— Espero que tenha um ótimo motivo para você estar bebendo na cozinha da minha casa, irmão. E na frente do meu filho — disse Capheus, às costas de Kelenius.
Kelenius limitou-se a dar mais um gole no Uísque de Goblin. Ouviu os passos de Capheus ecoarem pelo cômodo e viu o irmão surgir em seu campo de visão. Marion, que alimentava seu filho Atreus, apenas sorriu, divertindo-se.
— Marion, você deu meu melhor uísque! — Exclamou Capheus, censurando a esposa. — Você sabe como é difícil achar um bom Uísque de Goblin!
— Era um motivo especial, Capheus — retorquiu a mulher, sem se abalar.
Capheus e Kelenius eram extremamente parecidos fisicamente, a não ser pela barba espessa e as rugas que decoravam o rosto do irmão mais velho, além dos dois olhos saudáveis. Capheus também era mais calmo, mas Kelenius desconfiava que a paternidade o tornou assim.
— Que motivo tão especial o obriga a tomar o meu uísque na cozinha da minha casa?
— Você sabe, querido, a nova inquilina da taverna — Marion falou antes de Kelenius.
A cunhada riu quando Kelenius lhe lançou um olhar de censura. Atreus, que mal sabia falar, deu uma gargalhada sem entender o que acontecia ao seu redor. O sobrinho de Kelenius se saiu como a mãe: sempre de bom humor, os mesmos cachos cor de mel, o mesmo sorriso, mas os olhos do pai.
— Já se passaram cem anos, Kelenius — disse Capheus. — Já está mais que na hora de esquecer essa garota e seguir sua vida.
Kelenius se limitou a bufar e servir-se de mais uísque. Odiava entrar nesse assunto com o irmão, porque ele não tinha tato nenhum. Às vezes se perguntava como Capheus conseguiu casar com alguém tão doce como Marion.
— Ela é sinônimo de problema, irmão. A vila está cheia de garotas bonitas que ficariam muito felizes se você ao menos as notassem. Há diversas jovens querendo se casar com você, cara — insistiu o mais velho.
— Você parece uma velha, Capheus — riu-se Kelenius. — Devia virar casamenteiro.
O mais velho revirou os olhos.
— Eu devia mesmo. Quem sabe assim eu acharia uma garota decente para você se apaixonar e esquecer de vez aquela garota.
— Porque se estressa tanto com isso? É problema meu — retrucou Kelenius.
Ele odiava discutir esse assunto com quem quer que fosse. Às vezes permitia-se abrir-se para Cassius, mesmo assim sentia vergonha de soar repetitivo para seu pai adotivo, embora o ancião sempre ouvisse pacientemente e nunca demonstrou qualquer sinal de desagrado.
— Sou seu irmão. Não é só Cassius que se preocupa com você, sabia?
— Tocante — ironizou o mais novo, dando outro gole na bebida.
— Você é muito teimoso, sabia? Se recusa a superar ela, se agarrando a uma esperança sem fundamento.
— Talvez eu já tenha superado ela — murmurou Kelenius, quase rindo da própria mentira.
— Você está bebendo na minha casa para não beber na taverna, onde ela está hospedada. Fica atrás dela ao invés de fazer seus deveres de Chefe da Guarda. Não me aposentei para você botar tudo a perder por uma garota que só nos traz problemas!
Kelenius pôs-se de pé, irritado.
— Colocar tudo a perder?
Capheus notou que foi longe demais. Kelenius se dedicava intensamente a proteger a vila, várias vezes quase deu a vida para protegê-la. Deu um olho, literalmente, para manter todos seguros.
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As Crônicas de Ravena - A Ascensão da Quimera
FantasyRavena e as Províncias Mágicas enfrenta um inimigo aparentemente invencível: Rogath, um híbrido determinado a assumir o trono e garantir a supremacia de sua espécie. O rei, Markus, sente que está fracassando na tarefa de proteger seus súditos e conv...