Eu conhecia esse ritual. Teríamos que beber o sangue um do outro, para fechar o acordo, e a última gota deveria ser derramada sobre a pedra. Se qualquer um dos lados não cumprisse o combinado, seria punido com a morte. Se um dos dois morresse, o acordo era extinguido.
Minha mente começou a trabalhar ferozmente, pensando no que eu iria pedir.
— Apertem as mãos — ordenou o relator.
Senti novamente aquele clima de tensão vindo dos senadores.
Markus segurou minha mão com força e eu automaticamente fechei minha mente para a enxurrada de pensamento que poderia vir. Eu não estava muito a fim de entrar na mente doentia do rei.
— Conforme a lei, primeiro Vossa Majestade.
Markus fitou-me, sério. Sustentei o olhar, concentrada em fechar minha mente e trancar minha respiração. Senti como se fosse explodir, parecia uma nova forma de tortura.
Estufando o peito, Markus começou:
— Eu, Markus Ravier, rei de Ravena e das Províncias Peculiaris, descendente da nobre casa de Ravier de Raven's Gumble, estabeleço um acordo com Atalya.
Revirei os olhos com tanta frescura. Eu não tinha um título de nobreza para exibir, coisa sem necessidade.
— Atalya deverá caçar o inimigo da Coroa, Rogath, e trazê-lo sob custódia até Ravena. Em troca, eu juro e garanto a ela que não será imputada por nenhum crime que cometer no exercício da missão. Terá proteção da Coroa e, se obtiver sucesso em sua missão, será uma pessoa livre. Todos os seus crimes serão perdoados.
Dito isso, ele levou o cálice com meu sangue aos lábios e bebeu de um gole só, deixando uma única gota, que virou sobre a pedra, fazendo-a brilhar mais intensamente.
— Sua vez, quimera — disse o relator.
Segurei o outro cálice com minha mão livre. Dei um suspiro e o cheiro do sangue penetrou nas minhas narinas, fazendo minha garganta pegar fogo.
— Eu, Atalya, quimera — falei cuidadosamente, mantendo o olhar no rei. — Sem casa nobre — resmunguei. — Prometo caçar Rogath, o inimigo da Coroa. Cumprirei minha missão até o fim. Em troca, o rei me concederá poder total...
Aproximei o cálice um pouco mais.
— ... E serei livre para sempre, mesmo se falhar na missão.
Antes que pudesse ser impedida, virei o cálice em meus lábios e joguei a gota na pedra. O sangue do rei aplacou minha sede, provocando uma sensação de prazer pelo o meu corpo, seguida de um formigamento no braço que ainda estava segurando a mão do rei. A pedra emitiu mais um facho de luz azul e, segundos depois, apagou totalmente, fazendo nossas mãos se separarem.
Com exceção a mim, não havia uma única pessoa naquele recinto que não estava com a expressão perplexa. Sorri malignamente. Ninguém me mandaria de volta para cadeia, independente do que acontecesse.
⸎
Como resposta a minha ousadia, eu estava trancada na biblioteca, com guardas postados em todas as entradas. Na verdade, nem Markus nem qualquer um dos ministros e senadores emitiram qualquer tipo de comentário sobre minha gracinha. Então, parecia estar tudo bem.
Fui convidada a aguardar na biblioteca sob o pretexto de que o rei estava com uma agenda lotada e tinha vários assuntos a tratar. Só que eu desconfiava de que ele e seus velhos decrépitos estavam surtando pela minha afronta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Crônicas de Ravena - A Ascensão da Quimera
FantasíaRavena e as Províncias Mágicas enfrenta um inimigo aparentemente invencível: Rogath, um híbrido determinado a assumir o trono e garantir a supremacia de sua espécie. O rei, Markus, sente que está fracassando na tarefa de proteger seus súditos e conv...