2003
6º ano, turma A
No ano seguinte demos sorte de cair na mesma turma novamente, com certeza o destino queria nos ajudar em nossa amizade - não que não tivéssemos outros amigos mas, quanto mais o tempo passava, Tae se tornava menos tímido e eu me importava mais com a amizade dele do que com as outras.
Eu insistia há tempos para que Tae fosse à minha casa para brincarmos qualquer dia, mas ele sempre dizia que a mãe dele nunca iria deixar.
— O que você acha se minha mãe pedir pra sua? — indaguei enquanto bebericava um pouco do meu Yakult.
— Talvez então ela deixe — respondeu enquanto balançava as finas pernas no banco.
Após muita insistência da minha mãe, a mãe de Taehy acabou por deixar, mas ela foi bem exigente quanto ao horário, disse que o filho deveria estar em casa às 16, nada além disso. Nem preciso dizer o quanto eu e Tae ficamos felizes.
Fora a melhor tarde das nossas então curtas vidas, brincamos o dia todinho, comemos lanches que a minha mãe havia preparado, rimos de besteiras até nossas barrigas doerem e inventamos todo tipo de brincadeira que nossa imaginação podia criar.
Certo momento fiquei preocupado quando olhei para meu amigo e o vi empalidecer.
— O que houve, Taetae?
Ele nada disse, apenas mostrou-me as horas no relógio, que já indicavam 17:30. Nos divertimos tanto que não percebemos as horas passarem.
— T-Tá tudo bem Tae, nem foi tanto tempo assim... — falei tentando reconfortá-lo mas sua feição estava repleta de medo. — Eu posso ir com você, para te fazer companhia. Sua casa nem deve ser tão longe, certo? - disse e ele assentiu.
Pus meu casaco pois, com a noite que chegava, vinha também o frio do sereno. Andamos alguns quarteirões até chegarmos próximo a uma casa com uma pintura bem descascada e um jardim um pouco revirado, "um pouco" era eufemismo da minha parte... Havia mato crescendo por toda parte, a cerca era totalmente irregular e havia muito entulho espalhado, parecia cenário para um clipe de terror, só faltava zumbis saindo dali.
— Aqui já está bom. — ele dissera, quando estávamos ainda a passos consideráveis da casa.
— Eu posso falar com sua mãe que a culpa foi minha. — argumentei.
— Vai por mim, você não vai querer falar com ela. E eu não... não quero que ela acabe descontando em você.
Com o coração um pouco apertado, assenti e vi meu amigo se distanciar e entrar em casa. Não tardou para eu ouvir alguns gritos e sair apavorado de lá. Queria poder fazer algo por ele, eu me sentia tão impotente.
✿ 彡
No dia seguinte Taehyung chegara cabisbaixo na escola. Eu já imaginava que poderia ter a ver com o ocorrido no dia anterior mas não pensei que ele não iria ao menos dirigir a palavra à mim.
Como já mencionei, era insistente, então fiquei o chamando o dia inteirinho, mas fui ignorado.
— Jimin, não! — ele falou como um sussurro. Fiquei feliz por ele finalmente ter falado comigo, mas triste por ser aquelas meras duas palavras, as quais eu não entendi nada do contexto.
— Quê? Taehyung, o que houve?
— J-Jimin, para! N-Não posso... falar com você. — então aquilo me destruiu por dentro. Taehyung era realmente alguém muito importante para mim, eu não podia acreditar no que estava acontecendo.
— M-Mas-
— Se ela souber, vai fazer pior, Jimin. Eu não quero isso. — falou e eu podia ver seus olhos marejando. Olhei para seus pulsos e pernas e vi pequenas marcas arroxeadas. Quis chorar muito, mas me segurei.
Então eu havia acabado de perder a amizade mais importante pra mim, porém, se fosse para o bem de Tae, estaria tudo bem. Eu ficaria bem, eu acho.
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dear best friend ➹ vmin
FanfictionA descoberta da sexualidade, a dificuldade em contar isso para as pessoas as quais se ama e uma paixão platônica pelo melhor amigo. Tudo isso com uma pitada de juventude, imprevisibilidade, drama, um velho diário e um ursinho de pelúcia chamado Chim...