Cap. 90

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Jogo a camisa no lixo e desvio do espelho, não quero contemplar o resultado da minha arrogância.

Queria ter escutado a Ohana mais vezes, ter escutado a Kia, afinal, que diabos que me levou a crer na imortalidade?

Eu sou de carne e osso, como qualquer um, e essas cicatrizes estão me acabando, não só por fora, por dentro ainda mais.

Saio do banheiro sem superpoderes, sem nada além da certeza de que a vida é uma só e eu gastei parte dela sendo imbecil. Posso perder tudo hoje.

"Tá maluco porra??" empurro um imbecil que derrama gasolina propositalmente em mim.

"Estou te temperando." ele ri.

"Cadê ele??"

"Mais perto do que imagina."

Esse idiota me paga por ser um puxa saco.

Caminho pelo posto sem camisa e com a pele queimando, meu corpo é altamente inflável enquanto eu não tomar um banho bem tomado.

Verifico a minha moto mais uma vez, preciso testar tudo antes de sair.

Não vou ficar mais nem um minuto aqui, se ele quiser minha cabeça ele vai ter que ralar muito.

Retiro um parte do que eu disse no banheiro, eu não me arrependo de nada que fiz com esse cara, faria tudo novamente e pior, mesmo que me custasse outra sequência de cicatrizes.

Eles foram para a cidade, então vou pegar a direção contrária para que eles sigam imunes de qualquer jogada daquele maluco.

Algo me diz que toda insistência é em vão, estou indo contra mim mesma. Como eu não cogitei o risco?

Não sei, sei que quando a Kia apareceu naquela fazenda me esqueci do mundo, da vida, e das chances de morrer por aí.

Odeio pausar a realidade em minha volta para reparar o quanto eu estou ferrada em problemas.

Flagro o carro pelo retrovisor, obviamente é algum idiota que está me seguindo, espero que seja a reta final dessa porra, estou cansada demais para reviver uma piloto de fuga dentro de mim.

Será que eles vão ficar bem?

Não vou ter paz enquanto o Tony não aparecer na minha frente, ele solto por aí é um perigo para as pessoas que eu me importo de alguma maneira.

Ultrapasso um carro e o carro azul faz o mesmo.

Ah tá na cara que querem meu pescoço. A hora chegou.

Subo a marcha e acelero totalmente, eu nunca se quer vim até esse ponteiro do velocímetro, nunca senti tanto medo de morrer antes.

A moto foge totalmente do meu controle, o farol alto do carro atrás de mim dificulta tudo, é como se eu já estivesse trilhando o caminho para o inferno.

Meu coração é o Big Bang em seu mais alto nível atômico, pensei que a paixão pela Kia fosse o ápice de hormônios e emoções, mas a sensação de estar perto de morrer é mil vezes mais sinistra.

Um lado de mim busca um Deus bondoso, serve de qualquer religião, odeio me humilhar e estou fazendo isso com muita intensidade.

Não quero morrer.

O carro azul dispara e cola comigo, olho de relance para o lado e meus olhos filmam o inusitado, esqueço a pista, um telão de todos os momentos entre a gente aparecem em minha cabeça, sou tomada por um oceano de ódio e vingança, pensei que essas duas emoções não tinham tanta força em mim mais, me enganei, elas vieram como nunca antes.

Quando mundos colidem |ACASOS|Onde histórias criam vida. Descubra agora