai lá contar pro meu papai." sorrio enquanto removo tudo que está ligado a mim. Ele se balança igual peixe fora d'água e eu não estou nem aí, não quis me ajudar agora fica aí.

Estou toda fodida, preciso bolar um plano para sair daqui.

"Doutor, como ela está? Eu.." a Kia abre a porta e assim que vê a cena se perde.

Fico sem jeito, ela parece estar bem assustada mas logo fecha a porta e entra.

"Que bom que está bem.." ela me olha com seu jeito cuidadoso.

"Bem ferrada." reclamo e ela sorri, esse maldito vestido que deixa ela mais gostosa do que já é, que inferno.

"Bem melhor de que algumas horas atrás."

"Valeu de qualquer forma, é isso, estamos quites agora." tento desviar do perigo que é conversar demais com essa garota, a gente se desentende muito rápido e eu não me esforço para ser melhor.

"Não, disponíveis, se precisar.. podemos ser amigas." ela é firme em suas palavras.

"Não seria uma boa, olha, finge que não me viu.." peço e ignoro o médico se batendo no chão na esperança de desfazer meu nó que aprendi nos escoteiros.

"Você precisa se recuperar, pode sentir dor mais tarde.. seu pulso está sangrando." ela se aproxima e tenta conter o sangue com um algodão, ela toca minha pele e bate uma sensação maluca, eu preciso me sair dessa menina.

"Fica longe de mim garota.." peço enquanto ela termina de secar meu pulso, abro minha mão revelando mais cortes.

"Dói?" ela pergunta secando minha mão, ela insiste em ser gentil com o diabo.

"Um um.." nego. Olho dentro dos seus olhos e me perco, ela deixa o algodão cair mas não a deixo abaixar, seguro seus pulsos e ela se rende fechando os olhos, não consigo decifrar merda nenhuma, só sei que preciso desse corpo no meu urgente, a puxo contra mim e suspiramos.

"Acho que tenho que ir, valeu." solto seu pequeno corpo, mesmo não querendo me viro saindo sem olhar para atrás e pulo a janela de vidro a minha frente. Preciso ir. Vou pegar minhas coisas naquele apartamento amanhã e arrumar um lugar para mim, com a minha grana. Meu tio é um traidor que acobertou minha mãe, e minha mãe uma mentirosa que escondeu o meu pai, e meu pai um filho da puta inocente.

Agora eu vou adiantar meus passos, sem camisa toda ferida a noite, e abalada por aquela porra que tanto mexe comigo, ela canta muito, tem qualidade de sobra, é a garota das minhas poesias, mas é só mais uma garota.

Kiara

Ela pulou a janela toda ferida e ainda me chama de teimosa. Espero que fique tudo bem com ela, e creio que não nos veremos tão cedo depois disso tudo, ajudei ela bem, acho que ajudaria de novo.

Lembro do médico e corro para desamarra-lo.

O nó é quase impossível de se desfazer, pego uma tesoura e tento cortar, ainda sim é difícil.

Tiro o pano da sua boca enquanto corto o a corda.

"Obrigada garotinha, se não fosse você agora eu iria ficar por aqui, não sou o mesmo homem de 20 anos atrás.." ele tenta levantar e eu o puxo.

"Tudo bem, não precisa dizer que ela fugiu para os seus pais, ela precisa mesmo ficar só depois de tudo." aviso e ele sorri.

"Você está se tornando uma rebelde também? Os pais dela já estão sofrendo com o acidente, e você ainda pensa em acobertar essa maluca?" Ele o médico diz.

"Eu sei do que estou falando, você não faz ideia das coisas que aconteceram com ela hoje." ele arqueia a sobrancelha.

"Parece que não é só ela que gosta de você, ao menos é recíproco, preciso ir."

"Não sabe do que está falando."

"Ela tenta não gostar."

"Como sabe?"

"Ela aprontou comigo e agora eu vou estragar os planos dela de fingir que não se importa com você." ele sai da sala.

É impossível ela gostar de mim, ela me trata mal, me irrita, não tem nada haver com sentimentos, temos sim muitas intrigas e discussões, apenas.

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