— Qualquer criatura só pode consumir a poção por, no máximo, quinze anos, sem ter sequelas. Depois disso ela pode causar danos irreversíveis ao indivíduo — Arthan falava lentamente, como se eu portasse algum problema cognitivo.
Soltei uma risada meio maníaca. Allyria levantou a cabeça, parecendo meio assustada com o tom da conversa.
— Não seja tolo, Arthan, prisioneiros de Silver Coast não ficam apenas quinze anos lá — meu tom de voz era de quem explicava algo muito óbvio. — A Poção Infirmi é essencial para manter os prisioneiros lá dentro.
— Após os quinze anos da Poção, os presos são transformados em comunas. E se eles forem soltos, é só reverter o processo. A Poção deixa sequelas demais para ser usada a longo prazo.
Engoli em seco. Não, Arthan devia estar mentindo. Ele era apenas um príncipe, não tinha acesso a essas informações. Ele nem nunca se interessou pela Coroa, nem sequer reclamou a sucessão como rei, como teria interesse no sistema judiciário? Arthan era apenas um príncipe fracote metido a espertalhão.
E eu estava mentindo para mim mesma. Era de conhecimento geral que príncipes conheciam todo e qualquer detalhe do governo, já que aprendiam desde criança.
— Então, por que aplicaram a poção em mim durante cem anos? — Perguntei, amarga.
— Não sei, Atalya — Arthan pareceu hesitar demais antes de responder.
Uma vozinha no fundo da minha mente sabia a resposta: Markus. Ele devia ter ordenado pessoalmente aos guardas para que não parassem de aplicar a poção em mim e assim, meus poderes seriam extinguidos. Eu não seria mais uma ameaça a coroa. Era uma forma de vingança por quase destruir a monarquia corrupta que ele mesmo criou.
Senti o ódio corroer minhas entranhas. Desgraçado infeliz. Tomara que esteja morto e ardendo no fogo do inferno.
— Então isso significa que você não é mais uma quimera? — Perguntou Tevior.
Expirei bruscamente, imaginando minhas mãos arrancando as vísceras de Markus lentamente.
— Eu ainda sou uma quimera — pontuei. — Nasci assim, independente do que tenha acontecido.
— Mas está sem suas habilidades — rebateu Tevior.
A fala de Tevior também me fez lembrar que eu não estava bloqueando minha mente para a telepatia, mas não havia nenhum pensamento chegando a mim. Minha telepatia estava basicamente desligada. Eu me sentia cansada como nunca me senti. Estava machucada e fraca.
Senti vontade de gritar até minha garganta sangrar.
— Um bruxo não deixa de ser bruxo apenas porque não consegue usar magia — falei. — Se você não pode se transformar em lobo, não vai deixar de ser um lobisomem.
— O termo certo é licantropo — corrigiu-me Tevior. — Quimeras não descendem de outras quimeras, então se você descende de uma família de fadas, na verdade você é uma fada.
— Tevior, acho que você está um pouco equivocado — disse Arthan, educadamente, mas sua expressão claramente achava a fala dele um absurdo. — Quimeras nascem quimeras. Elas não têm um estágio de vida em que são a espécie de ascendência dos pais, apenas não expõem os poderes tão cedo.
— Quimeras verdadeiras podem ser assim — continuou Tevior — Não acho que Atalya seja uma quimera verdadeira.
— O que? — Minha voz saiu com um guincho.
— Quimeras eram guerreiros honrados que defendiam o nosso mundo. Você é uma garota, criminosa, com poderes pela metade. Não duvido de que tenha manipulado seu corpo para absorver poderes de outras raças.
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As Crônicas de Ravena - A Ascensão da Quimera
FantastikRavena e as Províncias Mágicas enfrenta um inimigo aparentemente invencível: Rogath, um híbrido determinado a assumir o trono e garantir a supremacia de sua espécie. O rei, Markus, sente que está fracassando na tarefa de proteger seus súditos e conv...