Encontrei Allyria tendo uma briga séria com árvores.
As árvores ao redor estavam tomadas por uma fúria homicida. Elas se balançavam como pêndulos, seus galhos pareciam cobras prestes a dar o bote. Suas raízes se projetavam da terra como tentáculos de um polvo com sede de sangue. Allyria tentava, de todas as formas possíveis, evitar que os galhos a pegassem. Ela usou água, fogo, ar e até mesmo plantas para contê-las, mas as árvores pareciam dispostas a matar a fada. Sua asa parecia em perfeito estado, como se nunca tivesse sido machucada. Ela voava com rapidez, sem demonstrar qualquer sinal de dor.
— Me ajude! — Exclamou Allyria ao me ver chegando — Elas estão loucas!
Uma das árvores notou minha presença e atacou. Brandi a espada tentando bloquear, mas outro galho arrancou Bellator das minhas mãos e arremessou-a longe. Bati o pé no chão com força e pilares de pedra se ergueram, sendo facilmente rompidos pelos galhos assassinos.
Uma massa disforme passou perto de mim, agarrada a uma árvore. Demorei a compreender que Tevior estava em sua forma lupina, os dentes cravados no galho, sendo balançado furiosamente.
Allyria fez chamas sair das suas mãos para se defender e conseguiu posar do meu lado, suada e assustada. Lancei dois feitiços de choque nos galhos que tentaram agarrar minhas pernas.
— Elas simplesmente me atacaram! — Grunhiu Allyria, frustrada.
Eu não conhecia muitas plantas que se comportavam dessa forma.
A floresta homicida partiu para cima de nós novamente. Tevior foi arremessado como uma marionete contra o tronco mais próximo, chocando-se e emitindo um ganido dolorido. Allyria novamente utilizou-se das chamas para se defender. Lancei um feitiço congelante em dois galhos, que se partiram em pedacinhos. Um feitiço de eletrocutar sacudiu uma árvore inteira, fazendo-a recuar. Mais pilares de pedra, dessa vez invocados por Allyria. Tevior partiu para cima das árvores de novo, dessa vez na forma humana, brandido duas espadas de lâmina larga.
Escudo, fogo, eletrocutar, congelar. Tudo de novo. Repeti isso várias vezes. O suor escorria pela minha testa, e nada da floresta querer amansar. A essa altura, Allyria já não conseguia mais invocar chamas decentes e quase caiu de joelhos quando pousou para respirar um pouco. Tevior se mantinha lutando, mas já estava só com uma espada, a outra tinha sido tirada dele.
Mais uma investida agressiva. Tentei me afastar, mas dessa vez senti um dos galhos se enrolar na minha cintura e me erguer no ar. O chão foi ficando mais longe, eu fui subindo mais alto, o ar fazia um barulho engraçado ao passar pelos meus ouvidos. Eu tentei me soltar, mas o galho estava firmemente enrolado na minha cintura. Tentei usar minhas unhas e minha magia, mas nada. Eu estava sendo arremessada por uma árvore assassina como um ioiô e poderia não escapar dali inteira. Sinceramente, essa missão estava indo de mal a pior.
Estava quase desistindo quando o galho afrouxou o aperto e me soltou. Um segundo de alívio logo substituído pelo desespero. Eu estava em queda livre. Estava caindo rapidamente rumo ao chão. Eu sinceramente preferia ser o ioiô de uma árvore furiosa. Fechei os olhos para não ver o chão chegando. Invoquei o limbo, que rapidamente me sugou. Só pensei em cair em um lugar seguro e macio.
Arfei quando algo gelado e líquido me envolveu. Abri meus olhos e eu estava debaixo d'água. Levei um susto, deixando o ar sair, mas não me afoguei. "Claro", pensei comigo mesma, "quimeras respiravam debaixo d'água". Parte sereias. Deixei-me flutuar por um momento, sentir a água contra minha pele.
Saí da água me sentindo bem melhor. As árvores ao meu redor ainda se mexiam, mas pareciam mais calmas, algumas já estavam imóveis. Quanto tempo eu fiquei dentro d'água? Precisava voltar onde estavam Allyria e Tevior, achar Arthan e dar o fora dessa floresta maluca. Só esperava que ainda estivessem vivos. Torci para o príncipe estar vivo e bem. Não podia perder meu acordo.
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As Crônicas de Ravena - A Ascensão da Quimera
FantasyRavena e as Províncias Mágicas enfrenta um inimigo aparentemente invencível: Rogath, um híbrido determinado a assumir o trono e garantir a supremacia de sua espécie. O rei, Markus, sente que está fracassando na tarefa de proteger seus súditos e conv...